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Fortaleza dos Encontros: Praia de Iracema comemora aniversário em maio e tem celebrações online devido pandemia

Conheça um pouco da história do bairro, considerado pequeno, mas de extrema importância para a capital por carregar diferentes narrativas sobre o que é pertencer à cidade
12:23 | Mai. 06, 2020
Autor Gabriela Feitosa
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Gabriela Feitosa Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Avistar o antigo, emblemático e resistente Edifício São Pedro é sinal de que a Praia de Iracema está logo ali, à espreita. Quem mora em Fortaleza e costuma percorrer aquelas ruas pode até sentir uma capital dos anos 50 nas ruínas do prédio que outrora era o Iracema Plaza Hotel. O edifício se confunde com o bairro: boêmio ou bucólico. “Mas há também uma antítese dessas representações, como a ênfase ao "adeus", relacionada à destruição ou degradação", avisa o livro “Praia de Iracema”, de Roselane Gomes Bezerra, que conta a história do lugar.

O bairro histórico faz fronteira com o Centro de Fortaleza e carrega diferentes narrativas sobre o que é pertencer à Cidade. É ele quem abriga a “joia da Cidade”, nas palavras do jornalista Iury Figueiredo: a Praia de Iracema. “Eu acho que o fortalezense precisa ter uma relação mais íntima com essa praia, afetuosa. Parar de ver como um espaço do turista, do perigo. (Ela) é um presente natural incrível, mas também um presente histórico incrível”, afirma. A “joia da Cidade” comemora neste dia 7 de maio mais um ano de vida e, por conta do isolamento social devido à pandemia da Covid-19, as celebrações serão feitas online.

Além de frequentador (que firmou como promessa pular da Ponte Velha quando a quarentena acabar), a relação do jornalista com a Praia de Iracema e, mais especificamente, o Poço da Draga, acabou virando seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC): Praia de Quem? Uma Reportagem Vestível, que você poderá conferir no final desta matéria.

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Antigo morador do bairro Bonsucesso, o jovem pede: “A Praia de Iracema precisa estar mais interligada com as outras regiões da cidade. Praia de Iracema é direito de todo mundo. Precisa ter conexões menos dramáticas da periferia para a praia, precisa ter mais ônibus, mais bicicletas. A prefeitura precisa pensar não só eventos, mas estrutura”.

Praia do Peixe, do Lido, dos Crush: Praia de Iracema

Foi um concurso no dia 7 de maio de 1925 que batizou a praia como “Iracema”, em homenagem ao livro de mesmo nome do escritor cearense José de Alencar. Antes, o local era denominado como “Praia do Peixe”, em razão da tradição jangadeira do local, habitada por famílias de pescadores. Hoje, diferentes espaços da mesma praia recebem nomes distintos. Quem é que nunca ouviu falar da Praia dos Crush? O nome é familiar para os jovens que vão encontrar amigos, ver o pôr-do-sol e paquerar no trecho entre as obras do Acquário e o espigão da Rua João Cordeiro.

A comemoração do aniversário é recente, no entanto, e começa em 2018, com o festival Férias da PI. Esses e outros eventos são realizados pelo Instituto Iracema, uma espécie de “governança local”, como pontua o diretor Davi Gomes: “Tem a prefeitura, as regionais, mas a gente faz um trabalho de comunicação, ação cultural. É ressaltar a história do lugar para pensar ele no futuro. Pensar o que deu certo, o que não deu certo”. O Instituto está promovendo, este ano, as comemorações online, concentradas no perfil do Instagram @fortalezadosenconstros.

As atividades começaram ainda na segunda, 4, e seguem até dia 8. São lives, bate-papos sobre a história, curiosidades e afetos do bairro e conteúdos exclusivos com os restaurantes da região ensinando a receita que teve origem na Praia de Iracema, o Peixe a Delícia.

Haverá também uma ação para incentivar o comércio local do bairro: os estabelecimentos participantes receberão uma série de postais com diferentes fotografias da Praia de Iracema e, a cada produto ou serviço adquirido, os clientes receberão em casa um postal afetivo da PI.

Conforme o diretor do Instituto Iracema, Davi Gomes, contou ao O POVO, as ações iniciaram à mesma época em que a requalificação da Praia de Iracema teve início. Objetivo era promover ações culturais e de comunicação para trazer pessoas à praia novamente. “Por quase dez anos a praia ficou com um estigma ruim. A ideia é levar uma ocupação positiva para a praia”, diz.

