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Paralisação de estudantes de Odontologia continua por período indeterminado

Demandas estruturais são foco dos alunos. A UFC não apresenta prazos para contratar novo serviço de manutenção, que ainda não foi publicado em edital
19:56 | Abr. 25, 2017
Autor Lucas Braga
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Lucas Braga Repórter do O POVO Online
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Tipo Notícia

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Atualizada em 27 de abril às 16h 

Estudantes do curso de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) paralisaram as atividades de ensino e extensão nesta segunda-feira, 24. Por período indeterminado, aulas e atendimentos à comunidade estão suspensas, em resposta à “falta de estruturas” clínicas e didáticas adequadas (confira galeria de imagens abaixo da matéria).

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A decisão foi tomada em assembleia dos estudantes realizada na última quinta-feira, 20. Tarciso Sindeaux, presidente do Centro Acadêmico de Odontologia, diz que mais de 100 alunos estiveram presentes e, “inconformados com a falta de providências” da UFC, suspenderam as práticas por unanimidade.

“São quatro salas de aula para um curso de 315 alunos. Delas, só uma tem projetor funcionando, além de que baratas e escorpiões são comuns. Não há condições de continuar da maneira que está”, pontuou.

Em abril de 2016, houve paralisação pelo mesmo motivo. A antiga empresa de manutenção descumprira contratos. Insumos como gazes, antisséptico e até papéis-toalha faltavam.

Atendimento clínico

A UFC contabiliza 300 atendimentos diários, nas sete clínicas que prestam serviços odontológicos em Fortaleza. Além de pacientes encaminhados por outros serviços de saúde pública, a comunidade é assistida nas unidades.

A suspensão dos atendimentos se deu pela falta de manutenção de equipamentos essenciais. Segundo levantamento do Centro Acadêmico, 51% das cadeiras não funcionam corretamente, além de que um dos dois autoclaves (para esterilização) está quebrado e compressores de ar comprimido apresentaram vazamentos.

“Atendemos até a semana passada, com improvisos, tentando manter os tratamentos. Mas isso é arriscado para a segurança de alunos e pacientes”, completou Tarciso.

Para Helane Suele, estudante do 8º semestre de Odontologia, os problemas prejudicam o aprendizado teórico e prático. “A gente atende em uma cadeira com o sugador de outra, com o refletor de outra, e os pacientes ainda correm o risco de não terem o atendimento finalizado”, exemplifica.

Sem prazos

A assessoria de comunicação da UFC informou, em nota, que o contrato com a empresa prestadora dos serviços de assistência técnica e de manutenção corretiva e preventiva em equipamentos odontológicos encerrou no último 31 de janeiro.

O novo processo licitatório foi aberto pela diretoria da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), em dezembro de 2016. Contudo, a pesquisa de preço mostrou aumento de 400% no valor dos serviços, variação considerada “impraticável” pela universidade, “diante das atuais restrições orçamentárias nas universidades públicas brasileiras”.

No comunicado, a assessoria informou que urgência e prioridade na tramitação do processo licitatório foi solicitada à Pró-Reitoria de Planejamento e Administração (Proplad).

Por e-mail, o pró-reitor de Planejamento e Administração da UFC, Almir Bittencourt, disse ao O POVO Online que, “na realidade, o edital não chegou a ser publicado”. Com o valor inflacionado, na pesquisa de referência, ajustes foram solicitados pela UFC, tomando o contrato anterior como base.

Questionado sobre os prazos, o gestor disse aguardar o retorno do Termo de Referência para, então, “dar início à contagem, após a apreciação da Procuradoria Jurídica da UFC”.

Sobre o impacto da paralisação na população, Helane justifica: “a maioria não queria paralisar. A gente quer um aprendizado decente e se preocupa com o atendimento. Muitas vezes a população é atendida com descaso porque não temos condições de oferecer um atendimento melhor”, lamenta.

 

Após publicação, a assessoria de impressa da UFC, enviou nota refutando informações reapssadas pelos alunos. Segue íntegra dos esclarecimentos.

 

"1. Sobre o número de salas de aula

Além das 4 salas citadas com projetor, há projetores sobressalentes nos dois departamentos (Clínica Odontológica e Odontologia Restauradora) que podem ser requisitados no caso de problemas com os existentes. Há ainda um auditório com projetor e equipamentos de videoconferência, sistema de projeção em laboratório multidisciplinar e duas salas de aula da Pós-Graduação que também podem ser usadas em caso de uma demanda maior. O número de salas de aula é suficiente para atender a demanda do curso.

2. Sobre dedetização periódica

Os procedimentos de dedetização e bloqueio do Campus, desde a avenida José Bastos, são semestralmente feitos, inclusive já tendo um agendado para o dia 06 de maio de 2017. 

Não há na Diretoria da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem qualquer comunicação sobre a existência de baratas e escorpiões.

Além disso, há uma equipe dedicada diariamente ao asseio e conservação de todos os ambientes da Faculdade.

3. Sobre cumprimento de contratos

Não procede a informação de que “A antiga empresa de manutenção descumprira contratos. Insumos como gazes, antisséptico e até papéis-toalha faltavam”. 

A bem da verdade, conforme impõe a legislação  pertinente, na administração pública, os  contratos de manutenção estão relacionados à prestação de serviços, enquanto o fornecimento de insumos é feito através de sistemas de registro de preço. 

O atendimento de normas que regem o uso de dinheiro público se aplica para qualquer tipo de aquisição e a UFC segue todos os trâmites legais nos seus processos de aquisição seja de serviço, seja de insumos.

4. Manutenção dos compressores

Os compressores que apresentavam vazamentos já foram consertados pela empresa de manutenção como garantia dos serviços prestados mediante contrato anteriormente vigente.

5. Atendimento adequado

Enfim, queremos reiterar que a UFC segue rigorosamente todas as normas técnicas de segurança, higiene, zelo e qualidade nos atendimentos realizados gratuitamente em seus serviços odontológicos para 300 pessoas diariamente."

 

(Colaboraram Domitila Andrade e Isaac de Oliveira/Especial para O POVO)

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