Fé pentecostal: Assembleia de Deus em Fortaleza completa 100 anos da fundação
Primeiros cultos em Fortaleza eram realizados em uma casa de farinha, localizada em um sítio no bairro Cocó
O maior movimento evangélico no Ceará, vinculado à Igreja Assembleia de Deus, completa em 2022 os 100 anos de fundação em Fortaleza. De acordo com o último resultado do censo do IBGE, realizado em 2010, estima-se que o número de fiéis no Ceará que possuem ligação com a Assembleia de Deus (AD) esteja em torno de 100 mil. Atualmente, segundo o atual presidente da AD Cidade, em Fortaleza, Hilquias Benício, o número de fiéis somente na Capital já chega a 300 mil.
A Assembleia de Deus chegou ao Brasil em 1910 por intermédio dos missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que aportaram em Belém, capital do Pará. Os missionários suecos traziam a doutrina do pentecostalismo, movimento que dá ênfase a uma experiência direta e pessoal com Deus através do Batismo no Espírito Santo, sendo uma das principais características a glossolalia, que é o falar em línguas espirituais.
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O movimento pentecostal, que conta com diversos templos adeptos espalhados por todos os bairros da Cidade, foi fundado oficialmente em Fortaleza no ano de 1922. Antes disso, contudo, já surgiam pequenas movimentações de fiéis no Ceará, mais precisamente no município de Itapajé, sendo o segundo estado brasileiro a receber a mensagem da fé pentecostal.
Foram os irmãos cearenses João Luís e Luís Santana que, vindos de Belém já fiéis na fé protestante, vieram ao Ceará para compartilhar o evangelho com seus parentes que moravam no Sítio Tunga, no atual bairro do Cocó. Ali, a dupla residiu por alguns meses e cativou os primeiros fiéis pentecostais da Capital, realizando cultos em uma casa de farinha.
Primeiro congregação se localizava em sítio no Cocó
Ao retornar a Belém, os irmãos Santana relataram os feitos no Sítio Tunga aos missionários Daniel Berg e Gunnar Vingren, os precursores da AD no Brasil. Com os bons resultados alcançados, foi enviado para Fortaleza o pastor Antônio Rêgo Barros, para dar continuidade ao trabalho de evangelização. Por problemas de saúde, contudo, o missionário logo deixa a Capital e, em 1923, é substituído por Bruno Skolimowski. Foi ele que, em julho do mesmo ano, realizou o primeiro batismo nas águas em Fortaleza.
Em 1928, Antônio Rêgo Barros volta para a cidade e oficializa a fundação da primeira igreja Assembleia de Deus. A unidade foi inaugurada no dia 07 de setembro, na Rua Santa Terezinha, 146, no bairro Arraial Moura Brasil. Em maio de 1942, foi inaugurado o templo que se tornou a sede até os dias atuais da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Templo Central (IEADTC).
Livro em homenagem ao centenário, escrito por Guilherme Castro
Essas e mais informações foram reunidas pelo professor Guilherme Castro, 31, que, em comemoração ao centenário da vertente protestante na Capital, elaborou o livro “100 anos de Assembleia de Deus em Fortaleza - Uma breve história de Azuza ao Sítio Tunga Cocó”. “Até então, todos os registros contando a história [da AD] no Ceará e em Fortaleza eram fragmentos, não tinha uma linha cronológica. A gente não tinha algo que relatasse o crescimento da igreja e de suas ramificações. Porque hoje a gente pensa na AD e percebe várias ramificações, mas tudo saiu de uma mesma igreja, lá em 1922”, explica o autor.
O livro será lançado oficialmente no sábado, 19, durante celebração na igreja AD Cidade (Av. Conselheiro Gomes de Freitas, 3188). A unidade fará quatro noites de cultos festivos abertos ao público. A cada dia, um aspecto do lema que marca a Assembleia de Deus ao longo deste século terá destaque nas canções, mensagens e orações: Jesus Cristo Salva (dia 19), Cura (20), Batiza com o Espírito Santo (21) e Em Breve Voltará (22).
100 anos de fé
As Assembleias de Deus têm como premissa a obra de Jesus Cristo como um redentor, além de encarar o sobrenatural e o natural como forças que se interligam. “Para a gente, comemorar os cem anos de fundação em Fortaleza é reafirmar isso para a geração presente, para gerações futuras, que o sobrenatural está ao nosso alcance”, afirma Hilquias Benício.
O jovem João Filho, 25, é um dos integrantes da nova geração de crentes que integra a AD. Ele conta que, apesar de ter nascido em uma família evangélica adepta a vertente da AD, só se interessou pelos assuntos espirituais a fundo aos 15 anos. “Foi uma decisão que eu tomei repentinamente. A gente sabe que não é a religião que nos leva perto de Deus, é a pessoa de Cristo. Só que eu comecei a sondar algum tipo de fé ou algum tipo de religião que me levassem um contato mais profundo com Deus”, relata.
Atualmente, João Filho é missionário da vertente protestante. “A função de missionário foca mais nessa questão social. A gente faz, desde 2015, projetos dentro das comunidades aqui em Fortaleza para reintegrar pessoas à sociedade, tirar pessoas das drogas e entregar cestas básicas, por exemplo”, explica o fiel. Para o jovem, comemorar os 100 anos da Assembleia de Deus também é comemorar a história do Ceará, como também do Brasil.
Organização
O presidente da AD Cidade em Fortaleza explica que a vertente se configura em um grupo de igrejas autônomas, mas vagamente associadas. "A AD não tem uma liderança nacional. Elas são igrejas que estão ligadas fraternalmente com um certo nível de liberdade, de autonomia administrativa, e que partilham do mesmo credo", explica o pastor Hilquias Benício.
As Igrejas Assembleias de Deus se organizam em Convenções, sociedades civis que tem a finalidade de coordenar as igrejas. Atualmente, existem três convenções nacionais, todas elas com representações no Ceará: a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil); CONAMAD (Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil) e a CADB (Convenção da Assembleia de Deus no Brasil)
Pastor Hilquias explica que muitas igrejas atuais surgem de forma semelhante ao período do princípio da vertente pentecostal. "As AD surgem quando alguém se muda para uma região que ainda não tem a Assembleia de Deus. Assim, essa pessoa pode sentir o desejo de compartilhar a fé. A chegada de pastores para aquele grupo formaliza o início daquela igreja. Isso já é mais raro, porque hoje a AD está em praticamente todos os município", expõe.
De acordo com o pastor, após a fundação da igreja, o grupo passa a ser reconhecido como ponto de congregação. Com a chegada de mais fiéis, o agrupamento se torna uma congregação. "A medida que cresce, ela pode deixar de ser uma congregação, uma igreja que está ligada à igreja sede. Essa congregação pode ter autorização de autonomia e se tornar uma igreja Matriz".
As igrejas matrizes (ou sedes) podem possuir dezenas ou centenas de templos. Cada igreja sede tem uma diretoria e estatuto próprios. Em Fortaleza, existem cinco matrizes da AD associadas à CGADB::
- AD Cidade
- AD Templo Central
- AD Bela Vista
- AD Montese
- AD Fortaleza