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Projeto A Maré Vida oferece surfe adaptado para pessoas com deficiência

Com sede na Praia do Futuro, em Fortaleza, a iniciativa atende gratuitamente 12 pessoas e precisa de recursos para ser ampliado
14:29 | Mar. 10, 2020
Autor Lais Oliveira
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Lais Oliveira Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

O esforço para chegar à praia sobre a cadeira de rodas é dobrado, mas a sensação de liberdade que só o mar oferece compensa. Para Emerson Martins Paiva, 47, e Cristiano Freitas, 46, a maré trouxe de volta a vida que parecia ter sido limitada pelas circunstâncias físicas. Por meio do projeto de surfe adaptado A Maré Vida, que funciona há quatro anos na Praia do Futuro, em Fortaleza, o amor ao surfe se transformou em fôlego de superação diária.

Após um acidente de trânsito, Emerson se viu tetraplégico aos 22 anos. Surfista desde cedo e atleta enérgico, a perda dos movimentos dos braços e das pernas parecia uma realidade impensável. “Para todos é difícil, mas a gente acaba vendo que a vida segue e ninguém vai esperar por ti”, reflete. Depois de três anos de internação e 17 anos de natação, Emerson sabia que voltar a surfar era uma necessidade.

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O retorno às ondas só foi possível graças ao reencontro com o amigo e surfista Luiz Gustavo Oliveira da Costa, 42, o Gustavim. Anos atrás, Luiz Gustavo, proprietário da escola de surfe PF Surf School, havia auxiliado um amigo paraplégico a voltar a surfar. “Isso deu o start para que pudéssemos atender mais pessoas com deficiência física, visual e limitações cognitivas. A gente foi se moldando e foi dando certo”, relembra.

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Oficialmente, o projeto A Maré Vida nasceu em 2016, como um braço social da PF Surf School fundado por Luiz Gustavo e duas amigas, a médica acupunturista Camila Lima e a educadora física Raíssa Forte. Hoje apenas Luiz Gustavo está à frente das atividades. São 12 alunos assíduos do projeto, entre pessoas paraplégicas, tetraplégicas, amputadas e com paralisia cerebral, síndrome de Down e autismo. A faixa etária dos frequentadores do projeto varia entre 8 e 47 anos.

Conforme Luiz Gustavo, também profissional de educação física, quando uma pessoa procura as aulas do A Maré Vida, inicialmente passa por um diagnóstico primário. Em seguida, é planejada uma aula de acordo com as necessidades individuais do aluno. “O surfe é para todos. Não tem limitação física, etária ou interpessoal. Para quem sentir que pode fazer e quer fazer, as portas estão abertas”, convida.

O atleta paraplégico Cristiano Freitas, 46, conheceu o projeto por meio de um amigo há cerca de um ano. Desde então, às terças-feiras e quintas-feiras ele sai de casa na Barra do Ceará e dirige seu carro adaptado até a casa de Emerson Martins, na avenida José Bastos. De lá, os dois seguem em direção à Praia do Futuro. Cada aula dura em média 50 minutos e é acompanhada de perto por um dos professores do projeto. 

O surfe fazia parte da rotina de Cristiano desde a adolescência. Porém ele perdeu o movimento das pernas aos 33 anos, após ser atingido por tiros durante um assalto. Cinco cirurgias e duas paradas cardíacas depois, o diagnóstico médico apontava que Cristiano tinha 5% de chance de sobreviver. “Depois de 23 dias em coma, acordei. Quando soube que eu não ia poder mais andar, eu ri. Como eu ia ficar revoltado se só tinha 5% de chance de sobreviver e estou aqui contando a história?", recorda.

Passados três anos de recuperação, Cristiano já havia voltado para o surfe por iniciativa própria. Mas foi no A Maré Vida que ele encontrou o suporte que necessitava para continuar a evoluir como atleta, além do apoio dos novos amigos. “Já era feliz e agora estou mais feliz ainda por estar surfando. Agora é só 'respirando' surfe”, garante.

Projeto busca por apoio estadual

A Maré Vida se mantém com os recursos da PF Surf School. Os materiais adaptados para pessoas com deficiência utilizados nas aulas são custeados pela escola de surfe. Além disso, alguns professores da PF Surf School são escalados para dar aula no e também recebem pagamento por seu trabalho. Mensalmente, as despesas chegam a R$ 1 mil.

Em busca de captar mais recursos para ampliar o projeto, Luiz Gustavo inscreveu o A Maré Vida no III Edital de Projetos Desportivos e Paradesportivos – Incentivo ao Esporte Cearense, lançado pela Secretaria do Esporte e Juventude do Estado do Ceará (Sejuv) neste ano. O edital prevê um orçamento anual de até R$ 300 mil para os projetos contemplados. “Com o dinheiro, poderíamos funcionar todos os dias da semana, em dois turnos e contratar até oito professores”, planeja Luiz Gustavo.

Segundo ele, entre as principais necessidades do projeto atualmente estariam uma cadeira anfíbia, utilizada para possibilitar que pessoas com deficiência ou baixa mobilidade entrem no mar, e uma esteira de acesso à praia. Os equipamentos poderiam facilitar o deslocamento entre a sede da PF Surf School e o mar. Hoje o trajeto com cerca de 300 metros é feito dificultosamente de forma manual pelos professores.

Enquanto aguarda o resultado do edital, o projeto busca patrocínios privados. Foi assim que o primeiro campeonato de surfe adaptado do A Maré Vida ocorreu em janeiro, com a participação de 15 paratletas. O surfista Emerson Martins já se prepara para o próximo. “Até então ninguém olhava para a pessoa com deficiência na praia. Hoje em dia a gente olha como atleta”, considera.

O surfista Cristiano Freitas sonha com um campeonato estadual de surfe adaptado e reivindica mais atenção do poder público para as iniciativas esportivas voltadas para pessoas com deficiência. “Seria um reconhecimento para nós. A gente quer mostrar para quem não se acha capaz que eles são capazes”, finaliza.

Como ajudar:

A Maré Vida

Funcionamento: terça-feira e quinta-feira, das 14h45min às 17 horas.
Onde: avenida Clóvis Arrais Maia, 3070 - Vicente Pinzon, Fortaleza
Contato: (85) 98837 8608 (Luiz Gustavo)
Mais informações: @amarevida (Instagram)

PF Surf School
Onde: avenida Clóvis Arrais Maia, 3070 - Vicente Pinzon, Fortaleza
Funcionamento: terça-feira a domingo
Contato: (85) 98111 0992
Mais informações: @pfsurfschool (Instagram)

 

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