Em processo de tombamento, casarão dos Gondim é demolido

Localizado na rua General Sampaio, no Centro, o imóvel foi construído em 1912 por Arlindo Granjeiro Gondim e serviu, durante muitos anos, como cenário de encontros para a música

Atualizada às 15h17min de domingo, 18 de julho

No dia de seu aniversário, a professora do curso de Ciência Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), Linda Gondim, 60, teve conhecimento de algo que não esperava: o casarão dos Gondim, construído por seu bisavô em 1912, Arlindo Granjeiro Gondim, havia sido demolido. O solar serviu de local onde a família se reunia para ouvir a avó tocar piano e as filhas dela cantarem. “Infelizmente, recebi essa péssima notícia. O casarão [localizado na rua General Sampaio, no Centro de Fortaleza] estava em processo de tombamento provisório, mas foi destruído antes de ser concluído”, lamenta. Com a entrada do processo de tombo, o local já não poderia sofrer alterações estruturais.

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O solar foi vendido em 2017 para um comerciante. A socióloga, que tem doutorado em Planejamento Urbano e é professora da pós-graduação em Sociologia, jamais imaginava que poderia vivenciar, na prática, exatamente o que estuda. O casarão se manteve igual ao que foi projetado pelo bisavô até essa sexta-feira, 16, com exceção do enorme quintal, que já tinha virado estacionamento. “A gente chamava de chácara. Ali tinha pé de seriguela, de manga. Eu me encontrava com os meus primos para brincar. Cortaram tudo para fazer o estacionamento”, lamenta.

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Nessa sexta-feira, 16, a professora recebeu a notícia de que estavam destelhando o solar e imaginava que se tratava de um restauro, tipo de obra possível em casos como de imóveis em processo de tombamento. Na manhã deste sábado, 17, quando inteirou seis décadas, Linda recebeu a notícia de que a casa já estava sem paredes. Toda a memória, agora, ficaria somente nas lembranças. “Parece que eu estava pressentindo. Acordei angustiada e pensando na casa”, diz.

>> CONFIRA DOCUMENTÁRIO SOBRE CASARÃO DOS GONDIM

O documentário Casarão da General Sampaio foi gravado no imóvel em 2003 para estimular a ideia de o imóvel abrigar um museu da casa e da música do Ceará. De autoria de Maurício Cals, o vídeo traz o imóvel ainda bastante preservado, com o assoalho em madeira antiga, chão de tábuas formando desenhos, e mostra ainda Maria Thereza, Maria Guilhermina e Maria Margarida dando continuidade ao talento da avó, tocando piano e cantando músicas em português e em francês.

Em 2022, o solar completaria 110 anos. O documento de tombamento provisório, com data de 21 de abril de 2011, afirma que o imóvel ficaria, a partir daquele momento, legalmente protegido contra destruição ou descaracterização. Toda a intervenção ou processo de alteração na casa deveria ser previamente comunicado e autorizado pela Coordenação de Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor).

Na parede do imóvel, um número de autorização para a demolição mostra que o objetivo era de demolição total. 

O POVO não conseguiu contato com os atuais donos do imóvel. A Secultfor disse que foi informada sobre a demolição do casarão na noite de sábado, 17. A pasta ressaltou que a instrução do tombamento da edificação já estava concluída e com aprovação do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic). Confira a nota enviada, na íntegra:

"A Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) teve ciência da demolição do Casarão dos Gondim, na noite deste sábado, 17, bem que encontrava-se com tombamento em análise. Ressalta-se que a instrução do tombamento da edificação já estava concluída e com aprovação do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural de Fortaleza (Comphic).

A pasta foi comunicada sobre a pretensão de intervenção na edificação e respondeu por meio de um parecer técnico, assinado em 16 de maio de 2021, indeferindo o pedido de demolição. A Secultfor encaminhará um ofício, na segunda-feira, 19, para a Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis), órgão responsável pela fiscalização do Patrimônio Histórico-Cultural da capital cearense, para que sejam realizadas as devidas averiguações e aplicação de sanções.

A Agefis informa que, de acordo com o Código da Cidade (Lei Complementar nº 270/2019), executar obra ou serviço de reparo sem a devida licença é considerado infração de natureza grave, punida com multa, que pode variar de R$ 135,00 a R$ 21.600,00. Os cidadãos podem realizar denúncias por meio do aplicativo Fiscalize Fortaleza (disponível para Android e IOS), do site denuncia.agefis.fortaleza.ce.gov.br ou pelo telefone 156."

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