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Falta de diagnóstico de dengue pode esconder casos de leptospirose

De acordo com pesquisas, cerca de 40% dos pacientes que têm diagnóstico de dengue apresentam exames negativos para a doença
17:04 | Ago. 22, 2016
Autor O POVO
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Tipo Notícia


Náuseas, vômitos, erupções cutâneas, dores nas articulações, dor de cabeça e ao redor dos olhos, além de pequenas manchas vermelhas na pele. Os sintomas descritos parecem já ter diagnóstico pronto: dengue. Ou zica. Ou até chincungunya.
 
A similaridade de diagnósticos, que muitas vezes não contam com exames laboratoriais específicos, pode, além de não identificar a real doença do paciente, subnotificar outras patologias e levar risco à saúde. De acordo com pesquisas realizadas em universidades do Ceará, cerca de 40% dos pacientes que têm diagnóstico de dengue, tratados para esta doença, apresentam resultado negativo na sorologia. Muitas vezes, o exame acaba dando positivo para outras doenças, principalmente a leptospirose.

Na última sexta-feira, 19, médicos cearenses discutiram as dificuldades de diagnóstico das arboviroses epidêmicas. O médico infectologista Keny Colares explica que o exame de sorologia feito comumente para dengue costuma, por exemplo, dar positivo também para zica, porque os dois vírus são parecidos. Nesses casos, seria indicada a realização de exames de biologia molecular, que detectam diretamente o vírus.
 
"Eles são caros e mais complicados e precisam ser feitos no começo da apresentação dos sintomas, porque em poucos dias o vírus costuma desaparacer", afirma o médico. Conforme ele, a confusão entre as doenças se dá porque, tanto a dengue, quanto a zica ou até a mesmo a leptospirose, costumam apresentar sintomas por no máximo uma semana. "Existe uma cultura de que quando há febre e baixa de plaquetas, é dengue, mas quando você vai estudar tem centenas de doenças que podem parecer dengue", avaliou. Essa semelhança pode prejudicar até a notificação de outras doenças, que acabam por não receber diagnóstico.

LEPTOSPIROSE

A leptospirose é uma doença causada por uma bactéria e tem tratamento com antibiótico, diferente da dengue, que não precisa de medicação. "Em 90% das vezes, a leptospirose dá uma semana de febre e a pessoa fica boa. Mas em 10% dos casos por ter complicações, comprometer o rins, o sistema nervoso central... quando não detecta, perdemos a oportunidade de fazer um tratamento", explicou o médico infectologista.

PESQUISA

Keny afirma que as pesquisas realizadas desde 2008 por professores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Fortaleza (Unifor) trabalham com uma amostragem de aproximadamente 100 pessoas por ano. A porcentagem de 40% foi encontrada em 2014, antes do aparecimento em maior escala da zica e da chicungunya. "A perspectiva é de que (as pesquisas) fiquem um pouco mais confusas, porque agora existem essas doenças e mais aquelas que a gente não sabe. Esse ano tentaremos fazer uma lista maior de patologias parecidas com a dengue, na tentativa de encontrar outros indícios", complementou.

No último boletim da dengue disponível no site da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), de 5 de agosto, dos 75.743 casos notificados, 61,1% são definidos como prováveis. Ou seja, houve sintomas, mas não houve comprovação.  
 
 
 
Redação O POVO Online 

    

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