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Confira detalhes dos maiores tremores de terra registrados no Ceará

Há o registro de pelo menos 8 eventos de grande magnitude. Um deles, que ocorreu em Pacajus no ano de 1980, está entre os mais significativos do Brasil
22:10 | Out. 18, 2018
Autor Izadora Paula
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Izadora Paula Estagiária do portal O POVO Online
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Tipo Notícia
Há exatos 30 anos, no dia 18 de outubro de 1988, um tremor abalou pelo menos seis municípios cearenses e apavorou a população dos locais atingidos. O POVO realizou levantamento histórico e trouxe mais informações sobre o fato. Agora, apresenta também detalhes sobre os maiores tremores de terra que foram registrados no Ceará.

Tremores de terra (sismos) são fenômenos frequentes na história brasileira. De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará, o Nordeste é uma das regiões mais ativas, principalmente nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. No Ceará, há o registro de pelo menos 8 eventos de grande magnitude. Um deles, que ocorreu em Pacajus no ano de 1980, está entre os mais significativos do Brasil.

De acordo com registros divulgados pela Defesa Civil, considera-se que boa parte dos sismos ocorridos no Ceará é de microtremores, com magnitude de até 1,5 grau na escala Richter e, na maioria das vezes, não são sentidos pela população. As informações são do Núcleo de Sismologia da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil.

Dois eventos de grande significância não tem registros quanto à sua magnitude e intensidade, talvez pela época em que ocorreram. O primeiro deles ocorreu em Pereiro, município localizado a cerca de 300km de Fortaleza, no ano de 1807. Em Granja, a 300km da Capital, direção sul, um abalo sísmico foi registrado no ano de 1810.

Depois desses dois, o Estado esteve sem registros de abalos por 109 anos. Em Maranguape, no dia 24 de novembro de 1919, um tremor que atingiu magnitude de 4,4 na escala Richter foi registrado. 

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Pereiro, 1968

O município de Pereiro voltou a tremer no ano de 1968. Matéria da época publicada no O POVO noticiou que tremores tinham sido testemunhados em agosto de 1913, quando a cidade não possuía telégrafo e outros meios de comunicação da época, por isso o acontecimento não teve grande repercussão. 

O texto informa que "intensivos tremores de terra registraram-se na localidade" desde o mês de janeiro daquele ano. No dia 23 de fevereiro, registrou-se tremor de magnitude 4,6 na escala Richter - o maior daquela série de sismos.

"Desde o dia 13 (de janeiro) o fenômeno vinha se repetindo quase às mesmas horas", noticiou O POVO. Em 4 de fevereiro, no povoado de Junco, próximo a Pereiro, foram registrados 12 estrondos sucessivos. No dia 15 de fevereiro, mais um violento abalo foi registrado. Em virtude desse caso, o Secretário da Viação, Minas e Energia, engenheiro Fernando Mota, deslocou-se até a cidade com um geólogo para investigar o caso. Quando retornou à Capital, apresentou ao Governador da época, Plácido Castelo, um relátorio que sugeriu a visita de técnicos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).

O grande tremor, registrado no dia 23 de fevereiro, foi sentido nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará - com ênfase no município de Pereiro. A matéria publicada afirma que grande parte da população esteve apavorada e se evadiu para locais "supostamente seguros". Neste dia, os eventos foram tão intensos que foi declarado estado de calamidade pública.

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Alguns prédios de Pereiro ruiram por completo, enquanto grande parte dos outros apresentaram fendas e rachaduras, ficando sujeitos a desabamentos. Foi informado que no distrito de Ererê, dentro de Pereiro, houve uma morte: um senhor, que não teve a identidade divulgada, tentando pular por uma janela de sua casa para fugir dos destroços no momento em que a edificação desabava, sofreu uma violenta queda e morreu no local. 

Uma senhora também teria sido atingida pelo desabamento de um prédio e ficou em estado grave, precisando ser transferida para a cidade de Jaguaribe para receber atendimento médico. 

Os tremores foram registrados em outras localidades cearenses, como Orós, Jaguaribe, Icó, Iracema, Senador Pompeu e Cedro, porém não houve maiores consequências. Um rádio-amador, meio de comunicação comum à epoca, informou que os abalos foram sentidos também na zona do Cariri, principalmente na cidade do Crato. "Informou que funcionários da agência do Banco do Brasil naquele município comunicaram à direção do estabelecimento em Fortaleza a ocorrência, solicitando urgentes providências, como a ida de um técnico para verificar a segurança do prédio da agência do Crato".

Pereiro precisou pedir auxílio à cidade de Jaguaribe, solicitando unidades médicas e viaturas para ajudar a evacuação da população. Foram enviados telegramas ao Governador do Estado, informando o abalo e solicitando uma nova comissão de geólogos para um estudo mais aprofundado.

