Cerca de 300 PMs já foram denunciados por envolvimento no motim de 2020
Já foram 65 denúncias ofertadas pelo Ministério Público e mais acusações devem ser feitas. Movimento durou 13 dias e levou a crescimento de 547% no número de assassinatos
Cerca de 300 os policiais militares foram denunciados criminalmente por participação no motim de fevereiro de 2020, conforme o Ministério Público Estadual (MPCE). São cerca de 65 denúncias já ofertadas, segundo o órgão ministerial. O MPCE ainda ressalta que há previsão de que mais PMs sejam denunciados pelo envolvimento na paralisação. Somente na última semana, 10 denúncias foram ofertadas á Justiça, conforme publicou nesta sexta-feira, 11, o portal Uol.
O motim teve início no fim da tarde de 18 de fevereiro de 2020, quando policiais mascarados tomaram o 18º Batalhão de PM, no bairro Antônio Bezerra. Os militares só voltariam ao serviço em 2 de março. Dentre as reivindicações do movimento, estava o reajuste salarial. Ao término da paralisação, o Governo do Estado se comprometeu, entre outros pontos, a investir R$ 495 milhões com o salário de policiais até 2022. O salário-base de um soldado da PM passará a ser R$ 4.500. Entretanto, o governo não concedeu anistia aos integrantes do movimento, outra reivindicação feita pelos manifestantes durante a paralisação.
Além de PMs que, efetivamente, participaram da paralisação, o MPCE também denunciou aqueles que não impediram a tomada de batalhões, viaturas, entre outros equipamentos. Até mesmo comandantes de batalhões foram denunciados pelo MPCE por não rechaçarem os paredistas.
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AssineTambém foram denunciados militares que fizeram apologia pública ao movimento, como é o caso do soldado Felipe Lisboa da Costa. No dia 23 de fevereiro, ele interrompeu uma missa em Juazeiro do Norte (Cariri Cearense) para fazer um discurso em prol da paralisação. O discurso foi filmado e publicado nas redes sociais: "Me perdoem por estar atrapalhando esse ato sagrado. [...] Nós, policiais militares, estamos em greve. Não é porque nós queremos, é que foi a última, a última, a última, a última coisa que foi pra gente ser ouvida". A denúncia contra os agentes foi feita no último dia 2 de junho, mas ainda não foi recebida pela justiça.
“Vale ressaltar que neste momento não é possível informar o número exato de policiais militares denunciados pelo MP por envolvimento no motim em 2020, em face de outras denúncias por outros fatos que estão intercaladas”, diz em nota o MPCE. O POVO procurou a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) na tarde desta sexta-feira, 11, para saber quantos procedimentos administrativos foram abertos e quantos PMs seguem afastados. O órgão, porém, respondeu que o sistema que permitiria a consulta estava fora do ar nesta tarde. Em fevereiro último, a CGD havia informado que, passado um ano do motim, 246 PMs respondiam administrativamente e continuavam afastados.
Crimes investigados
Um dos saldos do movimento paredista foi o súbito crescimento do número de homicídios no Estado. O Estado teve 312 assassinatos entre 19 de fevereiro e 1º de março, um aumento de 547% com relação aos 57 crimes ocorridos no mesmo período de 2019 — no que pese 2020 ser um ano bissexto. Conforme O POVO mostrou em fevereiro último, de 112 assassinatos ocorridos em Fortaleza que a reportagem conseguiu localizar os processos judiciais, apenas 11 casos tinham denúncia ofertada pelo MPCE.
Dentre os crimes ocorridos durante o motim que seguem sendo apurados, estão os disparos efetuados contra o senador Cid Gomes (PDT). Ele foi baleado no momento em que tentava avançar em uma retroescavadeira contra o portão do 3º Batalhão de PM, que estava tomado pelos amotinados. O inquérito da Delegacia de Assuntos Internos (DAI), que apura o caso, segue em andamento. Em 15 de abril último, a Justiça havia dado mais 60 dias para a conclusão da investigação.
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