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Sindicância investiga denúncia de abordagem violenta de guardas municipais em terminal

A Secretaria Municipal da Segurança Cidadã informou que o processo tem 90 dias para ser concluído e analisado
10:43 | Jul. 20, 2018
Autor Matheus Facundo
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Matheus Facundo Repórter do portal O POVO Online
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Tipo Notícia
Há 41 dias, Rômulo Silva relata ter sido vítima de um abordagem policial violenta por parte de guardas municipais no terminal de ônibus do Siqueira.  O fato aconteceu na tarde do dia 8 de junho. O pesquisador, jornalista e estudante de mestrado em Sociologia na Universidade Estadual do Ceará (Uece) voltava de um seminário de Segurança Pública quando se deparou com quatro guardas municipais abordando jovens. O que ele não sabia era que seria o próximo alvo. Sindicância para investigar a ocorrência está em andamento por meio da Corregedoria e da Ouvidoria da Guarda Municipal.

Em relato que viralizou no Facebook na época, mesmo período do começo da hashtag NaFortalezaRacista, ele conta que se preparava para subir no seu ônibus quando disparam um "Bora, mão na cabeça! Bora, bora!" vindo dos guardas. "A minha percepção de tempo já não era a mesma. Uma pequena luz vermelha da taser refletida no chão perto do meu pé esquerdo e uma pistola apontadas para mim confirmava o que eu não esperava", relata o estudante. 
[SAIBAMAIS]
Uma semana após o caso, Rômulo e seu advogado foram na Corregedoria da Guarda Municipal denunciar o ocorrido. Eles não receberam resposta na época e até hoje ainda estão no aguardo. Em nota enviada a reportagem, a Secretaria Municipal da Segurança Cidadã (Sesec) afirma que sindicância sobre a denúncia foi instaurada e que os fatos seguem em apuração.

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Conforme o relato, o pesquisador dá conta de dois homens e duas mulheres, todos sem identificação. Rômulo afirma que os agentes reviraram todos os seus pertences e apontavam incessantemente uma arma para seu rosto. 

"A abordagem se intensificou através de insultos e zombarias: enquanto o mesmo que fez a busca de arma e puxou o meu cabelo conferia junto ao Ciops os meus dados e fotografava a minha identidade, a guarda que estava à minha direita perguntou o que eu respondia judicialmente", diz parte do texto de desabafo. 

Segundo a Sesec, o processo aberto pelo estudante e pesquisador tem até 90 dias para ser totalmente resolvido. Em conversa com O POVO Online, Rômulo reforça que seu caso não é isolado. "O que eu quero é chamar atenção das pessoas para o racismo institucional que sempre acontece em terminais de ônibus. Como eu, já tiveram outros casos. Minha questão é problematizar a segurança pública", comenta.

Um advogado cuida das burocracias do processo para Rômulo. Ele pede mais atenção dos órgãos de segurança. "Estamos lidando com uma galera (policiais e guardas municipais) que se acha dona do mundo. Eles acham que podem tudo só porque têm uma arma na mão. Sou um homem negro e morador de periferia, me preocupo com o futuro desses profissionais", finaliza.

A publicação de Rômulo no Facebook hoje está com 778 compartilhamentos, mais de 1.700 reações e 311 comentários, com mensagens de conforto de amigos e desconhecidos dele. "Todos os dias sofremos diferentes tipos de violências. E pessoas queridas que estão mais próximas derramam afetos e boas energias através da simples e potente escuta, por exemplo. Obrigado por vocês existirem", agradece o estudante. 

Resistência

Poucos dias antes da ocorrência, Rômulo Silva assinou um artigo que saiu na editoria de Opinião do O POVO do dia 2 de junho: "Rede de Afetos: práticas poéticas de re-existências". O texto fala sobre a resistência dos jovens de Fortaleza, sobretudo os moradores de periferia. 

"É por meio da criação como prática de luta pelo reconhecimento e pela existência que cada sujeito inventa a si e o coletivo. São, em sua maioria, adolescentes e jovens que se apropriam taticamente de espaços públicos criando atalhos e possibilidades." 

O caso do pesquisador ainda foi tema da coluna de Segurança Pública do jornalista Ricardo Moura no dia 9 de junho. O título é "This is Fortaleza", que faz alusão à música de Childish Gambino, "This is America" (uma crítica ao racismo e violência policial nos Estados Unidos).

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