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Moradores da Aldeota reclamam de esgoto a céu aberto; Cagece indica descarte irregular

Segundo moradores, o problema é recorrente. Existe uma mobilização por parte de moradores e comerciantes para chamar a atenção de órgãos públicos, mas reparos são paliativos
23:09 | Mai. 07, 2019
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Tipo Notícia

O mau cheiro insuportável, a lama espalhada pelas ruas e os rostos insatisfeitos de moradores e comerciantes denunciam: há pelo menos um ano, segundo Marilene Serra, síndica de um edifício no bairro Aldeota, os esgotos das ruas Desembargador Leite Albuquerque e Osvaldo Cruz irrompem de forma recorrente e espalham os dejetos pelas ruas, que ficam intransitáveis em dias de chuva.

O POVO Online, em visita ao local na manhã desta terça-feira, 7, conversou com moradores e apurou os principais problemas de quem transita por lá.

Ignácio Capelo, proprietário de dois restaurantes na Desembargador Leite Albuquerque, conta que se sente bastante prejudicado com a situação, chegando a perder clientes nos últimos meses, que deixaram de frequentar o espaço por conta do mau cheiro. Segundo ele, que trabalha no local há cinco anos, duas caixas de esgoto das ruas Desembargador Leite Albuquerque e Osvaldo Cruz transbordam e alagam a região. “A gente não está falando de uma coisa sutil e esporádica, ela é frequente e intensa”, revela Ignácio.

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As marcas de que o problema é persistente são visíveis. Existem manchas nas calçadas e nas bordas das caixas de esgoto. Além da preocupação com a rotina do bairro, a questão da saúde se tornou um ponto sensível. Um vigilante de um comércio chegou a adoecer por causa do constante contato com o problema, denuncia Marilene.

Fátima Nogueira, proprietária de uma loja que vende flores na cruzamento da ruas Oswaldo Cruz com Desembargador Leite Albuquerque, reclama que a situação da região diminui o lucro do seu estabelecimento. Segundo ela, a redução no último mês foi de 50% na entrega de produtos. A proprietária reclama da Cagece, que apenas ameniza os danos do esgoto, mas não consegue pôr fim ao problema nas ruas do entorno do estabelecimento dela.

Marilene Serra, moradora do local há 37 anos e síndica do prédio onde reside, disse que moradores deixaram de sair de casa por causa do mau cheiro do esgoto nos últimos meses. Foi ela quem alertou que um vigilante de um comércio na rua Norvinda Pires adoeceu e conta com pesar a situação por quem passam ela e outros moradores do Edifício Santos Dumont. O transtorno sempre existiu, diz ela, mas "de um ano para cá, piorou". A moradora também se preocupa com a "sujeira do esgoto que traz doença". Como síndica, recebe reclamações dos outros moradores e, mesmo passando-as à Prefeitura, a resolução do impasse não tem solução definitiva, trazendo mais preocupação para a síndica.

Na manhã desta terça,7, em visita ao local, O POVO Online verificou que a situação estava mais amenizada. Mesmo assim, cheiro forte e pequenas poças ainda podiam ser encontrados no local.
Na manhã desta terça,7, em visita ao local, O POVO Online verificou que a situação estava mais amenizada. Mesmo assim, cheiro forte e pequenas poças ainda podiam ser encontrados no local. (Foto: Mauri Melo)

Dono de uma barbearia na rua Oswaldo Cruz há quatro anos, José Milton afirma que os resíduos presentes na água do esgoto prejudicam o fluxo de clientes no local . “Os clientes se sentem incomodados e, muitas vezes, deixam de vir [à barbearia], pois não há condições deles descerem do carro aqui em frente”, declara. Milton ainda mostrou as marcas de água do esgoto que ficaram dentro de seu estabelecimento na última vez em que a tubulação rompeu. Não foi somente uma vez que o esgoto invadiu alguma residência. Tanto a barbearia quanto a loja de Dona Fátima sofreram com esses transtornos. 

Uma mobilização para enfrentar e tentar solucionar o problema já é feita pela população. Eles já entraram em contato com órgãos competentes diversas vezes, mas recebem respostas paliativas, o que faz com que o quadro seja recorrente. Só nas duas últimas semanas, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) visitou o local três vezes, inclusive na tarde da segunda, 6. Um dos principais impasses, segundo as pessoas, é que a Cagece havia dito que os esgotos irrompiam por conta do acúmulo de gorduras que vêm das casas e comércios do local. A população nega a versão, afirmando que existe um cuidado especial em relação à isso e que é obrigação das autoridades, cuidar e zelar pela infraestrutura da rua.

Em nota oficial, a Cagece informou que o problema de extravasamento foi solucionado na tarde da segunda, 6. Após analisar as imagens registradas pela reportagem na manhã desta terça-feira, a assessoria afirmou que a água espalhada na via não é do esgoto, mas de provável descarte irregular. A equipe da companhia esteve no local após a reportagem, e afirmou que se trata de "água servida", que é aquela proveniente da totalidade do esgoto doméstico ou comercial.

A Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis) foi procurada pela reportagem na tarde desta terça-feira, 7, e afirmou que enviará uma equipe de fiscais ao local para verificar se a água acumulada na extensão da via é resultado de lançamento irregular de água servida/esgoto por parte de moradores ou estabelecimentos da área. Segundo a nota, a prática é passível de multa, que varia de acordo com o nível de poluição gerada e a reincidência, conforme o Código de Obras e Posturas (Lei 5.530/81).

Vídeo enviado para WhatsApp do O POVO Online mostra a situação das ruas quando os esgotos irrompem:

Consequências para a saúde

Conforme explica Magda Moura de Almeida, especialista em Saúde Comunitária, o contato com um esgoto a céu aberto pode acarretar diversas doenças, dentre elas a Hepatite A e Leptospirose, que podem levar à complicações hepáticas e renais graves.

Para a prevenção, segundo Magda, é importante cobrar dos gestores a construção e manutenção de redes de esgoto e seu tratamento. “Além da população fazer a dispensação correta do lixo doméstico e evitar ligações clandestinas à rede de esgoto.”, complementa.

Colaborou a repórter Izadora Paula

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