Participamos do

Os mitos do trabalho infantil e os 26 anos do ECA

O procurador do Trabalho Antonio de Oliveira Lima escreve artigo sobre os 26 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
14:34 | Jul. 13, 2016
Autor O POVO
Foto do autor
O POVO Autor
Ver perfil do autor
Tipo Notícia

Antonio de Oliveira Lima
Procurador do Trabalho

"Sou contra o trabalho escravo, e contra o trabalho degradante, mas não contra o trabalho infantil". Essas palavras abriram o discurso de um vice-prefeito cearense, em uma conferência sobre os direitos da criança e do adolescente. Justificou a fala com base em sua história: “trabalhei desde criança e consegui vencer na vida”. Este é um dos mitos do trabalho infantil.

Casos de resiliência existem, mas são exceções. Também trabalhei na infância, e superei as dificuldades com muito esforço. A maioria dos meus colegas, porém, não conseguiram concluir a educação básica. Por pouco não abandonei a escola: minha professora convenceu meu pai.

Talvez seja exatamente por isso que hoje luto contra esse e os demais tipos de exploração infantil. Após conhecer o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, compreendi melhor sua iniciativa.

O ECA é um dos instrumentos legais mais importantes do Brasil, e um dos mais modernos do mundo. Ele contempla a doutrina da proteção integral e materializa o princípio da prioridade absoluta, além de reconhecer a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento. Antes dele, vigorava no Brasil o Código de Menores, que não os reconhecia como sujeitos de direitos. Nesses 26 anos, o ECA proporcionou muitas mudanças na sociedade e no poder público. O marco legal da primeira infância, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional, e os avanços na educação infantil são exemplos de conquistas. Não obstante, muitos o desconhecem; outros têm uma visão equivocada a seu respeito.

Apesar dos avanços, ainda existem milhões de crianças e adolescentes com seus direitos violados, com a conivência da sociedade e a omissão do poder público. Somente no trabalho infantil são mais de 3,3 milhões, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2014. Ainda consumimos produtos produzidos ou comercializados por crianças, e contratamos os serviços de adolescentes em desacordo com a lei.

Precisamos identificar todas as crianças e adolescentes em situação de trabalho e garantir-lhes proteção social. É igualmente necessário responsabilizar as empresas e empregadores. Por outro lado, não podemos esquecer que o trabalho infantil é uma das violações de direitos que mais conta com a tolerância da sociedade. Por isso, é imprescindível ampliar as ações de comunicação sobre os direitos da criança e do adolescente, pois somente conseguiremos erradicar o trabalho precoce quando rompermos essas barreiras culturais.

Antonio de Oliveira Lima é procurador do Trabalho e coordenador do Programa de Educação contra a Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Peteca)

 

 

Seja assinante O POVO+

Tenha acesso a todos os conteúdos exclusivos, colunistas, acessos ilimitados e descontos em lojas, farmácias e muito mais.

Assine
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente