99 Pop realiza mutirão de checagem de motoristas cadastrados na Capital
Empresa verifica documentos dos motoristas e carros, além do estado de conservação dos veículos. Vistoria acontece após homem com cadastro falso no aplicativo ter abusado sexualmente de mulheres
[FOTO4]Após a prisão do técnico de radiologia Patrick do Nascimento, 26, acusado de usar conta de condutor no aplicativo de transporte 99 Pop para raptar e estuprar mulheres em Fortaleza, e série de reportagens do O POVO, a 99 Pop realizou nesta quarta-feira, 29, mutirão para checagem de motoristas cadastrados na Capital.
Na ação realizada no Shopping Iguatemi, a empresa está convocando os motoristas por meio de mensagem SMS. O serviço segue funcionando durante os dias úteis, no estacionamento do shopping, das 8 às 17 horas. Empresa espera checar até 2 mil motoristas e carros por semana.
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Os documentos verificados são o CPF, RG e CNH do motorista. Do carro são verificados o CVRL, como também o estado dos pneus, parte elétrica e artigos de segurança. Cadastros dos motoristas devem ser liberados entre dois a sete dias úteis após a verificação.
No último dia 20, a 99 Pop também afirmara em comunicado que adotaria tecnologia de reconhecimento facial. Por duas semanas foi realizada suspensão para a análise dos documentos de todos os novos motoristas do aplicativo. Os já ativos também devem passar pelo processo, mas sem a paralisação de atividades.
Uber
A Uber declarou ao O POVO Online que tem a segurança como principal prioridade. A empresa disponibiliza mecanismos de checagem desde o cadastro de motoristas e passageiros. Até o cartão de crédito cadastrado no aplicativo é considerado instrumento de comprovação de identidade, por exemplo.
Conheça alguns dos recursos da Uber para segurança:
- O usuário pode compartilhar o trajeto da viagem com alguém de confiança. Assim, dá para acompanhar o trajeto por GPS, em tempo real; placa e modelo do veículo; dentre outros detalhes;
- Automaticamente, por machine learning, corridas consideradas potencialmente arriscadas não são autorizadas pelo app;
- Mais recentemente, no fim de julho, a empresa inseriu símbolo de escudo sobre o mapa da viagem. Nele, há atalho para contatos de confiança e contato com a Polícia. É possível salvar até cinco contatos de confiança (como amigos e familiares) para compartilhar os trajetos das viagens regularmente em apenas um toque.
- A partir do botão de contato com a Polícia, liga-se diretamente com o 190 em caso de emergência ou situação de risco. O usuário terá destacadas a localização atual e informações do veículo em viagem.
- A Central de Segurança inclui as informações mais importantes sobre as funcionalidades de segurança oferecidas, como atendimento ao usuário (24 horas), seguro para acidentes pessoais, Código de Conduta da Comunidade Uber, checagem de antecedentes criminais de motoristas parceiros e dicas gerais de segurança, entre outros.
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Entenda a história dos crimes
No último dia 16, a Polícia Civil do Ceará (PCCE) prendeu Patrick, por ele ser suspeito de pelo menos quatro estupros. Ele tinha cadastro falso no 99 Pop e raptava as vítimas após elas pedirem corridas em aplicativos de transportes e levadas para uma região deserta do bairro Dunas, onde eram violentadas, filmadas e ameaçadas. O POVO contou a história dos crimes em série de reportagens assinadas pelos repórteres Carlos Mazza e Jáder Santana, iniciada no dia 17.
Para encobrir o rastro dos crimes, Patrick teria utilizado diversas contas falsas nos aplicativos, alimentadas com informações de pacientes de clínicas médicas onde o suspeito trabalhava. Dois dos registros eram no nome de pessoas internadas em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Além de fraudar o cadastro no 99Pop com dados pessoais de pacientes, o acusado utilizava números de placas falsos na elaboração das contas. A placa exibida na captura de tela do aplicativo de uma das vítimas, por exemplo, nem sequer pertencia a um carro.
