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Um ano após morte de Dandara, delegacia contra crimes de ódio ainda está no papel

Uma entre as 16 transexuais vítimas em 2017, a trágica morte da travesti Dandara mostrou uma realidade dramática. Um ano depois, Fortaleza ainda não tem uma delegacia especializada em crimes de LGBTfobia
11:42 | Jan. 26, 2018
Autor Bruna Damasceno
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Bruna Damasceno Repórter no OPOVO
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Tipo Notícia

[FOTO1]Dandara dos Santos, de 42 anos, foi torturada até o sangue cobrir de vermelho a blusa amarela. Morreu sem conseguir sequer esbravejar um pedido de socorro. O drama vivido pela travesti - espancada até a morte no Bairro Bom jardim - ocorreu em fevereiro de 2017. Outras 16 transexuais morreram no mesmo ano no Ceará. Delegacia especializada foi cogitada à época, mas caiu no limbo. Mas não é preciso voltar quase um ano no tempo para encontrar crimes motivados pelo ódio e intolerância. 

[SAIBAMAIS] 

No último dia 18, um estudante negro e gay foi agredido por um grupo intitulado “Carecas”, que depois negou pertencer ao movimento skinhed. A vítima teve a orelha rasgada e, assim como Dandara, ouviu xingamentos e expressões homofóbicas. Uma delegacia para combater crimes de ódio veio à pauta da segurança pública do Estado após a morte da travesti. No entanto, quase um ano depois, o projeto ainda não saiu do papel e não tem previsão para a concepção. 

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O POVO Online procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), no último sábado, 20, para saber como está o andamento da criação da unidade policial. A pasta respondeu, por meio de nota, que “a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informa que se encontra em andamento um estudo visando a criação de uma delegacia especializada no atendimento às pessoas vítimas de crimes de ódio”.

 

[QUOTE1]Após o retorno, O POVO Online solicitou mais dados e uma fonte que explicasse quais os avanços desse estudo até aqui e previsão para a concepção. No entanto, a resposta foi que, a princípio, não há fontes para explicar e que “as informações serão repassadas em um momento oportuno”.

 

Faces da violência

 

De acordo com o professor de Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), César Barreira, as novas faces da violência como a homofobia, racismo e questões de gênero surgem como uma nova demanda da sociedade. “Temos relações mais complexas, o que requer que a Polícia acompanhe nessa perspectiva. Requer, então, uma delegacia especializada, assim que foi criada a Delegacia da Mulher”, exemplifica. 

 

Para o professor, a efetivação da unidade é crucial para diminuir a impunidade e resguardar grupos mais vulneráveis sob um prisma social. “Essas delegacias entram por duas grandes vertentes: uma é a própria complexidade do mundo do crime, que requer que algumas ações sejam mais efetivas. A outra é que ganham muita importância na perspectiva de complexidade das relações da contemporaneidade”, explica. Ele destaca que não basta apenas a criação da delegacia, são necessários profissionais qualificados para atender às vítimas. 

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