Monumentos históricos de Fortaleza não são catalogados pela Prefeitura
De acordo com a Secultfor, processo de catalogação de monumentos e esculturas em vias e praças públicas da Capital ainda será iniciado
Quem anda pelo Centro de Fortaleza pode não se dar conta da oportunidade de ter um encontro com memórias. A conexão entre passado e presente é feita por meio de diversos monumentos históricos, que podem estar entre os mais antigos da Capital.
Oficialmente, o município de Fortaleza não possui um levantamento que aponte quais seriam os monumentos mais antigos da Cidade. Por meio de nota, a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) afirmou que "iniciará, em breve, um processo de catalogação de monumentos e esculturas em vias e praças públicas da Capital".
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Ainda conforme a nota, o intuito do levantamento será o fornecimento de dados e estudos técnicos para elaboração de políticas públicas de proteção e salvaguarda dos bens.
Por outro lado, a história da Cidade é rememorada pelo professor Romeu Duarte, especialista em patrimônio histórico-cultural, lotado no departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC). O especialista aponta que a definição de um monumento é bastante ampla e aponta dois casos distintos.
"Temos o que é construído para ser um objeto de rememoração de alguém ou de um fato, temos muitos em Fortaleza. Também os monumentos históricos, que não foram construídos com tal função, mas que, com o passar do tempo, acabam se transformando, é o que acontece com muitos edifícios antigos", relata.
Dentre os monumentos construídos em Fortaleza com o intuito de rememoração, Duarte aponta aqueles tidos como os mais antigos, sendo eles: a estátua de General Tibúrcio (1888) na Praça dos Leões; o monumento ao General Sampaio (1900) no comando da 10ª Região Militar; a estátua de D. Pedro II (1913), próximo à Catedral; o monumento Cristo Redentor (1922), em frente ao Centro Dragão do Mar; e a escultura de José de Alencar (1929), na praça do mesmo nome. Todos no Centro de Frotaleza.
Centro abriga monumentos mais antigos
Em pouco menos de uma hora, é possível fazer uma caminhada pelo Centro, contemplando os monumentos tido como mais antigos da cidade. Caso o ponto de partida escolhido seja a Praça José de Alencar, que abriga a estátua do escritor que dá nome ao local, o monumento pode ser apreciado a partir da sombra das árvores.
Mesmo com as pichações na base da estátua e o letreiro desgastado, a cor dourada da obra se destaca entre o verde da folhagem. A pequena Mariana Bandeira, de apenas seis, ficou encantada com a cor vibrante.
"Ela me pediu pra ver, o dourado chamou a atenção dela, é o que mais de destaca. Pena que está um pouco pichado, mas o espaço tá lindo", afirma Solimar Franco, 78, avó de Mariana.
A próxima parada fica a cerca de 800 metros, na Praça General Tibúrcio, popularmente conhecida como Praça dos Leões. Nela, está situado o monumento tido como o mais antigo da Cidade. A estátua foi construída em homenagem ao general que morreu em combate durante a Guerra do Paraguai, que durou seis anos, entre 1864 e 1870.
A estátua apresenta um bom estado de conservação, é o que avalia Nacélio Sabino, 53, que admirava, de um dos bancos da praça, o contraste entre a obra e as flores amareladas de um grande Ipê enraizado na praça.
"Ela tá bem cuidada, só o local, como um todo, que poderia ter uma graminha. Poderia ser um ponto turístico, pro pessoal passar aqui e saber quem é", opina.
A caminhada pelo Centro segue até a Praça da Sé, localizada nas proximidades da Catedral. O equipamento abriga a estátua de D. Pedro II, que, atualmente, só pode ser contemplada a distância, já que o equipamento está cercado por tapumes devido à implementação da linha leste do metrô de Fortaleza.
O próximo ponto histórico está em uma das entradas do Comando da 10ª Região Militar. A escadaria de acesso está localizada na avenida Alberto Nepomuceno, onde já é possível visualizar a estátua em homenagem ao cearense General Sampaio, outro militar brasileiro morto durante a Guerra do Paraguai, fato que culminou na construção da obra em sua memória.
Por fim, o tour histórico é finalizado a cerca de 600 metros dali, na Praça Cristo Redentor, onde há uma torre em referência ao centenário da Independência do Brasil. O pilar leva o mesmo nome da praça e, apesar de não apresentar nenhuma avaria estrutural, diversas pichações estão espalhadas por toda a obra.
Concepção de monumentos
Para Gleudson Passos, professor do curso de História da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a definição de um monumento vai muito além do que é constituído pelo poder público, seja ele municipal, estadual ou federal.
"Geralmente, os monumentos são atribuídos a objetos físicos como estátuas. Mas a sua dimensão em termos de impacto, sentimento e representatividade, é maior do que um objeto físico", explica.
Na avaliação de Passos, muitos monumentos não recebem o tratamento adequado. "Muitos dos nossos monumentos são invisibilizados, mesmo tendo uma grande relevância histórica para a Cidade, justamente pela falta de cuidado com essa memória".
O especialista finaliza afirmando que monumentos não são apenas obras físicas. "Existem os dinâmicos, como a gastronomia, que encontramos em mercados como o Central e o São Sebastião. Alimentos como a buchada e o sarrabulho também podem ser entendidos como monumentos", finaliza.
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