O criminoso cometia os crimes em veículo Logan preto - que era registrado como um Renault Fluence no aplicativo e, na verdade, tinha placa de um motocicleta - e ao atender chamados pelo aplicativo, chamava as vítimas pelo nome e pedia a elas que sentassem ao seu lado no banco da frente. Sempre agindo com educação, Patrick depois desviava o caminho e levava as vítimas para rua deserta do bairro Dunas e depois agredia e abusava sexualmente das jovens, que eram posteriormente abandonadas.
As vítimas eram todas jovens, entre 18 e 30 anos de idade, e foram raptadas em bares movimentados da Aldeota, na avenida Barão de Studart. No momento em que pediam as corridas, elas voltavam para casa, em bairros afastados, de saídas com amigos de faculdade. Uma das vítimas conversou com O POVO e contou os momentos de terror que passou com Patrick. "Entrou numa rua sem saída, sem iluminação, sem ninguém, puxou o freio de mão e me abordou, como se fosse um assalto. 'Bora, tira a roupa, tira a roupa'".
"Eu dizia 'se você vai fazer isso, me mate logo'. E ele falava 'você quer morrer?' E eu: 'me mate agora, me mate logo'. E aí ele dizia que ia me matar cortando meu pescoço, mas não mostrava arma, e me pedia pra continuar fazendo as coisas", afirma a vítima, que contou que ainda foi assaltada e abandonada no local deserto pelo agressor. Ela conseguiu socorro ao percorrer 500 metros até chegar em condomínio.
[FOTO2]Depois de preso, o acusado confessou seis estupros em depoimento aos policiais, porém a Policia Civil trabalhou inicialmente com suspeita de pelo menos 10 vítimas. No carro utilizado para os crimes, a Polícia encontrou três cartões ligados a contas do 99Pop e dezenas de chips de celulares. Os agentes também apreenderam um notebook e dois smartphones - um iPhone e um Moto G. Patrick teve o sigilo telefônico quebrado pela Justiça.
Questionado sobre a motivação dos crimes, Patrick disse apenas que teria "problemas psicológicos".
Um dia após as reportagens serem veiculadas no O POVO, outras seis mulheres foram ao 15º Distrito Policial para denunciar o agressor. Com os novos casos chegaram a dez o número de vítimas de Patrick.
[FOTO3]Em nota emitida sobre o caso após a prisão de Patrick, a empresa 99 afirma ter recebido denúncias de duas passageiras contra um motorista da plataforma em Fortaleza. "Os perfis apontados por elas foram imediatamente bloqueados, ficando impedidos de realizar corridas. Desde o princípio, a empresa colaborou ativamente com a polícia, auxiliando as investigações", diz o comunicado.
Após noticiar a prisão e modus operandi do criminoso, os repórteres Carlos Mazza e Jáder Santana revelaram o quanto é simples compar um cadastro irregular na 99 Pop e se tornar um motorista falso como Patrick. Anúncios na OLX chegam a colocar cadastro à venda por R$ 120 com 60 reais de débito.
Os repórteres conseguiram se comunicar com homem responsável pela negociação e encontraram com o tal na praça de alimentação de shopping de Fortaleza. O aplicativo foi aberto no celular do repórter - motoristas têm uma versão própria do app, seja no Uber ou 99Pop. Foram inseridos nos campos de cadastro os dados de login, anotados pelo vendedor em um pedaço de papel. Em menos de dez minutos, validou o registro. O vendedor ensinou a conectar o radar das viagens, orientou sobre como aceitar ou recusar solicitações, repassou o cartão para pagamentos, recebeu o pagamento em dinheiro. Houve pechincha. O valor de R$ 120 pedido pelo cadastro baixou para R$ 100. Negócio fechado.
Nota da 99Pop sobre o caso:
"A 99 informa que já pediu a abertura de investigação dos desvios envolvendo perfis da plataforma para os órgãos responsáveis. A empresa está auxiliando ativamente nas apurações, fornecendo os dados necessários.
A 99 possui um processo de melhoria contínua de seus mecanismos de validação de motoristas. O aplicativo está incluindo em seu procedimento de revisão novas variáveis com vista a identificar mais estratégias de pessoas má intencionadas e aumentar a segurança da plataforma.
Os perfis identificados são imediatamente bloqueados, ficando impedidos de realizar corridas.
Encorajamos que usuários, passageiros e motoristas, denunciem através da Central de Ajuda no app ou pelo telefone 0300 3132 421.
Redação O POVO Online
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