"As pessoas com deficiência ainda não se veem em todos os espaços", diz Mister Brasil

O Mister Brasil Hendson Baltazar diz que a maior conquista da vida dele foi voltar a andar

O atual Mister Brasil é Hendson Baltazar (@hendsonbaltazar), um jovem cearense de 30 anos. Ele é modelo, professor de Educação Física, personal trainer, esportista e também é um homem amputado. Há sete anos, Hendson foi vítima de um acidente de moto causado por um motorista embriagado, o que resultou em um traumatismo craniano, uma luxação extrema do joelho esquerdo e amputação do pé esquerdo.

O jovem estava no quinto semestre do curso de Educação Física quando o acidente interrompeu seus planos. A conclusão da faculdade precisou ser adiada e, após dez dias em coma na UTI e quarenta de internação no hospital, os sonhos seguiram em outro ritmo: o primeiro deles seria voltar a andar.

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Em 2020, ele foi escolhido por coordenadores municipais para representar o Ceará na etapa nacional do concurso Mister Brasil e saiu vitorioso. “Quando a gente recebe a faixa, o holofote vem junto e a gente tem que aproveitar para levantar essas pautas tão importantes na nossa sociedade e uma delas era o capacitismo, e eu levei isso para o Mister Brasil. O mundo tem que nos incluir”, afirma.

Confira a entrevista com Hendson Baltazar:

OP - Você é modelo, professor de educação física, personal trainer e esportista. Pode nos contar como o mister também entrou no seu currículo?


Hendson - Tudo começou logo após o término da primeira fase da minha reabilitação. No terceiro ano pós-acidente, depois de mais de onze cirurgias, quando eu calcei a minha prótese pela primeira vez, eu comecei a cuidar da minha saúde, da minha estética e da minha alimentação. Como eu já tinha conhecimento na área, a minha evolução foi muito rápida e eu comecei a chamar atenção de pessoas que faziam parte da organização do concurso.


Fui convidado por um coordenador a participar do Mister Ceará em 2019 e ele me apresentou essa possibilidade. Ao fim do concurso de beleza, o vencedor se torna embaixador da beleza, e essa beleza é um conjunto: tanto física quanto pessoal. Quando eu soube que iria ser o primeiro candidato deficiente físico a concorrer a um concurso desse tipo, vi essa possibilidade de levantar a bandeira da inclusão e da luta das pessoas com deficiência.


Eu vi a possibilidade de ser influenciador e de mostrar que nós, pessoas com deficiência, podemos estar onde a gente quiser, independente de vitória ou derrota.


OP - Qual foi a reação da sua família quando você se tornou Mister Brasil? Quem foram os seus maiores incentivadores?


Hendson - A minha família sempre me apoiou em todos os desafios que eu me propunha. Desde as cirurgias até depois que eu saí do coma. Eu precisava de muito apoio porque eram coisas incertas, mas que eu tinha convicção que eram o melhor pra mim. E o mesmo apoio veio quando me inscrevi no concurso. Eles sempre acreditaram no meu potencial, mas na possibilidade de eu sair vitorioso, creio que só a minha mãe acreditava (risos).


Foi algo inacreditável porque o concurso era de alto nível e eu era o único deficiente físico amputado dos quarenta candidatos. Ao final da edição, eu também alcancei o título de melhor corpo.


OP - O que você considera a sua maior conquista pessoal?


Hendson - Antes do acidente, como todo jovem sonhador, eu tinha vários planos; mas depois do acidente, o meu único sonho era voltar a andar.


Voltar a andar: eu considero que foi a minha maior conquista pessoal. Eu acho que não vai ter outra até eu morrer. Com esse andar novamente eu aprendi a valorizar as simples coisas da vida, um aperto de mão, um olhar, um falar, um escutar…


OP - Você recebe mensagens de outras pessoas que sonham com uma carreira no mundo da beleza e se inspiram em você? Se sim, quais são os conselhos que você geralmente dá?


Hendson - Depois que eu me tornei o primeiro Mister Brasil deficiente físico amputado, eu fui canal de inspiração, principalmente pras pessoas com deficiência. As pessoas com deficiência ainda não se veem em todos os espaços, elas se veem no esporte, mas ainda não se veem na moda.


Para muita gente, beleza e deficiência são duas coisas distintas, mas eu levei pro Mister Brasil que beleza é uma arte. Não tem como você dizer que quem canta é mais bonito do que quem toca. Cada um tem sua arte, cada um tem a sua beleza. E a minha arte é a minha deficiência, é a minha perna preta.


O que eu sempre digo para as pessoas que vem até a mim é que nada é impossível. Temos que, diariamente, aceitar os desafios que nos são propostos e o nosso objetivo principal é ser feliz.


OP - O que o Hendson de agora diria para o Hendson de 7 anos atrás?


Hendson - Eu diria: “Hendson, você duvidou, né, cara? Olha até onde você chegou. Você imaginaria que depois de tudo o que aconteceu com você: pé amputado, luxação do joelho, atrofias musculares e o rosto quebrado, você seria eleito o homem mais bonito do Brasil e o corpo mais bonito do Brasil? Você imaginaria isso? Pois é, o impossível não existe; e Deus é real, ele existe”.

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