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Região Metropolitana de Fortaleza é a 2ª que teve maior piora do índice de vulnerabilidade social

A Infraestrutura Urbana foi a dimensão que mais influenciou negativamente a vulnerabilidade social na RMF. O destaque nesse quesito foi o tempo de deslocamento entre casa-trabalho das pessoas vulneráveis
18:50 | Ago. 30, 2017
Autor Amanda Araújo
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A Região Metropolitana de Fortaleza é a segunda região metropolitana que apresentou mais piora no Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), entre 2011 e 2015, conforme dados do relatório lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada na última quarta-feira, 23. A RMF teve queda de 3,9% no índice, ficando atrás apenas de Recife, 16,3% mais vulnerável no período.

Também tiveram índice de vulnerabilidade piores as regiões metropolitanas de São Paulo (-2,4%) e Porto Alegre (-0,4%). O índice dessa nova série destoa do observado entre 2000 e 2010, quando Fortaleza reduziu a vulnerabilidade social em 28%. A Região Metropolitana de Salvador foi a que mais melhorou o índice em 15,5% .

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O índice de vulnerabilidade social é composto pela média aritmética de 16 indicadores, divididos nas dimensões Infraestrutura Urbana, Capital Humano e Renda e Trabalho. De acordo como o pesquisador do projeto Atlas da Vulnerabilidade Social, Carlos Vinícius da Silva Pinto, infraestrutura foi o piores indicador da Região Metropolitana de Fortaleza.

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"Infraestrutura foi a dimensão que mais contribuiu para esse aumento de vulnerabilidade social na RMF. A Renda e Trabalho também piorou um pouco, 2,3%, mas teve contraponto, porque o trabalho infanil reduziu bastante", explica o pesquisador. No período, houve aumento de 66% de desemprego na RMF, mas compensado pela queda do trabalho infantil, no número de pessoas vulneráveis e de vulneráveis que dependem de idosos.

A única dimensão que melhorou foi Capital Humano (7,4%), com destaque para redução da porcentagem de crianças de 6 a 14 anos fora da escola (23%), de mulheres chefes de família sem fundamental e com filho menor (22%) e crianças em domicílio em que ninguém possui fundamental completo (20%). Foi registrado aumento, no entanto, aumento em 12% mulheres de 10 a 17 anos com filho.

Dentro da dimensão Infraestrutura, apesar da grande redução no número de pessoas sem água e esgotamento sanitário inadequado (50%), o número de pessoas vulneráveis que levam mais de uma hora no deslocamento casa-trabalho aumentou 30,5%. "Ele avalia as pessoas vulneráveis, que usam transporte público, chegam de outro município. Esta dimensão foi a que mais contribuiu para o aumento do IVS", explica Carlos Vinícius.

O arquiteto e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Almir Farias, aponta a ocupação de áreas cada vez mais distantes na RMF, em expansão horizontal. "O modelo lançado em Fortaleza é muito favorável ao mercado, tem consumo de espaço muito grande. Quem não pode morar mais próximo de Fortaleza vai morar um pouco mais distante. É um desenho ruim, a gente advoga que haja maior densidade próxima à área de empregos para diminuir deslocamentos", avalia.

Outra questão levantada por José Almir é a hiper concentração de empregos em centro metropolitanos, principalmente nos bairros mais nobres da cidade, onde há absorção dos serviços de baixa renda. "Essa concentração, aliada ao fato de que tem que morar mais distante por conta dos preços da habitação, gera fluxos cada vez maiores, e o sistema de transporte não ajuda muito. A política tarifária de transporte é de mercado", diz.

Embora o congestionamento da capital cearense não se iguale ao do Rio de Janeiro e São Paulo, já chega a um nível em torno de três horas e meia de viagens por dia, conforme o professor. "É um tempo exorbitante que afeta a qualidade de vida, a saúde dos usuários. Uma questão complexa e de difícil solução,precisamos de políticas integradas não só em Fortaleza, mas a nível intermunicipal, metropolitano", frisa.

Vulnerabilidade
O Atlas de Vulnerabilidade Social é um projeto do Ipea que utiliza indicadores de vulnerabilidade social no Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - uma parceria do Ipea com o PNUD Brasil (Nações unidas) e com a Fundação João Pinheiro. "Desse projeto, surgiu a ideia de mapear a vulnerabilidade, porque o IDHM dá a noção de desenvolvimento humano a partir da renda, educação e longevidade, no entanto a gente quis ir além, usar novos indicadores para criar um índice que medisse a vulnerabilidade social da população", relata o pesquisador Carlos Vinícius.

Os indicadores de desenvolvimento humano do Brasil são compilados a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Abrimos mais a pesquisa para entender onde está a vulnerabilidade das pessoas. Exemplos que a gente usa, educação, trabalho infantil, dependência da família da renda de idosos, mostram a continuidade dessas pessoas na vulnerabilidade. Mais do que o desenvolvimento apenas pela renda e saúde", indica ele.

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