Ex-chefe de facção conta sobre o CV no Ceará

|Preso, ele conta sobre fatos como o processo de expansão do Comando Vermelho no Estado e faz um apelo para que jovens não entrem no mundo do crime

Um homem que exerceu posição de chefia na facção Comando Vermelho (CV) conversou com O POVO e revelou bastidores da organização criminosa, como a expansão do grupo no Estado em meados de 2015. Ele pediu para não ter a identidade revelada e fez um apelo a quem pensa em enveredar pelo mundo do crime. "Dou o meu testemunho de que o crime só atrai sofrimento, para si e para os familiares", afirma.

João, nome fictício com o qual será identificado nesta matéria, está atualmente recolhido em uma unidade prisional do Estado. Ele diz ter deixado o CV e abandonando de vez as atividades criminosas. João concedeu a entrevista por escrito, a partir de perguntas enviadas por O POVO através do seu advogado, que também pediu para não ser identificado.

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João teve um importante papel no processo de expansão de "batismos" do CV no Ceará em meados de 2015, conforme informações de inteligência das forças de segurança apuradas por O POVO. João confirma a informação e diz que ingressou no CV a convite de "líderes nacionais" da facção, com o objetivo de "fomentá-la" no Ceará.

A expansão, ele diz, se deu "no contato boca a boca". Conforme afirma, o objetivo era proporcionar "melhorias" aos internos do sistema penitenciário, assim como melhorar as condições de vida de seus familiares e até mesmo de comunidades carentes.

Isso não ocorreu, conforme diz. "Todavia, a organização, infelizmente tomou rumo contrário, atendendo, sobretudo, interesses pessoais de alguns membros". Foi justamente por "não concordar com os rumos tomados pela organização" que João deixou o CV, conforme conta. A expansão da facção despertou, ele diz, "interesses pessoais, briga por dinheiro e poder" e "matança desgovernada de pessoas inocentes".

João conta ter deixado o CV em 2017, mesmo ano em que o número de homicídios chegou a um patamar recorde: 5.133. A guerra sem precedentes ocorreu após uma "pacificação" declarada pelas facções. Em 2016, em diversas manifestações ocorridas em várias localidades do Estado, integrantes e simpatizantes de facções foram às ruas anunciar a união entre os grupos. O movimento foi acompanhado de uma redução no número de homicídios, o que não era reconhecido pela então gestão da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

João atribui a quebra do pacto entre as facções a pessoas "sem espírito de coletividade assumiram" que assumiram o comando da facção. "Enquanto estive na facção o discurso e o desejo sempre foram de paz", afirma. "Quando tinha cargo de liderança sempre dialoguei com os líderes de facções rivais, tentando estabelecer a paz no Estado".

Da mesma forma, em 2021, ocorreu um racha dentro do CV, que gerou inúmeros homicídios, incluindo as chacinas de Boqueiras das Araras e Sapiranga, que deixaram cinco mortos cada. Os revoltosos passaram a se denominar "Neutros" ou "Massa Carcerária".

João conta que, já antes disso, uma outra organização teve criação ventilada por parte de três lideranças do CV recolhidas em presídios federais. A "Lost", como foi chamada, ganhou esse nome justamente como referência aos "esquecidos" pela facção nos presídios federais. Entretanto, a ideia, segundo João, não foi para frente.

João conta que deixou a vida do crime e se converteu aos "ensinamentos cristãos", buscando uma nova "recomeçar pelo estudo" e "pelo trabalho honesto". E é esse o caminho que agora ele recomenda, sobretudo, aos jovens. "Milhares de jovens todo dia se enganam com a ilusão gerada pelo crime. Possibilidade de riqueza fácil e aquisição de poder emergente. O crime, assim como Satanás, ilude aqueles que ainda não têm a espiritualidade totalmente desenvolvida", afirma.

"Hoje pago minha pena, pago pelos meus erros e anseio uma vida nova longe do crime, perto de Deus e da minha família. Acreditem, ensinamentos cristãos restauram os corações humanos".

 

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