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Pacajus, 1980 
 
Considerado o maior abalo sísmico registrado no Ceará, o tremor que aconteceu no dia 20 de novembro de 1980 em Pacajus também está entre os maiores do Brasil. Atrás de eventos que aconteceram na Serra do Tombador, Mato Grosso (6,2 de magnitude) e Vitória, no Espírito Santo (6,1), o evento está empatado em terceiro lugar com um tremor que ocorreu em Tubarão, Santa Catarina; ambos registraram magnitude de 5,5 na escala Richter.

Conforme noticiado pelo O POVO, o abalo feriu alguns moradores e provocou a morte de uma criança de quatro meses de idade, residente no povoado de Feijão, distrito de Pacajus. A localidade fica a 52km da Capital. O POVO visitou Timbaúba, um povoado de cerca de 500 habitantes onde a maioria vive em casas de taipa. Dada a pouca resistência das residências, poucas pessoas não foram atingidas pelo fenômeno. Assustados, os moradores mudaram-se para os quintais, como medo de serem soterrados caso as casas desabassem. Estando desabrigados, muitos dos moradores reclamavam do frio que fazia durante a noite.

Um dos feridos foi Luis Viturino dos Santos, que dormia quando uma telha desabou em sua cabeça, ferindo-lhe. A esposa dele, que "sofria dos nervos", esteve totalmente fora de si. Os dois foram até o posto médico de Chorozinho em busca de atendimento médico. José Antonio do Nascimento também foi atingido por telhas na cabeça e no peito. Ele levou dois pontos na cabeça e sentia dor no peito quando foi entrevistado, no dia seguinte.

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A vítima que morreu era morador de Feijão, distrito de Pacajus. A criança de quatro meses era um menino, e foi levado pelos pais para ser enterrado no cemitério de Timbaúba na tarde de 20 de novembro.

Em Timbaúba, um bar pegou fogo em consequência do tremor de terra. Segundo relatos do proprietário, Luís Francisco de Oliveira, a causa do incêndio teria sido uma geladeira a gás, que foi danificada e fez com que o gás escapasse, entrando em combustão. Ele ainda tentou salvar alguns bens, mas tudo que conseguiu retirar das chamas foram algumas caixas de bebida.

Muitos foram os relatos de prejuízo financeiro. A maioria da população vivia de agricultura e da venda de castanhas de caju à empresas locais. Eles relataram à reportagem estarem muito preocupados com sua situação econômica, já que não teriam condições de reparar todos os seus prejuízos. Marilene de Sousa Silva até informou pensar em reunir uma comissão para ir até o governador do Estado pedir auxílio. 

A Igreja e a sede da escola de 1º Grau Gregório de Turino, considerados os melhores prédios do lugarejo, foram bastante atingidos. Ambos seguiam fechados, não podendo oferecer condições seguras para que a população adentrasse em suas dependências.

Os abalos foram sentidos em outras localidades. Em Lagoa do Cedro, várias casas também foram avariadas. Em Quixeramobim, na rua Miguel Pinto, todas as casas sofreram avarias. Em Quixadá, houve quem passasse mal, com medo dos tremores. Três pessoas foram feridas em Itaitinga, município de Maranguape. 

Em Fortaleza e no Crato, os abalos foram apenas sentidos, sem consequências mais sérias.


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Palhano, 1989

No ano de 1989, Palhano registrou um tremor de terra de magnitude 4,5. Em Fortaleza, o abalo foi tímido e não pode ser sentido com grande intensidade. Relatos colhidos pelo O POVO demonstram que, do Bairro de Fátima a Messejana, tremores "imperceptíveis para quem estivesse de pé ou fazendo alguma atividade" foram registrados. Entrevistadas pela reportagem, testemunhas disseram ter sentido apenas "vibrações" ou "balanços".

Entretanto, nas cidades de Palhano e Russas, 152km e 168km distantes da c
Capital, respectivamente, os abalos foram sentidos por mais de uma vez. O prefeito de Palhano, João Mateus Filho, não soube informar a intensidade dos tremores, mas os comparou com os que ocorreram na cidade no ano anterior. À época, abalos também foram registrados no estado do Rio Grande do Norte.

O prefeito afirmou ter entrado em contato com o Coordenador da Defesa Civil, João Alfredo Pinheiro, que prometeu o envio de barracas para abrigar aqueles que estavam temerosos de permanecer em casa. Segundo ele, houve desabamentos parciais e muitas casas sofreram rachaduras, mas não houve vítimas. Uma mulher grávida foi mandada para Russas às pressas, em busca de atendimento médico. Em Palhano, várias pessoas foram atendidas com distúrbios nervosos em decorrência dos abalos. 

