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Espécie rara na fauna mundial, garça-caranguejeira atrai observadores ao Parque do Cocó

Ave deve ter se desgarrado do bando quando fazia a migração, supostamente, da África para Europa. Ela é natural de regiões do Oriente Médio, da África e do sul da Europa
21:30 | Mar. 20, 2018
Autor Demitri Túlio
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Demitri Túlio Repórter investigativo
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Tipo Notícia
[FOTO1]A presença inusitada de uma ave no Ceará, e no Brasil, fez dezenas de observadores de pássaros correrem ao Parque Ecológico do Cocó, em Fortaleza, para fotografar a espécie incomum. Há pelo menos dois dias, uma solitária garça-caranguejeira (Ardeeola ralloides) ou squacco heron está em um dos lagos das trilhas do Cocó, na avenida Sebastião de Abreu. Antes do registro na Capital cearense, ela só havia sido avistada em Fernando de Noronha (Pernambuco).

De acordo com Paulo Miranda, biólogo e observador de pássaros, é a primeira vez que esta espécie de garça aparece no Ceará e no continente brasileiro. Ela é comum no Oriente Médio, na África e no sul da Europa.

O primeiro registro da garça-caranguejeira fora de Fernando de Noronha, segundo Paulo Miranda, foi feito no último domingo (18/2) no Cocó pelo “passarinheiro” e fotógrafo amador José Roberto Amaya. Após postar as imagens do bicho na plataforma digital Wikiaves, as comunidades de aficionados por pássaros começaram a ir para o Parque.

José Roberto Amaya fez o registro da ave por volta das 9h30min. Como não conseguiu identificá-la, enviou para o amigo e também passarinheiro Lucas Dib. Dib, por sua vez, pediu a ajuda do biólogo Paulo Miranda, que ficou surpreso com a presença da garça-caranguejeira no mangue do rio Cocó.

“Fiquei na dúvida. O Amaya e o Lucas achavam que poderia ser um socoí (Zebrilus undulatus), mas o bico azulado e outras características não correspondiam. Consultei outro colega, o também biólogo Marcelo Holderbaum, e concluímos que era uma garça-caranguejeira”, conta Miranda.

Os dois biólogos, que trabalham com monitoramento de avifauna para empresas de energia eólica no município de Trairi, distante 134,3 km de Fortaleza, não titubearam e, na manhã desta terça-feira, vieram para o Parque do Cocó atrás de documentar. Antes que a garça levantasse voo.

“É um registraço para quem trabalha com aves ou é amante dessa área da ciência. É raro pra gente desse lado do mundo. Trata-se do primeiro registro para a área continental do Brasil”, comemora Paulo Miranda.

“Sua presença nos faz refletir sobre a importância das áreas verdes em meio aos grandes centros urbanos”, diz a bióloga Cecíclia Licarião, coordenadora de Educação Ambiental do Parque do Cocó. Ela ressalta que esses parques são “verdadeiros oásis para essas espécies”. Acrescenta que as aves podem encontrar abrigo e alimento abundante como peixes, sapos e insetos, principais itens da sua dieta.

Observadores de aves presentes

Quando soube da presença da garça-caranguejeira no Parque do Cocó, o estudante de enfermagem Pablo G. Reis aproveitou uma folga no hospital, onde trabalha em Fortaleza, e veio fotografá-la.

Observador de pássaros desde 2015, com perfil no Wikiaves, só não veio no domingo, depois que foi avisado, porque estava no município de Aquiraz e não havia posto de combustível aberto para abastecer o carro. No final da manhã desta terça (20/2), veio testemunhar a presença inusitada da ave.

Para o biólogo Thieres Pinto é um animal “vagante”, que deve ter se desgarrado da rota que fazia com um bando. Em 2016, conta, chegou por aqui uma perdiz-do-mar (Glareola pratincola) – pássaro de ocorrência no Oriente Médio e na África. Ela se perdeu da durante uma migração e foi parar no município de Maranguape, na Região Metropolitana de Fortaleza. Foi o suficiente para atrair observadores do Ceará e de outros estados.

“São registros especiais, quase únicos”, diz o biólogo. “Provavelmente esse tipo de ocorrência vai demorar para se repetir. Então, os caras vêm porque se torna uma oportunidade de observação da espécie fora do habitat dela”, afirma.

Existe hoje no Brasil e no mundo milhares de observadores de aves – profissionais, cientistas e amadores – que  “contam registros de espécies em plataformas especializadas como Wikiaves e iBird”, afirma Thieres Pinto.

A garça-caranguejeira, explica o biólogo, está experimentando o novo território. Podendo até se adaptar e se expandir ou, depois, levantar voo e ir embora. “Há o caso da garça-vaqueira (Bubulcus íbis), que veio da África e acabou se expandindo aqui. Hoje, temos uma colonização bem estabelecida”, explica. Thieres Pinto também foi fotografar a ave.

O nome da espécie, que apareceu no Ceará, está ligado ao hábito alimentar. O caranguejo é uma de suas presas. Ela frequenta regiões de mangues, áreas salgadas onde existe o crustáceo. Além dele, a ave se alimenta de peixes, pequenos mamíferos, anfíbios, répteis, roedores, insetos e outros animais.

Com a urbanização desordenada das cidades e o surgimento de lixões, outras espécies de garças como a garça-branca-grande (Ardea Alba), garça-branca-pequena (Egretta thula) e a garça-vaqueira (Bubulcus íbis) passaram a frequentar estes locais para procurar alimento.
 
A garça-caranguejeira ocorre na região central e no sudoeste do continente europeu, no Marrocos, noroeste da África, até a região do mar de Aral e no Irã. No inverno, atinge o mar Mediterrâneo e a região do Oriente Médio, entretanto sua região de migração invernal principal é a região tropical sub-saariana, no continente africano.  

DADOS CIENTÍFICOS DA GARÇA-CARANGUEIJEIRA

Reino:
Animalia

Filo:
Chordata

Classe:
Aves

Ordem:
Pelecaniformes

Família:
Ardeidae (Leach 1820)

Espécie:
A. ralloides
 
Nome Científico:
 Ardeola ralloides (Scopoli, 1769)

Estado de Conservação
Pouco preocupante
 
Fonte: WikiAves

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