Mucuripe da Paz: grupo se mobiliza para investigar impactos da pandemia na vida de jovens

Pesquisa que reúne dados básicos sobre idade, bairro e questões centrais ao contexto da pandemia para os jovens, como escolaridade, acesso à internet e saúde mental

“Tive que ver muita gente passando fome, e algumas pessoas que eu gostava morrendo”; “A ansiedade atacou como nunca, isso prejudicou muito minha relação com as pessoas”; “As coisas ficaram mais difíceis, e eu acabei deixando a escola”. Estes trechos falam de fome, perdas de entes queridos, adoecimento mental e evasão escolar. Sabe o que eles têm em comum? Fazem parte de depoimentos de crianças e adolescentes do Grande Mucuripe, em períodos de enfretamento à Covid-19 nas comunidades locais.

A coleta dos relatos foi feita por mobilizadores sociais dispostos a investigar os impactos da pandemia na vida de crianças e adolescentes de Fortaleza. Estes jovens realizaram uma pesquisa quantitativa e qualitativa intitulada "Infância, Adolescência, Juventude e Pandemia no Grande Mucuripe”. 

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Anna, Breno, Danielly, Mário, Pedro, Raquel e Yago são os pesquisadores. Durante os meses de julho a setembro de 2021, os sete e a assessora comunitária, Evelyne Lima, realizaram a pesquisa para mapear as condições de vida de outros jovens nas comunidades próximas.

A expectativa é que, a partir dos resultados, a sociedade possa escutar mais as crianças, os adolescentes e os jovens - do Grande Mucuripe e de toda a Cidade. “A pandemia tem deixado muitas marcas em nossas vidas e elas precisam ser devidamente cuidadas. Somos prioridade absoluta e queremos que nossas vidas sejam respeitadas. Ainda queremos ser livres!”, finaliza a mensagem deixada pelos jovens pesquisadores do projeto Mucuripe da Paz, coordenado pelo Instituto TDH Brasil (Instituto Terre des Hommes).

Saúde mental, evasão escolar e acesso à internet

 

Ao todo, 100 pessoas responderam a pesquisa. O trabalho reúne dados básicas, como sobre idade e endereço, e também informações sobre alguns contextos da pandemia, como escolaridade, acesso à internet e saúde mental dos entrevistados.

Segundo o levantamento do grupo, 36 das 100 pessoas participantes da pesquisa tiveram a saúde mental atingida de alguma forma na pandemia. “Com o confinamento e sem sair muito de casa, passei a ter medo de morrer ou de perder algum familiar", afirma um jovem que também relatou que o desespero foi intensificado por causa do desempregado da família: "Com meus pais desempregados, e sem uma coisa certa [trabalho fixo]".

A evasão escolar é apontada em um alguns dos depoimentos: “Não estou tendo aula por estar sem celular” e "As coisas dificultaram, e acabei deixando a escola, mas quando voltar as aulas presenciais, eu irei voltar. Quero muito”. Um outro contou que precisou parar de de frequentar as aulas para trabalhar: “Eu não estou estudando. Por causa da pandemia, eu tive que parar os estudos para trabalhar”, lamentou. 

Já na questão referente as formas de acesso à internet, 71% dos participantes afirmaram ter apenas o celular como meio de acesso aos conteúdos online e 13% tem duas formas de acesso, que variam entre celular, tablet, notebook, computador de mesa ou outros.

Protagonismo juvenil

 

Segundo a educadora Evelyne Lima, o exercício dos adolescentes entrevistadores foi feito para fortalecer o trabalho de protagonismo juvenil no Grande Mucuripe: “Quando há jovens conversando entre si, a possibilidade de integração e fortalecimento dos papéis de referência é maior", comenta. "Não se trata de uma pesquisa de grande magnitude, nem de cunho científico rigoroso, mas a pesquisa de campo se propôs a entender como estão as crianças, adolescentes e jovens dentro da comunidade."

Um dos participantes do projeto Mucuripe da Paz, Yago Saldanha, observa que os jovens são “esquecidos” nestas investigações. O morador do Vicente Pinzón defende a importância da pesquisa realizada pelos próprios jovens: “(A pesquisa) dá a visão da gente sobre as coisas que tem acontecido e faz com que se sinta mais dentro dos debates sociais”.

 

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