Sem movimento, dificuldades para população em situação de rua crescem no lockdown

Com a redução da circulação de pessoas nas ruas de Fortaleza e sem apoio, pessoas em situação de rua sentem com mais intensidade os impactos do lockdown

Lockdown, distanciamento social e os demais cuidados sanitários que buscam combater a propagação do coronavírus parecem fazer parte de um "universo paralelo" para aqueles que sequer possuem o básico para sobreviver, como ter acesso a uma moradia.

Essa é a situação de muitas pessoas em situação de rua que vivem no coração de Fortaleza, a Praça do Ferreira. Habituados ao esquecimento social, a sensação de invisibilidade não é diferente durante a maior crise sanitária da era moderna, definição dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a pandemia do coronavírus.

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"Quando o Centro tava aberto eu ainda conseguia fazer um dinheirinho com a reciclagem, mas com isso de fechar tudo não tem reciclagem, eu vou fazer o quê? Vou pra onde? Só posso ficar aqui", conta Rivelino Lopes, 41, que vive em situação de rua há mais de 10 anos.

Desde o último sábado, 13, passou a vigorar o novo decreto que determina lockdown em todos os municípios cearenses. Para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade, não há como separar o "lar" das ruas da Capital.

"Só tenho esperança que as coisas possam melhorar porque não acho que tem como ficar pior, o que vai ser da gente que já moramos na rua? Muita gente tem pena e acaba dando alguma coisinha, mas ajuda mesmo é só de Deus", desabafa Rivelino, que abandonou sua casa após problemas com a família.

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Os aprendizados

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Antônio Brazzi, 50, vive nas ruas de Fortaleza há quase dois anos. Com 27 anos de carteira assinada, Antônio relata a mágoa que guarda dos fortalezenses.

"Já trabalhei como pedreiro, pintor, frentista e cortador de cana. Fiz de quase tudo, o que eu mais gosto mesmo é ser pedreiro. Nunca precisei roubar ou matar, mas para a sociedade todo mundo que tá na rua é ladrão, é uma grande mentira. Nunca peguei nada que não me deram", explica.

Durante o lockdown, Antônio pede que o poder público não esqueça daqueles que vivem desamparados.

"Vamos abrir os olhos para isso. Caso não cuidem dos moradores de rua, nós precisamos tomar uma atitude. Já que fechou tudo, vamos viver de que? Costumo dizer que fui jogado na rua, não foi por querer. Tem muita gente sofrendo com tudo fechado, pedem que a gente tenha cuidado e use máscara, mas isso vai mudar o quê pra gente? Se for pra pegar, vamos pegar", destaca Antônio.

Mesmo com os 27 anos de carteira assinada e experiência acumulada em diversos setores, Antônio conta que ainda não realizou o seu maior sonho.

"Eu nasci em família pobre e não tive oportunidade de estudar. Aprendi a ler na rua e gosto de ler. Sonho em escrever dois livros, um sobre a história da minha vida e outro sobre medo e fé", relata.

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Dentre os relatos encontrados pelo Centro de Fortaleza, José Henrique, 62, é uma exceção. Ele conta que é formado em Filosofia e mestre em Teoria Literária pela Universidade Nacional de Brasília (UNB). Henrique apresenta o diploma ao contar sua história.

"Já são mais de dez anos nessa luta, vivemos em um processo de neoliberalismo que prega a exclusão. Eu cheguei em Fortaleza em fevereiro, antes passei por Manaus e Roraima. Muita gente pensa que somos porcos ou cachorros. Eu estou na rua para colaborar com a população que vive nesta situação".

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Sobre o lockdown que vigora no Ceará, ele diz entender os dilemas da pandemia, mas discorda das medidas adotadas.

"O lockdown é uma tremenda insensatez. É um massacre à população de baixa renda e aos que vivem em situação precária. É claro que a pandemia existe e ninguém vai negar, mas tem de haver um ajuste nos horários para que a Cidade possa continuar subsistindo. Em relação à população em situação de rua, temos que ter uma bandeira mínima, que é a concessão de um aluguel social", destaca José, que considera o Poder Público ineficiente.

Prefeitura distribuirá cestas básicas 

No último dia 11, o prefeito de Fortaleza, José Sarto, anunciou uma série de medidas que visa a proteção social à população mais vulnerável. Segundo a Prefeitura, pelo menos 392 mil pessoas serão beneficiadas. Durante os próximos três meses, 108 mil cestas básicas serão distribuídas a famílias de alta vulnerabilidade.

Durante os próximos quatro meses, a Prefeitura de Fortaleza planeja entregar diariamente mil quentinhas e 400 sopas às pessoas em situação de rua e vulneráveis na Capital. A Poder Público também pretende disponibilizar locais de banho e dormitórios para essa população, além de fazer a manutenção de três novos abrigos para atendimento de crianças e adolescentes, durante um ano.

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