Facções estariam exigindo "pedágio" de R$ 3 mil a comerciantes em bairro de Fortaleza

Criminosos realizam extorsões por telefone e comerciantes têm recebido ligações das facções com ameaças

Integrantes de facção estariam telefonando para comerciantes da avenida Mozart Lucena, no bairro Vila Velha, em Fortaleza, para exigir R$ 3 mil. O pagamento do "pedágio" é para que os moradores possam trabalhar. A denúncia foi recebida pelo O POVO nessa sexta-feira, 17. Moradores e comerciantes locais temem falar sobre o assunto. A prática não é adotada somente na Vila Velha, mas também há relatos de extorsões em Iparana, Caucaia, e no bairro Mondubim, na Capital.

O POVO denunciou em setembro de 2020 e abril de 2021 a dificuldade dos provedores de internet, TV a cabo e gás para prestarem serviços no Cidade Jardim II. Neste ano, a reportagem mostrou que o problema para se conectar à internet continua na mesma comunidade. O motivo é que as facções exigem dinheiro dessas empresas, e quem não paga perde o "direito" de trabalhar no local.

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Um anúncio informando que as facções estão impedindo o "Jogo do Bicho", que já é uma atividade proibida, também tem demonstrado a ação das facções. Além de citar o nome da facção que resolveu proibir o que já era ilegal, o informe diz que quem desobedecer à "nova regra" vai arcar com as consequências.

Essa não é a primeira vez que a mesma organização resolve impedir o que já é crime. No bairro Genibaú, é possível encontrar avisos nas paredes informando que é "proibido roubar Uber", em referência aos motoristas de aplicativo.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que a Polícia Civil organizou uma força-tarefa para investigar e combater crimes relacionados a ameaças e extorsões. No decorrer do trabalho policial, conduzido pelo Departamento de Polícia Judiciária Especializada, foi identificado que boa parte das denúncias se referem a casos de estelionato. Por conta disto, as investigações estão centralizadas na Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF). Os casos em que é identificada a participação de organizações criminosas são acompanhados pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Ainda na nota, a SSPDS informa que, ao longo das últimas semanas, prisões importantes relacionadas ao assunto foram efetuadas pela Polícia Civil. Em 2 de setembro de 2021, Gustavo Gabriel Moraes de Souza, 23, foi preso no bairro Pirambu, em Fortaleza, após uma investigação minuciosa da Draco, que aponta a participação do homem em ameaças e orientações a comerciantes e moradores da região.

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Na manhã dessa sexta-feira, 17, um outro suspeito, apontado como chefe de um grupo criminoso com participação em homicídios, além de ameaças e extorsões a moradores foi preso no bairro Mucuripe, durante o cumprimento de mandado de prisão representado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

A pasta ressalta que realiza, desde 15 de julho de 2021, a Operação Domus, organizada pela Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (Copol/SSPDS), que tem, entre suas diretrizes, detectar crimes de ameaça e extorsão. Ao longo de dois meses, 14 edições da ofensiva foram realizadas em bairros de Fortaleza, Pacatuba e Sobral. Em Caucaia (AIS 11), a Operação Sumé. Organizada pela SSPDS, iniciada em 13 de agosto de 2021, também tem finalidade de coibir os crimes contra moradores e comerciantes da região.

A Polícia Civil informa que a população pode contribuir com as investigações, por meio do registro de de Boletim de Ocorrência (BO), que pode ser feito, presencialmente, ou por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron), no site https://www.delegaciaeletronica.ce.gov.br, em qualquer hora do dia ou da noite. A Deletron atende todo o Ceará. As denúncias também podem ser encaminhadas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia.

Prisão de chefe de organização que extorquia moradores

Nessa sexta-feira, 17, o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) divulgou em coletiva a prisão de um homem suspeito de chefiar um grupo de extorsão e de homicídios na área do Mucuripe, Caça e Pesca e Mucuripe.

O diretor adjunto do DHPP, delegado Paulo Renato Almeida, informou sobre a prisão de Wendell de Paula Almeida, conhecido como "Covid" ou "Das Praias".

Ele explicou que as investigações relacionadas a extorsões estão com as respectivas delegacias da área e que o DHPP tem se concentrado nos homicídios, que, em sua maioria, são causados pelas organizações criminosas. Como mandante de homicídios, Wendell também coagia comerciantes das áreas que a facção atuava para receber dinheiro.

O delegado afirma que, em qualquer tipo de crime, a orientação da Polícia Civil é para que as pessoas denunciem. Os comerciantes cooptados para o pagamento dessas taxa ilegais devem entrar em contato com a Polícia para denunciar.

"Essas extorsões que acontecem, principalmente naquela região, têm a participação dos integrantes das organizações criminosas. Ele atuava para angariar fundos para as organizações criminosas. Ele conseguia cooptar alguns indivíduos que faziam essa parte, comerciantes da área e pessoas que moravam na região que ele diz ter o domínio, ele fazia parte desse grupo criminosos que fazia as extorsões", relata.

De acordo com o diretor do DHPP, essas extorsões são investigadas pela Polícia Civil como um todo. Não é uma situação isolada das Áreas Integradas de Segurança – AIS 1 (Aldeota, Cais do Porto, Meireles, Mucuripe, Praia de Iracema, Varjota e Vicente Pinzon) e 10 (Cidade 2000, Cocó, Dionísio Torres, Engenheiro Luciano Cavalcante, Guararapes, Joaquim Távora, Lourdes, Manuel Dias Branco, Papicu, Praia do Futuro I, Praia do Futuro II, Salinas e São João do Tauape).

"Na Delegacia de Homicídios, nós estamos sensíveis com essa situação, pois as organizações criminosas fazem parte de vários homicídios que acontecem em Fortaleza", explica o delegado.

O delegado Paulo Renato diz que não há casos de comerciantes mortos por não pagar as extorsões. "Aqui não tem esse tipo de investigação nesse momento", relata.

 

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