O geógrafo Caio Lóssio Botelho, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), tranquilizou a população ao informar que não há possibilidade de ocorrerrem terremotos no Brasil, muito menos no Nordeste. "Os abalos registrados representam apenas uma acomodação da crosta terrestre, não significam risco de desabamentos de edifícios, a não ser edificações frágeis, como algumas casas de taipa ou outras mal projetadas".  

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Irauçuba, 1991

O segundo maior abalo sísmico registrado no Ceará aconteceu no dia 19 de abril de 1991, entre os municípios de Sobral e Itapipoca. O fenômeno ocorreu por volta de 7h e foi sentido também em Fortaleza, Teresina e nos municípios da Zona Norte, principalmente Irauçuba, Itapajé e Bela Cruz. 

Segundo matéria da época, o tremor não causou grandes danos, tendo sido registrados apenas pequenas rachaduras em prédios. Também sentido em Quixeramobim, onde se registraram rachaduras de casas e algumas antenas de televisão, e em Maracanaú. Na Capital, os bairros atingidos foram a Aldeota, Montese e Aeroporto. No Centro da Cidade, funcionários do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) informaram que o prédio tremeu.

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Apresentando um histórico detalhado, a reportagem do O POVO relata que foram registrados 147 tremores de terra com magnitude acima de 2 pontos na escala Richter no Estado até aquela data. "A mais recente atividade sísmica ocorreu em Palhano, no dia 26 de março de 1989, com magnitude de 4,5
graus. Pelo que se tem notícia, esses fenômenos ocorrem no Estado desde agosto de 1807, atingindo principalmente a área do Baixo Jaguaribe. De lá para cá, foram registrados 1.670 tremores, de maiores e menores magnitudes, tendo somente em 1989 os sismógrafos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte observado abalos nos meses de março, maio e agosto".

Mais uma vez, foi rechaçada a possibilidade de um terremoto, com informações de especialistas ressaltando o posicionamento geológico do Brasil, que está localizado numa zona de estabilidade da crosta terrestre, o que tira a possibilidade quase que total de acontecerem sismos catastróficos no País. 

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Sobral, 2008

Pelo menos quatro tremores de maior intensidade foram sentidos no dia 21 de maio de 2008 no Ceará. O número total de abalos foi estimado em uma centena por especialistas. A maioria deles, contudo, só pode ser registrada por aparelhos. O epicentro foi o município de Sobral.

Por volta das 16h25min, o tremor de 4,3 graus de magnitude na escala Richter foi registrado. Cinco minutos depois, um novo tremor, de 3,9 graus, atingiu novamente a cidade de Sobral. Testemunhas relataram que o abalo repercutiu em Fortaleza, 233km distante da cidade.

Na época, o doutor em Geofísica e professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), George Sand França, levantou a possibilidade de novos tremores serem sentidos em seguida. Embora ínfimas, a possibilidade não poderia ser descartada. 
 
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O técnico em sismologia do Laboratório de Sismologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Eduardo Alexandre de Menezes, afirmou que o sismo que estava ocorrendo na Zona Norte do Estado pode durar vários anos. "Esse foi o caso ocorrido com o município de João Câmara (RN). A atividade sísmica durou seis anos e chegou a 5,1 graus na escala Richter. Cerca de 4 mil imóveis ruíram e várias imóveis foram danificados. Hoje, a equipe de pesquisadores da UFRN deverá analisar a extensão do evento em Sobral", relatou reportagem do O POVO.

O fenômeno foi sentido em vários pontos do Ceará. Moradores de Itapajé, São Luís do Curu, Santana do Acaraú e Senador Sá também relataram ter testemunhado o abalo. Também sentido em Fortaleza, O POVO entrevistou moradores da Capital e relatou os momentos de confusão e apreensão durante o tremor.
 
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Em Sobral, no entanto, os tremores foram mais fortes e consecutivos. Levaram a população a viver momentos de pânico, quando escolas e universidades pararam as atividades, temendo pela segurança. Moradores deixaram suas casas para se abrigar em praças e ruas. Edificações apresentaram rachaduras, embora não tenham sido registradas vítimas. 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) registrou mais de 100 ligações, a maioria com relatos de susto ou mal-estar sofridos pela população que tinham problemas cardíacos ou hipertensão. O medo levou algumas pessoas a dormir na rua, sob lonas, com medo de desabamentos. Algumas pessoas, desesperadas, acreditavam se tratar do fim do mundo.  
 
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Sem mortos ou feridos, as pessoas enfrentaram noites frias ao se abrigar em praças públicas, com medo de que um novo abalo sísmico derrubasse o teto sobre suas cabeças. Crianças e idosos estavam entre os mais assustados. 
 
 
Colaborou Fred Souza

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