Encontro reforça acolhimento e conscientização das famílias para doação de órgãos no Ceará

IJF registrou um aumento de 18% na taxa de adesão dos familiares nas doações de múltiplos órgãos de janeiro a agosto deste ano, com 85% da taxa de adesão das famílias

O 11º Encontro das Famílias Doadoras do Instituto Doutor José Frota (IJF) foi realizado nesta quarta-feira, 20, no hospital localizado em Fortaleza. O momento celebrou a memória dos doadores e a solidariedade das famílias que autorizaram as doações dos órgãos de parentes. O encontro também reforçou a importância do acolhimento das equipes médicas no contato com as famílias como forma fundamental para a adesão das doações.

O IJF registrou um aumento de 18% na taxa de adesão dos familiares nas doações de múltiplos órgãos de janeiro a agosto deste ano, com 84% da taxa de adesão das famílias. No mesmo período no ano passado, o percentual era de 71%, conforme informou a coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott/IJF), a enfermeira Aline Braga.

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Neste ano, de janeiro a agosto, o equipamento realizou 146 captações de órgãos para transplantes. Em 2022, o quantitativo foi mais de 250 durante todo o ano. Um dos efeitos do aumento das taxas de adesão está relacionado ao processo de acolhimento com as famílias por meio das equipes, após constatação dos óbitos dos parentes.

O esclarecimento das informações e o acompanhamento sobre o processo, além do respeito ao luto estão entre medidas que ajudam a família a tomar a decisão da doação dos órgãos.

“Todo o acolhimento, desde quando o paciente passa pela porta da emergência, impacta na decisão da família, se tudo que poderia ter sido feito por ele, se a família recebeu as informações necessárias, se teve afeto ao seu paciente, tudo isso impacta na hora de decidir, principalmente a maneira como eles vão receber a comunicação dessa morte. Muitas vezes, o que fica mais presente não é o que é falado, mas como é falado. A comunicação é essencial nessa decisão”, explica Aline.

Para que a doação ocorra, é preciso que o paciente tenha morte encefálica, geralmente vítimas de mortes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral), confirmada. Após a confirmação do diagnóstico, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott/IJF) é notificada e a família consultada para saber do consentimento para a doação de órgãos.

Além de celebrar a memória dos doadores, o evento celebrou o Setembro Verde de promoção da conscientização das pessoas sobre a importância da doação como uma ação que salva vidas.

“Quase 60 mil pessoas estão na fila de espera aguardando um fígado, rim, coração, pulmão e córneas. A taxa de recusa no primeiro semestre de 2023 foi de 46%. No Ceará, foi de 45%. Nós precisamos que as famílias se conscientizem”, comenta o médico e ex-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Huygens Garcia.

Ainda segundo Garcia, o objetivo principal do Setembro Verde é salvar vidas e destaca o aumento da taxa de adesão das doações no Estado. “Tem conseguido uma taxa de recusa familiar muito mais baixa do que a média nacional. Os grandes heróis são os doadores porque, no momento da dor, abriram o coração e doaram os órgãos”, pontua o médico.

A cabeleireira Ana Lúcia Fernandes, 58, conta que retornou ao IJF para o encontro após a morte do seu filho, de 26 anos, vítima de morte cerebral há um ano e sete meses. Ela conta que era um desejo dele ser um doador. "Tenho certeza que ele está feliz pois deixou sete órgãos. Espero que todos que tenham recebido estejam bem”, comenta.

Para ela, apesar da dor ser muito grande e a saudade ainda muito presente, sente-se grata por ter ajudado a salvar vidas por meio da doação. “Doar é muito importante, saber que você está dando a visão para alguém, possibilitar alguém respirar é dá uma nova vida”, destaca.

Rejane Moura, 38, perdeu o sobrinho de 20 anos, Felipe Costa, de uma forma “trágica” há dez meses. Ela conta que nunca não tinha consciência sobre a importância da doação de órgãos até ser acolhida após a morte do sobrinho.

“Foi um choque fazer a doação, mas graças a Deus foi feita. Várias vidas foram salvas. No dia foi um baque pois ele era um menino jovem, saudável e a dor da saudade ainda é grande, mas a gente sabe que ele está vivo em outras pessoas”, comenta.

Há um ano e sete meses, Guilherme Silva, de 10 anos, teve morte cerebral após sentir uma forte dor de cabeça. A estudante Celeste Vieira, 23, prima da criança, cita que foi um momento de dor, mas que, hoje, sabe da importância da doação. “Hoje ele vive em outras pessoas”, cita.

Ela destaca que o hospital foi acolhedor e que foi essencial para a decisão. “A equipe apoiou a família, tiveram compaixão com a situação e foram muito acessíveis, souberam explicar e aconselharam que era a melhor opção”, pontua.

De acordo com a médica Raquel Sampaio, do Cihdott/IJF, os órgãos doados no IJF são posteriormente transplantados em outras unidades de saúde, não só do Ceará, mas de todo o Brasil. Ela explica que as instituições podem ter Cihdotts para controlar esse processo.

“Somos um centro grande de captação, mas não temos uma gerência responsável para quem vai o órgão captado, ou seja, qual equipe porque isso fica a cargo da Central Estadual de Transplantes”, explica.

Nova vida

O membro da Associação dos Pacientes Renais do Ceará (Asprece), Izaias de Jesus, 54, comenta que passou 18 anos fazendo hemodiálise após os dois rins pararem devido ao caso de pressão alta. O transplante para receber um novo órgão veio em agosto de 2020. “Dos três anos para cá, é outra vida. Hoje, eu tenho outro pensamento. E hoje eu tenho uma nova vida, com nova data de nascimento”, comenta.

Ainda segundo o transplantado, o principal desafio enquanto aguardava o um novo órgão foi lidar com a saúde mental. "Eu trabalhei muito nessa parte do psicológico. Enquanto você não transplanta, você fica desabilitado, você acha que não tem força para mais nada. Eu queria morrer porque eu achava que a vida tinha acabado. Só que agora, eu vejo que a vida está só começando", ressaltou.

No Ceará, até o dia dez de agosto, já foram realizados 971 transplantes. Em 2022, o Estado realizou 1.675 procedimentos. Para ser um doador não é necessário deixar nada registrado por escrito. Quem deseja ser um doador, basta comunicar à sua família sobre o desejo. A doação de órgãos só acontece após autorização familiar.

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