Sérgio Rocha, morador e membro do Conselho Gestor da Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social) do Poço da Draga, aponta que os estigmas da região relacionados à violência são reforçados pela mídia, principalmente em programas policiais. Hoje, o Poço da Draga, região residencial da Praia de Iracema, é tecido como um local violento, marginalizado dentro de seu próprio território. “A gente acha que o Poço da Draga é isolado por muros, quase invisível, segregado do mundo, só que não é. A gente se considera Praia de Iracema”, pontua.

Segundo Sérgio, quando a mídia comenta sobre o Poço utilizando termos pejorativos, acaba influenciando a criação de estereótipos que apenas contemplam a visão preconceituosa de uma classe média fortalezense. “Os lugares não precisam levar adjetivos negativos. Por que não diz o nome do lugar? É Poço da Draga. A grande maioria dos moradores estão aqui há mais de 70 anos. Isso os diminui”, reafirma.

Para ele, a Praia de Iracema é completa, por ser um bairro residencial, de lazer, trabalho e turismo. “Hoje em dia a gente vê a praia como extensão da gente.”, considera. O Poço da Draga, entretanto, tem aniversário próprio, também no mês de maio, dia 26. Isso porque o lugar é ainda mais antigo que outras regiões da Praia de Iracema, como o Dragão do Mar. “Dizem que a gente está no entorno deles, mas não, eles é quem estão no nosso entorno. A gente está aqui há muito mais tempo”, acrescenta Sérgio.

São 114 anos de uma história que se mistura com o próprio mar. “Na verdade, o aniversário é da Ponte Metálica. Mas, a gente toma emprestada a data da ponte porque a gente acredita que, justamente na inauguração do porto, na Ponte Velha, o núcleo de habitação de moradores começou a surgir”, explica o morador. Tanto o aniversário da Praia de Iracema quanto do Poço da Draga serão celebrados de formas diferentes este ano e Rocha indica: o melhor presente que a população fortalezense pode dar é o incentivo aos empreendedores do local, que tiveram seus comércios e outros serviços afetados pela pandemia.

Os moradores do Poço da Draga estão recebendo doações de kits de higiene e outras colaborações.

Mais informações: (85) 9 8636 7842 (Sérgio Rocha) e (85) 98775 3596 (Marilac)

“Praia de Quem?”: A Reportagem Vestível de Iury Figueiredo

A relação do jornalista Iury Figueiredo com a praia começa ainda criança, quando ia com sua mãe esperar o pai sair do trabalho. Vista por ele como um bairro de lazer, tudo mudou quando, à época que trabalhava em um jornal da cidade, foi pautado para a cobertura da remoção da feira José Avelino, tradicional ponto de venda de roupas de Fortaleza. “O cenário que vi era completamente diferente do que estava acostumado a ver. A José Avelino para mim era um lugar mágico. No dia que fui cobrir, me chamou atenção o cenário de guerra: ônibus pegando fogo, tratores, polícia. Isso me despertou a atenção”, relata.

Desde então, o interesse por entender o conflito de interesses que cercam a feira e o bairro acabou se tornando objeto de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o “Praia de Quem? Uma Reportagem Vestível”, pensado a partir de reflexões sobre jornalismo contemporâneo. “Com a ajuda do meu orientador, Edgard Patrício, a gente começou a pensar no conceito de um autor que fala em Atos de Jornalismo: jornalismo para ele não é, obrigatoriamente, um ato só, mas um conjunto de práticas, técnicas. Eu comecei a pensar como outras coisas tinham essa capacidade jornalística e documental, como a estampa da camisa que, tal qual um grafite, são elementos que são vistos”, explica o jornalista.

Nas 11 peças da coleção de Iury, o jovem conta histórias do Poço da Draga, assim como tensiona as divergência de discursos e interesses que circulam a Praia de Iracema. Segundo ele, principal conceito do trabalho é “tocar o jornalismo através de uma camisa e pensar a potência desse ato de comunicação que uma camisa pode ter”. “Também tem o elemento da hierarquia: eu leio primeiro o que está na frente da camisa, como se fosse meu título, meu abre em uma reportagem. O que está atrás é como se fosse o aprofundamento. Na parte de dentro das camisas, tem coisas que escrevi à mão, por exemplo. Se relaciona com outro elemento jornalístico, que é a opinião”, complementa.

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