A senhora barbeira

Ela é a única mulher num ambiente de clientes e profissionais homens e conta como é conviver no mundo da barbearia

Aos 29 anos, Jéssica Aquino Lobão é a única mulher no estabelecimento em que trabalha. Mas ela se orgulha de atuar em um ambiente que acaba sendo muito ligado ao mundo masculino. Depois de deixar a psicologia, ir pro setor de varejo e ainda se sentir perdida, ela se encontrou como barbeira e trabalha, hoje, em uma das grandes do ramo em Fortaleza, a Sr. Barbeiro.

Nesses três anos, a paixão só foi aumentando, tanto que ela espera, em um futuro não tão longe assim, investir ainda mais na profissão. Ter seu próprio espaço e continuar se dedicando ao ramo. Ao O POVO, ela reflete sobre a inserção de mais mulheres no mundo da barbearia e a preferência de muitos homens, ao conhecerem seu trabalho, de serem atendidos por ela. 

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O POVO - Como você começou nesse caminho profissional da barbearia?

Jéssica Aquino Lobão - Eu trabalhava no varejo. Por influência de um amigo que também trabalhava em varejo e decidiu fazer um curso, eu resolvi fazer também. E foi onde eu me encontrei. Eu sempre trabalhei no varejo, desde meus 17, 18 anos. Foi quando eu comecei a trabalhar com shopping e vendas. Com o tempo, eu entrei na faculdade de psicologia. Eu nunca tinha pensado em entrar no ramo da barbearia, nunca passou pela minha cabeça. Tive problemas acadêmicos, perdi a bolsa que eu tinha e fiquei meio perdida, sem saber que rumo tomar. Estava perdida na psicologia, não me via exercendo com prazer . Era algo que eu gostava, mas não me via no mercado de trabalho. Foi quando eu me vi assim, fora da faculdade e sem trabalhar. Pensei e lembrei que meu amigo tinha me incentivado a fazer esse curso, procurei saber como era o ramo, como era profissão. Procurei fazer o melhor curso que tinha. No primeiro dia que eu fiz, me encontrei. Já fiquei com essa empolgação de fazer. Também sempre quis montar um negócio para mim. Eu vi uma grande possibilidade de ganhar dinheiro fazendo o que eu gosto. Foi um desafio, porque nunca tinha segurado uma máquina de corte.

Jéssica Aquino Lobão, barbeira na Sr. Barbeiro
Jéssica Aquino Lobão, barbeira na Sr. Barbeiro (Foto: Eduardo Abreu/DIVULGAÇÃO/SR. BARBEIRO)

OP - O universo da barbearia costuma ser ligado diretamente à figura masculina. Como foi pra você entrar nesse ramo?

Jéssica - Foi um desafio. Ainda é um pouco. Mas, para mim, foi tranquilo. Porque eu sempre tive uma certa facilidade, então foi tranquilo. Mas, no universo da barbearia existe um pouco de preconceito, não vou dizer que é algo escancarado. É um ambiente predominantemente masculino. Existe um pouco sim. Isso vai sendo quebrado quando a pessoa começa a conhecer meu trabalho e ver meu nível de experiência, e isso vai ficando para trás (o preconceito). Mas sempre é um desafio.

OP - Em algum momento, você precisou se impor para conseguir respeito profissional? Seja com clientes ou colegas?

Jéssica - Eu nunca tive graves problemas com eles. Algumas vezes acontece de o cliente chegar na barbearia e não me conhecer e pede para ser atendido por um barbeiro homem. Mas, quanto aos profissionais, eles sempre me respeitaram e me apoiaram.

OP - E a barba, muitos brincam que seria a maquiagem do homem. Vem muito ligada com a questão da vaidade, que existe uma barreira dos homens de se cuidarem. Você vê isso mudando?

Jéssica - Eu vejo isso mudando bastante. Muitas vezes, se cuidando mais que as mulheres. Geralmente, os homens que escolhem ter barba tem um cuidado especial, mais com a barba que com o cabelo. E falando em preconceito, do mesmo jeito que tem homens que preferem ser atendidos por homens, tem homens que, quando vê que é uma barbeira mulher, dá preferência. Porque acham que a mulher tem mais senso estético e gostam mais de cuidado.

OP - E com essa preferência no atendimento, como está sendo a inserção de mulheres nesse setor?

Jéssica - Comparado com a quantidade de barbeiros, a proporção é bem menor. Mas, hoje em dia já tem muitas barbeiras mulheres. Algumas já ministram cursos. Proporcionalmente falando tem bem menos, mas vejo aos poucos esse número crescendo. Observo também que as próprias barbearias até querem uma barbeira mulher dentro do estabelecimento para quebrar esse tabu.

 

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