Feira sobre cannabis medicinal atrai curiosos, pacientes e ativistas em Fortaleza

Evento ocorreu no calçadão do Parque do Cocó, neste domingo, 27, e trouxe diversos expositores e serviços

"Ele olhou mais pra mim, começou a me notar mais. Ele não me olhava no rosto. Você sabe o que é isso pra uma mãe?". O relato é da fisioterapeuta Gunda Coelho sobre como o seu filho de 7 anos , diagnosticado com uma síndrome, melhorou após uso da cannabis (maconha) medicinal. Outras dezenas de histórias desse tipo se cruzaram durante a 1° edição da Feira Cannabica do Ceará, neste domingo, 27, em Fortaleza. Evento reuniu ativistas, curiosos e pacientes – muitos desses acompanhados das famílias.

Ação aconteceu no Dia da Maconha Medicinal e foi realizada em alusão à data. Uma tenda foi colocada em parte do calçadão do Parque do Cocó e diversos expositores foram instalados com venda de produtos, de acessórios e até uma barbearia. Também houve bingo e sorteios.

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine

Quem entrava no espaço enquanto ouvia a música que ecoava das caixas de som e observava os diversos serviços também consumia informação sobre o uso benéfico da cannabis no tratamento de doenças. Ativistas distribuíam adesivos e davam orientações sobre o assunto.

"A gente está surpreso, mas também muito feliz com o resultado. A cannabis medicinal já andou, a gente sabe que ela é segura, são mais de 50 anos de estudo. Então, este é o momento mesmo em que a gente está distribuindo informação e deixando (o tema) um pouco mais próximo da população", conta Elaine Carvalho, uma das organizadoras.  

FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Elaine Carvalho, marcha da maconha. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO)
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Elaine Carvalho, marcha da maconha. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)

Foi justamente em busca de informação sobre o tema que Erica Brasil, 47, esteve no evento. A fisioterapeuta estuda o uso dos canabinoides (substância extraída da maconha) para tratar dor crônica e queria ver como a substância está sendo comercializada. "Tem saído cada vez mais pesquisas a respeito, e a aceitação (popular) tem aumentado", frisa.

A curiosidade também levou Carolina Carvalho, 21, ao local. Ela soube do evento por meio do Instagram e marcou presença ao lado do namorado, que faz uso do óleo da cannabis para tratar da ansiedade. "Eu fico curiosa pelo uso, porque eu leio muito artigo falando sobre como (a cannabis) está ajudando pessoas com doenças como Alzheimer. Acho muito interessante", conta a estudante. 

Pacientes ganharam apoio de familiares

Entre os transeuntes que entravam e saiam do espaço não estavam só curiosos. Muitas pessoas que fazem uso da substância de forma medicinal foram à feira para reforçar, por meio da própria história, a importância do uso de remédios com a substância. Como suporte, foram com familiares.

"É um momento que os pacientes estão utilizando para se reunir junto com os familiares, ativistas, médicos, profissionais do Direito, de varias áreas. Está tendo esse diálogo hipersetorial para tentar reunir força em aprovar o projeto em favor da cannabis", conta Lucas Perdigão, um dos organizadores. 

Lucas Mateus, 31, foi diagnosticado com epilepsia e crise de dor crônica aguda há cerca de cinco anos. Ele chegou a tomar remédios convencionais para tentar melhorar a qualidade de vida, porque só conseguia dormir três horas por dia, mas acabou ficando dependente das medicações. Em 2017, ele juntou dinheiro, junto da família, para ir ao Uruguai, e lá conheceu os benefícios da cannabis medicinal.

"Afetava minha família, afetava meu trabalho, afetava minha vida em geral. (Usar a Cannabis) Mudou a minha vida, eu acho que o principal objetivo da feira é trazer informação pras pessoas. A gente viu a necessidade de conversar com as pessoas para quebrar os paradigmas", afirma o fiscal de obras, integrante da feira.

Ele foi acompanhado dos filhos e da esposa, que vivenciaram de perto sua melhora. Toda a família foi vestida com a blusa da ACura, associação de apoio a pacientes da cannabis medicinal.

FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Família Mendes Souza. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO)
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Família Mendes Souza. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)

Quem também levou a família ao evento foi Uirá Porã, 36, que utiliza a cannabis de forma terapêutica há cerca de três anos. Junto da esposa, Geciola Fonseca, ele andou no meio dos expositores ao lado dos filhos, dois garotos de 5 e 3 anos, mostrando a eles as plantas e a conexão com a natureza.

"Eu acho que o mais legal dessa feira é as pessoas saírem dessa realidade (de preconceito). É muito massa chegar aqui e ver gente de todo tipo, criança, idoso, interagindo e aprendendo. Meus filhos eu educo pra não ter nenhum tipo de preconceito", frisa.

Quem também ganhou o apoio da família foi o pequeno Antônio Levi, de 11 anos, que foi levado ao local pelos pais. Ele tem o diagnóstico de uma síndrome que o faz ficar agitado e atrasa o seu desenvolvimento. Segundo a mãe da criança, Gunda Coelho, 40, o médico que o atendia se recusou a receitar cannabis medicinal, e a receita veio só em agosto deste ano, por meio de outra profissional.

"Ele tem agitação, atraso na fala, na marcha, mas agora ele está aprendendo a andar. Ele ainda não fala, se comunica da forma dele", conta a fisioterapeuta, relatando ainda o quanto seu filho melhorou após uso de remédio à base da substância.

"Ele olhou mais pra mim, começou a me notar mais, coisa que meu filho não fazia. Ele não me olhava no rosto. Você sabe o que é isso pra uma mãe de uma criança especial? Mudou muito, mudou muito."

FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Gunda Coelho, 40, fisio Antônio Levi, onze anos, Antônio Florêncio, 34, autônomo. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO)
FORTALEZA, CEARA, BRASIL, 27.11.22: Gunda Coelho, 40, fisio Antônio Levi, onze anos, Antônio Florêncio, 34, autônomo. 1° feira canabica de Fortaleza, no Parque do Coco. (Aurelio Alves/ O POVO) (Foto: AURÉLIO ALVES)

Uso da cannabis medicinal no Brasil passou por impasses

Neste ano também ocorreu a Marcha da Maconha, evento que acontece anualmente há pelo menos 15 anos. Diferente da feira, contudo, ação tem caráter de "denúncia", conforme frisa Elaine Carvalho, que é ainda uma das organizadoras da Marcha.

A feira acontece após o Brasil ter vivido um impasse recente a respeito do assunto. Isso porque, em outubro deste ano, o Conselho Federal de Medicina (CFM) limitou o uso da cannabis medicinal para o tratamento exclusivo de casos da epilepsia em crianças e adolescentes no Brasil.

O fato gerou manifestações por parte de entidades e pacientes, que se mobilizaram para pedir ao órgão que revesse a medida. Cerca de duas semanas depois o conselho voltou atrás na decisão e suspendeu norma.

"Foi uma estratégia política e que já está superada. Em todo o cenário internacional há uma inciativa de reconhecer a eficácia da cannabis", dispara Lucas Perdigão, organizador da feira.

Confira fotos do evento: 

 

 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Feira Cannabica do Ceará cannavbis medicinal maconha medicinal uso terapeutico cannabis parque do cocó

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar