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Agente penitenciário morto na Grande Fortaleza estava "decretado" por facções, diz sindicato

Outros cinco agentes estariam marcados para morrer. Sindicato da categoria afirma que a vítima sofria ameaça de morte. Sejus diz que acompanha investigação da Polícia Civil
22:29 | Set. 13, 2018
Autor Jéssika Sisnando
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Jéssika Sisnando Repórter
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Tipo Notícia

Cinco agentes penitenciários foram "decretados", como diz a linguagem das organizações criminosas, ou seja, ameaçados de morte. A informação é do diretor do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sindasp), Natanael Andrade, que denuncia que um desses agentes seria Antônio Rodrigues Pessoa, 36 anos, que foi morto nessa quarta-feira, 12, em São Gonçalo do Amarante (Grande Fortaleza). A Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) divulgou a prisão de suspeitos e um terceiro identificado, que é fugitivo de uma Cadeia Púbica onde o profissional era lotado. Esse homem é procurado pela Polícia.

Conforme o diretor do Sindasp, Antônio Rodrigues era ameaçado. O agente era lotado em São Luis do Curu, mas dava reforço operacional na unidade prisional Desembargador Francisco Adalberto Barros de Oliveira Leal, conhecida como Carrapicho, em Caucaia (Região Metropolitana de Fortaleza). Ele já havia sido transferido de São Gonçalo do Amarante após ameaças. E no Carrapicho também foi alvo de represália das facções. O sindicato afirma que informou o nome dos cinco agentes ameaçados de morte e que essa denúncia aconteceu durante uma reunião com a Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus). A DHPP, em coletiva nesta quinta-feira, 13, disse desconhecer qualquer ameaça sofrida pelo agente e que os familiares também não descreveram qualquer ação de represália.

O presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, Cláudio Justa, informou que na reunião da manhã do dia 17 de agosto, no auditório da Sejus, a secretária da pasta, Socorro França, reuniu-se com os agentes e foi relatado a ameaça contra esses cinco profissionais que atuavam na Carrapicho. "A secretaria estava ciente de tudo", disse Justa.

No entanto, o presidente do conselho não soube informar se a situação de Antônio havia sido detalhada na reunião. De acordo com Natanael Andrade, as ameaças são constantes. O sindicato recebe denúncias diariamente. "Hoje (13) pela manhã agentes foram dar a alimentação dos presos e eles pegaram um grupo e disseram que na saída do plantão ia ter morte. Em todas as reuniões que fizemos com os representantes do Governo do Estado mostramos que os agentes estão sendo ameçados nas unidades e fora delas. Foi dado o nome dos colegas", relatou.

De acordo com um agente penitenciário, que pediu para não ser identificado, o clima entre os profissionais é de revolta. Conforme os profissionais, estão acontecendo paralisações em presídios cearenses. "Na CPPL III (Itaitinga) teve paralisação hoje e ontem (12), no Carrapicho", afirmou. Já o diretor do Sindasp disse que as ações não são são caracterizadas como paralisações, mas reconhece que foram suspensos atendimentos em decorrência da morte do agente. "São atendimentos que não trazem prejuízo".

A Sejus ainda não deu uma resposta sobre o que vai ser feito. "Não foi uma paralisação, foi a suspensão de serviços", disse Andrade. De acordo com o agente penitenciário que pediu para não ser identiicado, esses atendimentos que deixaram de acontecer são relacionados a fórum, advogado, escola e banho de sol para os presos. "Apenas são prestados os serviços necessários, tipo alimentação, médico, dentista. Só o básico", revela. 

 

Sejus diz que acompanha investigações. Leia na íntegra a nota do órgão

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A Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado informa que está acompanhando atentamente as investigações por parte da Polícia Civil. A Sejus ressalta que não tem medido esforços no sentido de reforçar a segurança das unidades prisionais e dos agentes penitenciários, seja com aquisição de equipamentos de segurança, seja com reformas nas unidades prisionais.

Somente neste ano já foram adquiridas 834 pistolas e aproximadamente 200 armas longas, armas que têm sido utilizadas para o acautelamento individual dos agentes prisionais e para garantir a segurança no exercício da atividade penitenciária. Estão em processo de aquisição outras 2.300 pistolas que serão acauteladas pelos agentes penitenciários. Também neste ano, com recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), a Sejus já adquiriu coletes balísticos, algemas e munição.

Dois presos e um identificado pela Polícia 

A Polícia prendeu nessa quarta, 12, em Caucaia, dois homens suspeitos da morte do agente. Italo César Batista Alves, de 18 anos, que vai responder por homicídio qualificado, já tem passagem na Polícia por porte ilegal de arma de fogo.

 

O segundo preso é Marcos Paulo Sousa Gomes, que respondia por receptação, estelionato e homicídio. O terceiro indivíduo, que responde por tentativa de homicídio, lesão corporal, receptação, porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, foi identificado e segue foragido. Ele está sendo procurado pela Polícia Civil e Polícia Militar.

Italo, conforme o delegado Leonardo Barreto, portava uma pistola calibre 380. No local do crime foram encontrados vestígios, entre eles estojos do mesmo calibre. O delegado relatou que será realizada a perícia na arma e na munição encontrada. Sobre a motivação, Barreto afirma que há linhas de investigação, mas que prefere manter em sigilo, e que, ao final do inquérito criminal, a motivação será apontada.

Ainda segundo o delegado, pelo menos três pessoas participaram da ação, no entanto, a hipótese de mais envolvidos não é descartada. A origem da arma de calibre 380 foi identificada e o proprietário da arma também, mas Barreto descartou o envolvimento dele na ação.

O delegado da 11ª DHPP informou que os criminosos conheciam a condição de agente penitenciário da vítima. Os dois que foram presos confessaram participação no crime, no entanto se afastaram da questão de ter sido a pessoa que atirou. A Polícia Civil vai colher evidências com os laudos periciais. "A arma de fogo vai fazer a microcomparação balística e a análise papiloscópica na arma utilizada', informou.

Conforme o coronel da PM Martins, Marcos Paulo foi preso e em seguida informou onde estava Italo, que foi capturado em um matagal da região. 

Crimes contra agentes penitenciários

Em março deste ano, agente penitenciário Carlos Antônio Bezerra, de 34 anos foi morto a tiros quando saía do plantão na cadeia pública de Orós.

Em abril deste ano, um agente penitenciário foi baleado na frente de casa, em Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza. A vítima estava lavando o carro quando foi abordada por criminosos que efetuaram disparos.

Em julho deste ano, um grupo armado invadiu a casa de um agente penitenciário. Na ação, um familiar do profissional foi atingido.

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