Cearense denuncia falta de remédio vital para hipertensão pulmonar
O medicamento Selexipague pode chegar a R$ 28 mil. Diagnosticada na infância, Rosana Moura afirma que já começou a racionar doses
Aos 2 anos de idade, o diagnóstico de hipertensão pulmonar (HP) apareceu na vida da psicóloga Rosana Moura, hoje com 31 anos. O tratamento da condição, que aumenta a pressão sanguínea nos pulmões, é mantido com o uso de determinados medicamentos — um deles, o Selexipague, teve pausas prolongadas na distribuição.
Após sentença da Justiça Federal, o fármaco Selexipague começou a ser fornecido em janeiro de 2024. A decisão determinou a responsabilidade da União e do Estado do Ceará, por meio dos respectivos órgãos executores do Sistema Único de Saúde (SUS), mas Rosana afirma ter parado de receber o medicamento em setembro do mesmo ano.
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“Começaram a dizer que estava em processo de compra”, relembra. “Passou outubro também em processo de compra, passou novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março… Quando foi em abril, me falaram que tinham três (caixas) que eu poderia ir buscar”.
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A psicóloga ressalta que a quantidade fornecida não era suficiente para o seu tratamento e que mal alcançava os 30 dias. Mesmo assim, decidiu buscar o remédio, considerando o alto valor do Selexipague, que pode chegar a R$ 28 mil.
Em maio e junho, a distribuição do medicamento foi interrompida mais uma vez. “Era para receber esse medicamento de setembro, outubro, novembro, até agora junho, porque se ele faltar, é risco de morte”, lamenta.
Quando recebeu o Selexipague, em janeiro de 2024, Rosana revela que já tinha receios de uma potencial falta. Para se prevenir, passou a tomar as doses de forma econômica, motivo pelo qual conseguiu se manter nos últimos meses, sem internação, embora o risco permaneça.
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou em nota que abriu dois processos de compra do medicamento Selexipague, mas não tiveram êxito. "A primeira licitação não teve apresentação de interesse de empresas. A segunda, houve empresas interessadas, mas nenhuma delas atendeu aos requisitos para a compra", diz.
Outro processo de licitação foi aberto e está em andamento. A secretaria ressaltou que a licitação cumpre o processo legal para aquisições no serviço público.
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Falta de remédios vitais: outro medicamento, Bosentana, foi recebido hoje
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), cerca de 2 milhões de brasileiros vivem com a hipertensão pulmonar. Do total, 100 mil têm hipertensão arterial pulmonar (HAP) e necessitam de tratamento específico.
"Pra gente é muito angustiante vê-la preocupada, vê-la se mobilizando, passando e-mail para todo lugar, tentando, de toda forma, chamar atenção", lamenta Patrícia Moura, irmã de Rosana. "Falta realmente atenção para com essas pessoas que silenciosamente estão morrendo, porque a hipertensão pulmonar é uma doença silenciosa".
Outro medicamento utilizado pela psicóloga é o Bosentana, usado desde 2008. O fármaco auxilia na abertura para a passagem do sangue, mantendo a pressão estabilizada, e foi recebido nesta quarta-feira, 18, com um dia de atraso.
“A Bosentana também teve uma falta em 2022. Foi tão grande que eu tive esse mesmo problema”, comenta Rosana. “O remédio que eu tinha em casa era muito pouco e precisei fazer uma campanha gigantesca para que pudessem me arranjar R$ 6 mil para comprar o medicamento na época”.
Rosana recebeu o aviso de que o Bosentana estava em falta na terça-feira, 17. Ela pretendia aguardar os 30 dias indicados para o retorno, mas recebeu o aviso de um amigo sobre a disponibilidade do remédio nesta quarta-feira. Com a informação, a mãe da psicóloga tentou novamente e conseguiu a medicação (apenas o Bosentana) para a filha.
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