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Esposa de PM luta há 4 anos para garantir direitos do marido que perdeu os movimentos após acidente

Kelly tenta obter o benefício do Fundo de Defesa Social e garantir os direitos do companheiro
22:42 | Abr. 25, 2019
Autor Jéssika Sisnando
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Jéssika Sisnando Repórter
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Tipo Notícia

Roberta Kelly Braga Albuquerque, 35 anos, e Alessandro de Jesus Cordeiro, de 41, estão juntos há 20 anos. O casal tem duas filhas e a família viu a vida ser modificada de uma forma brusca no dia 11 de abril de 2015, quando Cordeiro, que é soldado da policial militar (PM), foi vítima de um acidente de motocicleta a caminho do quartel, na avenida Coronel de Carvalho, em Fortaleza. Alessandro não fala e tem um lado do corpo paralisado.

Roberta Kelly foi obrigada a deixar de lado o salão de beleza que administrava para oferecer dedicação exclusiva ao soldado Cordeiro. O que era rotineiro, como um banho ou uma troca de roupa, tornou-se uma tarefa complicada. Kelly teve ajuda de praças e oficiais, que se reuniram em prol de Alessandro. Eles compraram fraldas, prepararam o quarto e, após quatro anos do acidente, ainda realizam doações e fazem visitas constantes.

Cordeiro teve ajuda da Associação de Profissionais de Segurança (APS), que forneceu alimentação especial para o policial por aproximadamente quatro meses. O soldado, que tem 20 anos de corporação, devia ter obtido a graduação de sargento, mas segue como soldado. Os trâmites jurídicos estão em andamento, conforme a esposa.

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Há dois anos, uma das maiores lutas de Kelly é para obter o benefício do Fundo de Defesa Social. Ela explica que todos os militares têm um valor descontado do salário, que serve para os custos de colégios militares, hospitalares e também para o presídio militar. Cordeiro teve direito a R$ 37 mil. Esse valor não vai para os familiares, mas para o órgão de segurança responsável pela compra de material. Kelly disse que, desse valor, foram repassados R$ 5 mil em alimentação. Há dois anos ela busca o restante do benefício para a compra de um equipamento (guindaste) que ajudaria Kelly na locomoção de Alessandro na cama, poltrona e cadeira de rodas.

Três vezes na semana, o soldado passa por sessões de fisioterapia no antigo hospital da Polícia Militar, que agora é chamado de Maternidade José Martiniano de Alencar. A ida e a volta são realizadas por ambulância da Polícia Militar. Parte da medicação e da alimentação especial, que é feita por sonda, é fornecida pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa).

Apesar da ajuda, ela gasta em média R$ 800 com remédios. O casal mora de aluguel e também tem o orçamento comprometido com as duas filhas. Cordeiro melhorou em relação ao período do acidente e demonstra esforço para fazer movimentos. O fardamento dele segue na residência. Na época do acidente estava lotado no Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur). Ao passar pelo corredor da casa, na cadeira de rodas, ele desvia o olhar para as fotos da família, que mostram momentos dele na praia com as duas filhas.

Ao comentar sua progressão, Cordeiro pisca o olho várias vezes. Kelly explica que é um sinal dele concordando. O policial não fala e teve todos os movimentos paralisados de um lado do corpo. No entanto, a todo momento, Alessandro demonstra a luta pela vida. Ele teve depressão e cinco pneumonias no ano passado. Durante a visita da reportagem, ele escutava música. Mas Kelly diz que ele também fica atento aos programas de TV. 

A esposa do PM briga para garantir os direitos do marido e explica que já foi várias vezes ao Comando Geral da Polícia Militar e também para conversar com assistentes sociais na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no entanto, não sabe quando chegará o benefício do fundo de defesa social. Ela recebeu, em 2017, uma cadeira de rodas do Comando Geral, após quase dois anos de espera.

Kelly, que optou por mudar toda a rotina para cuidar do companheiro, diz que muitas vezes se sente humilhada ao tentar buscar os direitos do marido e que, por se tratar de uma situação que depende de profissionais da segurança, ela esperava que tudo fosse resolvido com urgência. Mesmo com tantas dificuldades, a companheira reafirma o sentimento que a move a lutar. Enquanto ela fala, Cordeiro limpa, discretamente, a lágrima do canto do olho com um lençol e permanece com a visão voltada para as fotos da família.  "O amor e o carinho que eu sinto por ele só cresceu depois disso. A maior demonstração disso é a minha dedicação exclusiva a ele", diz Kelly.

Respostas 

A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) informou que o Fundo de Defesa Social é de responsabilidade da SSPDS, que afirmou, por meio de nota, que a Polícia Militar está elaborando um termo de referência para aquisição de um equipamento adequado (guindaste), que será utilizado para auxiliar na locomoção do soldado Cordeiro.

A SSPDS ainda divulgou que seguem em curso as ações com a Central de Licitações da Procuradoria Geral do Estado (PGE). "Esse recurso só pode ser despendido por meio de contratações originárias de licitações públicas e estas seguem em suas fases internas (termo de referência, pesquisa de preços e elaboração de editais)", informou.

A SSPDS disse que o equipamento tem características específicas que demandam tempo na aquisição, no entanto as medidas legais para a necessidade do profissional de segurança estão sendo adotadas. A SSPDS não divulgou um prazo para o fim dos trâmites. 

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