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Sobrevivente de chacina reclama de falta de assistência

| CHACINA DAS CAJAZEIRAS | Defensoria Pública afirma que apoio foi dado, mas esbarrou em falta de políticas públicas
05:00 | Jan. 29, 2019
Autor Lucas Barbosa
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Lucas Barbosa Repórter do caderno de Cidades
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Tipo Notícia

É com suspiro e desânimo que uma das sobreviventes da Chacina das Cajazeiras, que completou um ano no dia 27, recebe mais uma equipe de reportagem. "Ninguém vem aqui para me dar um auxílio. Só vem me fazer lembrar da minha dor", diz, às lágrimas. Rodeada pelos filhos, ela, que terá a identidade preservada, reclama não ter tido nenhum tipo de apoio por parte do Poder Público.

Conforme a Defensoria Pública e a Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social de Fortaleza (SDHDS) houve sim atendimento às vítimas. No entanto, a defensora pública Gina Moura, coordenadora da Rede Acolhe, reconhece que os órgãos esbarraram em problemas como a resistência das famílias, devido ao medo, e a falta de políticas públicas próprias à assistência de vítimas da violência. A rede realiza assistência jurídica e faz a articulação com equipamentos públicos de assistência social, como os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas).

O POVO conversou com uma fonte ligada a uma igreja do bairro que teve contato com quase todas as famílias das 14 vítimas mortas no Forró do Gago. Foi no templo que muitas doações chegaram para familiares e sobreviventes. Assim como outros lideranças religiosas do bairro ouvidas pela reportagem, a religiosa, cuja identidade é preservada, endossa a falta de assistência governamental. "Quem abrigou foi a comunidade", diz. Apesar das perdas irreparáveis para todas as famílias, ela destaca a situação ainda mais vulnerável de duas famílias em especial, que perderam os responsáveis pelo sustento de suas casas.

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Uma é a família de um homem, que o tinha como único provedor. Dois filhos têm graves problemas de alergia e dependem de medicação. "A mistura, para comida, é o mais difícil. O resto a gente até consegue", diz a religiosa.

Outro caso que ela cita é o da família de uma mulher. A filha mais velha é quem ficou com a responsabilidade de criar os irmãos. "A casa onde moram é muito pequena, é só uma parede no meio, tem o piso todo arrebentado". É o Bolsa Família o responsável pelo sustento.

A sobrevivente ouvida por O POVO ainda revela condições financeiras agravadas com as chuvas. Morando em uma rua sem saneamento adequado, a lama entrou na casa e fez com que ela perdesse alguns dos poucos móveis. Foi com doação que o portão da residência foi restaurado, por exemplo. "Recebo as coisas que me dão, não vou ficar pedindo".

Gina Moura afirma que faltam políticas públicas que garantam renda a essas famílias. Além disso, cita, existem carências nos equipamentos de socioassistência, como o desaparelhamento e a alta rotatividade dos profissionais. "A gente quer, acima de tudo, reforçar isso (a assistência às vítimas) como uma política de segurança pública, que venha minimizar os efeitos dessa violência e, inclusive, prevenir no futuro", afirma a defensora.

O POVO entrou em contato com a SDHDS para saber sobre a atuação da pasta na assistência referente ao caso da Chacina das Cajazeiras, mas até o fechamento desta página não obteve retorno.

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