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Narcélio Grud fala sobre intervenção em semáforos de Fortaleza

Quem está por trás da transformação de semáforos em personagens é Narcélio Grud, artista plástico cearense que já realizou uma série de intervenções em Fortaleza
22:45 | Ago. 25, 2016
Autor Amanda Araújo
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Tipo Notícia

O artista plástico cearense Narcélio Grud revelou, na madrugada desta quinta-feira, 25, a produção da intervenção artística "Máscara", que transformou semáforos de Fortaleza em personagens famosos, como David Bowie e Bart. A ideia de chamar atenção para a sinalização surgiu após reflexão sobre os altos índices de acidentes de trânsito na Capital.

O ato foi classificado pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) como "irresponsável", e as "máscaras" dos sinais foram recolhidas. A AMC citou, na época, que abriu Boletim de Ocorrência para apurar as intervenções e informou que todo e qualquer tipo de sinalização é competência exclusiva do órgão de trânsito, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Segundo Narcélio, a intervenção não prejudicou a sinalização e foi uma forma de, também, quebrar a correria do dia a dia com algo inesperado. "São tantos semáforos, fotossensores, guardas de trânsito, leis mais rígidas e mesmo assim os números de acidentes são altíssimos!", questiona.

Narcélio foi o responsável pelo tingimento do navio Mara Hope, encalhado na orla de Fortaleza há 30 anos. Neste ano, motivado pela ausência de banheiros públicos em Fortaleza, especialmente no Centro, ele montou um banheiro público itinerante.
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Confira bate-pronto, realizado por e-mail,  com o artista.

O POVO Online - O senhor publicou vídeo indicando que a intervenção nos semáforos, até então com autoria desconhecida, era sua. Qual é a proposta?

Narcélio Grud- A ideia foi chamar atenção para a sinalização mesmo. O trânsito de Fortaleza é muito violento! Pelos dados disponibilizados no site do Detran, em 2015 na cidade de Fortaleza foram 23.270 acidentes, com 436 mortos e 7.049 feridos! Uma média de 07 mortos e 33 feridos por dia. São tantos semáforos, fotossensores, guardas de trânsito, leis mais rígidas e mesmo assim os números de acidentes são altíssimos! Dar mais visibilidade a sinalização utilizando de meios artísticos é algo que já acontece em diversas cidades do planeta e eu enquanto artista, fiz aqui do meu jeito. Outro ponto importante é quebrar um pouco essa correria do dia a dia, de ter algo inusitado, inesperado, que mexa, surpreenda. Isso as vezes, pode melhorar o dia de alguém.

OP - Poucas horas após o aparecimento dos personagens nos sinais, a AMC determinou a retirada das intervenções artísticas. Para você, qual o limite da arte?
NG - Na Arte Urbana a efemeridade é algo constante. Sinto na arte a potencia da transformação. Da possibilidade de sensibilizar, de tocar e a partir daí perceber de maneira diferente as coisas. Percebo que para algumas transformações se fazem necessário sair do lugar comum, balançar as estruturas para poder chegar a um ponto adiante, isso na arte, no dia a dia, na vida. O limite pode ser o bom senso.

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OP - Nas redes sociais, parte dos internautas parabenizou a intervenção, mas também houve críticas sobre o risco aos motoristas. Em vista disso, o senhor acredita que o objetivo da intervenção foi alcançado?
NG - Não vejo que a intervenção tenha prejudicado a sinalização de trânsito. Na realidade, a intenção de chamar mais atenção para os semáforos, da forma que foi feita, usando do lúdico como fator surpresa, não trouxe nenhum dano ao funcionamento ou mesmo à visualização das luzes que regulam o vai e vem, nem mesmo ao fluxo durante a execução. O foco dessa ação foi chamar atenção para a sinalização dos semáforos e levantar a questão da violência no trânsito, que é a que mais mata na nossa cidade. Poder está falando disso aqui, um veículo de comunicação que pode alcançar um número significativo de pessoas, pode ser uma maneira de ver que funcionou.

OP - Como pretende responder a AMC?
NG - Acredito que a partir de uma ação dessa, seja possivel abrir um diálogo quanto as formas de ativação em campanhas de trânsito utilizando a arte urbana como linguagem. A intenção não foi confrontar a autoridade da AMC e compreendo que eles possam está desconfortáveis, mas nada comparado com a dor de quem perde um ente querido na violência do trânsito.

OP - O senhor já expôs sua obra em países como Barcelona, Madri e Londres. Você acha que, nos últimos anos, a arte urbana no Ceará ganhou impulso?
NG - A Arte Urbana vem a cada dia se firmando enquanto linguagem e mostrando sua importância na construção de uma cidade mais viva e mais humana. O Ceará vem mostrando, através de seus artistas e dos muitos projetos que vêm sendo realizados, as múltiplas potências dos nossos artistas e da nossa gente. Sinto cada vez mais que a arte urbana tem a força de aproximar pessoas, de transformar espaços, de fazer sentir alegria de viver onde vivemos, mesmo com toda a doidera. Uma cidade onde as pessoas são felizes de viver é o que há.

OP - Pode falar algo sobre os seus próximos projetos?
NG - Atualmente estou trabalhando na implantação de uma Escola de Arte Urbana, a Amplitude. Um espaço para pensar e produzir arte urbana, um laboratório multiuso com estrutura que possibilita novas experiências. Em paralelo: o CarRUAgem, um atelier itinerante para apoio a ações e formação, e a 3ª edição do Festival Concreto, que acontecerá em novembro próximo. Estes são projetos mais coletivos. Como artistas autoral, estarei participando em setembro da III Bienal Internacional de Muralismo e Arte Publica na Colômbia e de três festivais internacionais em cidades diferentes da Espanha.

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