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Nota do grupo Bagaceira acende discussões sobre políticas culturais

15:32 | Jun. 17, 2016
Autor Isabel Costa
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Tipo Notícia

A cena teatral de Fortaleza recebeu um baque na noite da última quarta-feira, 15. O tradicional Grupo Bagaceira de Teatro anunciou, por meio de nota no Facebook, a interrupção de suas atividades por período indeterminado, por conta de problemas financeiros. De acordo com o post, o momento de crise vivido pelo País resultou no cancelamento de apresentações e circuitos programados para os próximos meses, o que esgotou as reservas do coletivo.

Nesta sexta-feira, 17, Rogério Mesquita, integrante do Bagaceira, Paulo Linhares, presidente do Instituto Dragão do Mar, e Fabiano Piúba, titular da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) se reuniram no programa Debates do Povo na Rádio O POVO CBN. Em pauta, a urgência de encontrar soluções para a manutenção de espaços e de coletivos artísticos das diversas linguagens.

Rogério classifica a situação como “muito triste”, pois a Capital não tem estrutura capaz de comportar as montagens produzidas.

Plural em seus espetáculos, o Bagaceira surgiu em 2000, após seus primeiros integrantes trabalharem juntos no Festival de Esquetes. Desde então, vem fazendo longas turnês Brasil afora, sempre com novas apresentações e inquietações por parte de seus textos.

Rogério Mesquita enfatiza que o grupo não chegou ao fim, mas a um momento de adaptação, dada as circunstâncias e falta de incentivos por parte de políticas públicas para o teatro. Em 2015, o grupo realizou 180 apresentações pelo Brasil, das quais apenas 18 foram em Fortaleza.

“Não encontramos na Cidade teatros com espaços disponíveis para espetáculos de longa duração. Não existe um circuito de apresentações em Fortaleza, não por falta de público, mas por falta de locais. É um fato triste, mas o grupo não está contaminado por essa tristeza. Estamos sempre ensaiando e criando”, acrescenta Rogério.

Fabiano Piúba, titular da Secult, assinalou que a política das artes não tem uma atualização periódica. Como exemplo, ele cita o Edital de Incentivo às Artes que, apesar de ser uma das principais ferramentas de fomento, está - nas palavras do gestor - descolado do Sistema Estadual de Cultura e do Plano Estadual de Cultura, documento que prevê metas para os próximos dez anos.

A revisão desse e de outros certames está sendo discutida dentro dos fóruns de linguagens. A perspectiva de Fabiano é rever também os editais Ceará Junino e Natal de Luz, pois todos buscam os mesmos critérios. “O único que difere é o edital de Cinema e Vídeo”, assinala.

O secretário citou o futuro edital de Apoio e Sustentabilidade, hoje em elaboração pela Secult, como mecanismo para assegurar a continuidade de grupos representativos como o Bagaceira. Previsto para publicação no segundo semestre de 2016, o texto contemplará incentivos para criação, produção, formação e pesquisa.

Como o Bagaceira não chegou ao fim, mas, felizmente, passa apenas por um hiato, há possibilidade do novo edital atingir o grupo. Em 2015, o grupo realizou 180 apresentações pelo Brasil, das quais apenas 18 foram em Fortaleza. O grupo continua com espetáculo Interior em cartaz na Casa da EsquinaAs apresentações ocorrem hoje e amanhã, 19, às 19 horas. A entrada custa R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia.

Rogério pontua, entretanto, que é necessário avançar nas políticas de incentivo cultural para além dos editais, que, em sua maioria, estão engessados. “E pensar em outras formas de fomento na nossa Cidade e no nosso Estado. O debate não se restringe a nota de um grupo, mas é retrato da situação de vários grupos de teatro de Fortaleza”, diz Rogério.

Também participante do debate, o presidente do Instituto Dragão do Mar, Paulo Linhares, acrescenta que as atividades culturais geram empregabilidade e renda em Fortaleza e no Ceará. “O trabalhador da cultura paga impostos, estuda, se especializa. É um setor que movimenta e gera dinheiro”, diz. Ele também lembra que setores mais especializados – como o Bagaceira, que faz teatro de pesquisa – apresentam mais dificuldade para captar recursos em entidades privadas, pois não atingem um público grande a cada vez. “Mas eles são extremamente importantes para o desenvolvimento do pensamento e das criações”, diz Paulo.

Post
Poucas horas após a publicação inicial, o post no Facebook contava, até o fechamento desta matéria, com 384 compartilhamentos e 130 comentários, todos de apoio aos artistas. Dentre as opiniões, alguns fãs sugeriram ideias de financiamento coletivo e outras alternativas para que o grupo mantenha as atividades. Rogério agradeceu o interesse do público e afirma que as ideias estão sendo ouvidas e serão apresentadas em reuniões do Bagaceira.

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