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"Meu filho não era traficante", diz pai de vítima da chacina do Benfica

Em coletiva de imprensa no começo da manhã, o titular da SSPDS afirmara que pelo menos duas das vítimas da chacina na Gentilândia eram traficantes
18:56 | Mar. 10, 2018
Autor Henrique Araújo
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Henrique Araújo Repórter Política
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Tipo Notícia

[FOTO1]“Júnior era um bom filho”, lembra José Gilmar Furtado de Oliveira, pai de uma das vítimas da chacina do Benfica, que deixou sete mortos no bairro, na noite de ontem. Ex-zagueiro dos clubes Fortaleza, Ceará e Ferroviário, o homem pede um minuto antes de retomar a fala. Diz em seguida: “Meu filho não era traficante. Nem tinha nada a ver com torcida organizada”.

À sombra de uma árvore na rua Padre Roma, no Bairro de Fátima, Gilmar consola uma mulher que chora ao telefone. Fala que precisam ter calma agora. Do lado de fora do endereço onde o corpo de José Gilmar Furtado de Oliveira Júnior é velado, parentes se aglomeram. O pai, no entanto, afasta-se para prantear sozinho.
[SAIBAMAIS]
Caçula de três irmãos, Júnior era cabeleireiro bem-sucedido. Aos 33 anos, tinha imóvel próprio, onde morava com a mãe e a irmã. Gostava de festas. “Todos os anos ele viajava pra Bahia, onde passava o Carnaval”, conta o pai. Às sextas-feiras, frequentava a Praça da Gentilândia, ponto de encontro de jovens e estudantes universitários – a região tem campi da UFC, IFCE e Uece. “Ele nunca colocou os pés num estádio, mas adorava festa, é verdade.”


Também jogador de futebol – foi campeão pelo Sumov, time de futsal, no início dos anos 2000 –, Arley Furtado de Oliveira, 39, é o irmão mais velho. Ele confirma: Júnior tinha dois prazeres. Um, o Carnaval. Outro, o trabalho. “A vida dele era isto aqui”, aponta a casa onde funcionava o salão de beleza. Na próxima quinta-feira, dia 15, o irmão faria 34 anos. A família, agora reunida em torno do caixão, vinha lhe preparando uma festa.

“Meu sobrinho era inocente”, enfatiza Gilvana Furtado, tia de Júnior.  “Quero dizer publicamente: ele não era traficante, como esse secretário (André Costa, titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social) anda dizendo por aí. Mataram um rapaz que trabalhava e gostava da vida.” Durante coletiva de imprensa no começo da manhã, o titular da SSPDS afirmara que pelo menos duas das vítimas da chacina na Gentilândia eram traficantes.

Advogado da família, Pedro Henrique informa que Júnior era usuário de maconha. “Ele usava, sim. Os pais e irmãos sabiam. Todos sabiam. Mas não era traficante. E o único processo pelo qual respondia é justamente porque estava acompanhado de alguém que portava (a droga)”, disse. O pai admite que, aqui e ali, tinha dores de cabeça com o filho. Mas “era apenas quando ele tinha as crises de quem usa a droga”, fala.

Ontem, Gilmar foi o primeiro a ver o filho. “Me ligaram, e fui sozinho até a praça. Lá, encontrei o corpo dele”, relata. De acordo com o pai, um jogador de futebol experimenta sempre duas mortes – uma, quando se aposenta. A outra, quando morre de verdade. Na noite de sexta-feira, ele admite: tinha conhecido a sua terceira morte ao ver o corpo de Júnior no chão da praça.

O enterro de José Gilmar Furtado de Oliveira Júnior está marcado para as 10 horas de amanhã, no cemitério Jardim Metropolitano, próximo ao anel viário, no Eusébio.

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