Estudante cria projeto voluntário no Instagram de preparação para o Enem em Fortaleza
Idealizado pelo jovem Edson Filho, 18, o programa "Vem que Tem Enem" surgiu no começo da pandemia da Covid-19. Atualmente, perfil no Instagram do cursinho comunitário conta com mais de três mil seguidores
Há um ano e dois meses, quando o Ceará enfrentava o começo da pandemia da Covid-19, o estudante Edson Filho, 18, resolveu criar um projeto voluntário para ajudar outros estudantes na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A ideia surgiu quando o jovem, morador do bairro Parque Iracema, em Fortaleza, percebeu que o acesso a um cursinho privado não era a realidade de todos que estavam se preparando para o exame. O projeto voluntário chamado “Vem que Tem Enem”, que começou apenas na busca de Edson em ajudar outros alunos, hoje, conta com uma equipe de mais de 30 professores que auxiliam candidatos a ingressar no ensino superior.
Desenvolvido na rede social Instagram, o programa foi crescendo e buscando novos alunos que tivessem interesse em ter um bom resultado no Enem. Atualmente, a iniciativa também está voltada para a preparação do vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Após um mês da criação do projeto, em abril do ano passado, o perfil do “Vem que Tem Enem” atingiu mais de mil seguidores e, hoje, conta com mais de três mil pessoas seguindo os conteúdos compartilhados no perfil. Ao O POVO, o jovem conta sobre a iniciativa, as expectativas para o futuro, a importância da educação e a relação com alunos e professores.
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O POVO - Como surgiu a ideia de iniciar o projeto em meio à pandemia?
Edson Filho - Eu fiquei sabendo que na pandemia muitas pessoas não tinham condições de pagar cursinhos e eu tinha um grupo no Whatsapp voltado para o Enem, chamado “Foco no Enem”, e tinha muitos alunos e professores comentando sobre isso. Fiquei sabendo dos relatos das pessoas que não tinham condições de pagar um cursinho em virtude da pandemia e surgiu a ideia. O projeto começou no dia 28 de abril de 2020. Foi quando eu comecei a postar no Instagram que estava começando o projeto para ajudar os demais estudantes. A partir daí, comecei a chamar alguns professores. No começo foi difícil, porque eu estava estudando no 3º ano e tinha toda a preparação para o Enem também. No começo, o contato com os professores foi bem difícil, alguns não quiseram participar, já outros acharam o projeto incrível e toparam entrar. Atualmente, tá bem mais fácil, já que tenho uma equipe boa me ajudando.
OP - Como funciona o “Vem que Tem Enem”?
Edson - Atualmente, o projeto tem mais de três mil seguidores, com mais de 30 professores e 20 alunos acompanhando as aulas. As aulas são transmitidas ao vivo por meio da plataforma Google Meet de segunda-feira a sábado, e aos domingos a gente costuma realizar simulados, conforme o cronograma da semana. Eu produzo todo o cronograma de aulas que vão ser realizadas durante a semana e envio aos professores e aos alunos no fim de semana, por meio do grupo do projeto no Whatsapp. A gente também utiliza a plataforma Google Classroom, onde os professores podem postar os pdf's das aulas e outros materiais para os alunos, seja aqueles que não puderem estar presentes na aula ao vivo, como para consulta posteriormente em casa. As pessoas interessadas em participar podem entrar em contato comigo, por meio do Instagram do projeto, e se inscreverem para ter acesso às aulas.
OP - Por que a decisão de criar o projeto por meio de uma rede social?
Edson - Acreditei que o alcance do público seria melhor e eu já tinha facilidade em trabalhar no Instagram. Hoje, ainda me assusto como o projeto cresceu rápido na rede social. É uma ferramenta de divulgação, não só para esse meu projeto, como para qualquer um. Além disso, todos os professores e alunos divulgam o projeto no Instagram, o que ajuda muito também. No ano passado, quando o "Vem que Tem Enem" completou um mês, o perfil chegou a mil seguidores, com 30 professores e mais de 10 alunos participando das aulas. Hoje, o projeto, além dos professores e alunos, conta com uma equipe, de cinco a seis pessoas, que me ajudam a tocar essa iniciativa. O trabalho é totalmente voluntário, tanto dos professores quanto da equipe.
OP - Qual o seu maior sonho?
Edson - Meu sonho é que esse projeto se torne presencial futuramente e que eu ajude mais pessoas. Eu quero cursar Serviço Social e por meio do Enem ou a Uece poder entrar no curso. A esperança é que o "Vem que Tem Enem" vire uma instituição em que eu possa ajudar jovens de várias localidades dessa forma, apoiando a se preparar para o vestibular, se capacitar e estudar. Tem muitas pessoas que não têm condições de pagar um cursinho, então eu pretendo abrir um projeto presencial futuramente para ajudar esses alunos. Essa área do serviço social é algo que cativa, é bonito ver jovens se dedicando aos estudos, no mundo onde tem muitas escolhas erradas como a droga e o crime.
OP - O que mudou na sua vida depois da criação do projeto?
Edson - A responsabilidade em administrar um projeto tão importante, além de trabalhar com professores que eu nunca pensei que fosse ter esse contato profissional de forma voluntária. No início, eu achei que seria mais difícil, pois eu achava que tudo era pago. Mas o que mudou mesmo foi ter esse compromisso com alunos e professores. Tem também a relação que foi criada com alunos e professores. Tem alguns estudantes que não me enxergam como um estudante que está se preparando para o vestibular, mas como um líder de sala. Tem alguns que até me chamam de professor também e eu tenho que explicar que eu também sou aluno assim como os demais.
OP - Qual a importância da educação para você?
Edson - O conhecimento é o que transforma o mundo. As pessoas que buscam ter esse conhecimento, que buscam saber de alguma coisa, vão conseguir realizar seus objetivos e conquistar o que elas almejam. A importância da educação é que o conhecimento chega de todas as formas, por meio de um livro, no acesso à internet ou outra ferramenta que possa garantir esse acesso. A educação tem o poder de transformar o futuro de muita gente.
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