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Sete homens são indiciados pela tortura e assassinato de Dandara dos Santos

O inquérito policial, que foi concluído e está na Justiça, aponta a participação de sete adultos e cinco adolescentes. O crime, marcado pela transfobia e crueldade contra a travesti Dandara, se deu por motivo torpe, fútil e mediante tortura
12:00 | Mar. 19, 2017
Autor Demitri Túlio
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Demitri Túlio Repórter investigativo
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Tipo Notícia
[FOTO1]Ao menos seis adultos foram indiciados pelo crime de homicídio triplamente qualificado e por corrupção de menores no assassinato da travesti Dandara dos Santos, 42 , no último dia 15 de fevereiro, em Fortaleza. A execução, filmada e divulgada pela Internet por um sétimo criminoso, teve a participação de 12 pessoas segundo o relatório de um inquérito da Polícia Civil do Ceará. A investigação sobre o caso está sendo coordenada pelos delegados Bruno Ronchi Vieira, do 32º Distrito Policial (32º DP), e Arlete Silveira, da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).

[SAIBAMAIS]Dos 12 acusados pela tortura e morte de Dandara, sete são adultos e cinco são adolescentes. Um dos acusados maior de idade, que filmou as cenas de violência, não deve ser indiciado pelo homicídio. Segundo O POVO apurou, o inquérito que individualizou a participação dos maiores foi entregue na última sexta-feira na 1ª Vara do Júri de Fortaleza. A investigação sobre a conduta dos adolescentes ainda está em fase de conclusão, na DCA.

Dos sete adultos envolvidos no homicídio, Francisco José Moreira de Oliveira, 21, conhecido por Chupa Cabra, teria sido o responsável por decretar a morte de Dandara dos Santos numa rua do bairro Bom Jardim. De acordo com o inquérito e parte das imagens gravadas por um telefone celular, após ser barbaramente espancada, Dandara foi levada para um canto da rua. Lá, Francisco Monteiro, fora do alcance da câmara, teria disparado duas vezes contra a vítima.

No momento dos tiros, segundo testemunhas e análise da Perícia Forense do Ceará (Pefoce), Francisco Moreira teria contado com a colaboração de outro adulto. Um homem identificado por “Bin” seria o responsável por jogar o pedaço de um paralelepípedo contra o rosto de Dandara dos Santos. “Bin” ainda estaria sendo procurado pela polícia, enquanto Monteiro está preso desde o dia 12 de março, no 32º DP.

Morte de Dandara: foram pelo menos três sessões de tortura. Leia diálogo gravado no vídeo e perguntas e respostas sobre o caso.


Francisco Monteiro, segundo O POVO apurou, teria deixado algumas provas que foram recolhidas durante a busca e apreensão na casa dele e de familiares. Também reforçaria o comprometimento do acusado os telefonemas de anônimos feitos para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) e para as delegacias do 32º DP (Bom Jardim) e 12º DP (Conjunto Ceará). Além da apuração da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

A torpeza do crime
Se o promotor Marcus Renan Palácio, da 1ª Vara do Júri, seguir o que descreve o delegado Bruno Ronchi no inquérito policial, pelo menos seis adultos serão denunciados à Justiça do Ceará por homicídio triplamente qualificado e corrupção de menores. Os envolvidos, segundo a investigação e as imagens que viralizaram na web, agiram com torpeza, futilidade e emprego da tortura contra Dandara. Qualificadoras do crime.

Tanto os adultos quanto os adolescentes, sem se importar com a gravação do linchamento que promoviam em via pública, na presença de populares e à luz do dia, não deram chances de defesa para a filha da aposentada Francisca Ferreira de Vasconcelos, 75. Dandara dos Santos, já no chão, é submetida a uma sessão coletiva de murros, tapas, chutes, pedradas e pauladas. Gravemente lesionada, ela não consegue revidar nem se levantar para fugir dos torturadores.

Pelo homicídio triplamente qualificado, caso venham a ser denunciados e julgados por um tribunal do júri popular, os adultos poderão pegar de 12 a 30 anos de cadeia, com acréscimo de 1/3 da pena por se tratar de homicídio doloso (quando se tem a intenção de matar). Além disso, de 1 a 4 anos de prisão pela corrupção dos cinco menores de idade.

Os adolescentes, que serão acompanhados por uma das varas da Infância e da Juventude de Fortaleza, poderão ser responsabilizados por ato infracional correspondente à prática de homicídio. E serem submetidos, dependendo da participação apontada pela delegada Arlete Silveira (DCA), a um internamento de até três anos. Uma medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (veja quadro).

O POVO procurou o promotor de Justiça Marcus Renan, da 1ª Vara do Júri de Fortaleza, mas ele não quis falar sobre como deverá proceder no caso a partir da conclusão do inquérito. Ele terá cinco dias, a contar desta segunda-feira (20/2), para denunciar ou não os sete adultos acusados pela tortura e execução de Dandara dos Santos.

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