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Desapropriação no Presidente Kennedy só irá ocorrer se houver viabilidade financeira para obra

Moradores do bairro irão às ruas a partir das 8 horas deste sábado, 20. Secretaria Municipal de Infraestrutura de Fortaleza nega decisão arbitrária
18:00 | Fev. 19, 2016
Autor Rubens Rodrigues
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Rubens Rodrigues Repórter do OPOVO
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Tipo Notícia
Os moradores do bairro Presidente Kennedy irão às ruas na manhã deste sábado, 20, contra a remoção das famílias que moram no entorno do Shopping RioMar. As residências e os estabelecimentos comerciais da rua Santa Sofia com a avenida Doutor Theberge estão entre os 26 imóveis que podem ser desapropriados. A Prefeitura pretende alargar a av. Sargento Hermínio.
 
Representantes da comunidade dizem que as indenizações propostas pela Prefeitura "beiram o ridículo" e denunciam "ameaças de remoção" por funcionários da Secretaria Municipal de Infraestrutura de Fortaleza (Seinf). Além disso, relatos dão conta de idosos e crianças que adoeceram por causa da poluição física e sonora gerada pela obra.
 
De acordo com a coordenadora do movimento responsável pela manifestação Daqui Não Saio, Raquel Meneses, o objetivo do ato é conscientizar o bairro inteiro. "Vamos ter carros de som. Queremos passar por todas as ruas do Presidente Kennedy concientizando as pessoas porque o problema não é só na (rua) Santa Sofia, isso é apenas o princípio". A passeata começará às 8 horas. Na noite desta sexta-feira, 19, a rua vai receber uma oficina de cartazes para incrementar a mobilização.

[SAIBAMAIS1]Na última quinta, 18, cerca de 100 moradores do bairro discutiram em assembleia com membros do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), além de lideranças do bairro como a Liga Esportiva do Presidente Kennedy e a Associação Esportiva do bairro. Uma audiência pública está sendo programada na Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará.
 
"Eles querem tudo maquiado" 
 
Na assembleia, a população decidiu permanecer lutando pela causa. "Não é justo que o empreendimento chegue e os moradores que lá estão há décadas não possam se beneficiar (com a obra). O bairro é humilde, não é um bairro de grandes construções. Eles querem tudo maquiado, tudo muito bonito no entorno", afirmou Raquel Meneses.
 
Segundo moradores, a Prefeitura de Fortaleza avaliou imóveis em R$ 10 mil. "Tem morador lá há mais de 50 anos. As pessoas mais idosas estão ficando doentes porque construíram uma vida inteira lá e de repente terão que sair", continuou a coordenadora do Movimento Daqui Não Saio.
 
O "boato" de desapropriação atrapalhou até uma escola que funciona na esquina da rua Santa Sofia com av. Doutor Theberge. O colégio que atende 150 crianças viu o número de matrículas diminuir 15% em comparação ao ano passado. A instituição de ensino informou que gera renda para 12 pessoas, todas mulheres. 
 
Viabilidade financeira 
 
De acordo com o secretário de Infraestrutura do município, Samuel Dias, o processo de negociação não é definitivo. O titular da pasta explicou que o momento é de análise orçamentária e a obra só será realizada se houver viabilidade financeira. "Nós estamos fazendo um levantamento de valores para analisar a viabilidade. Foi feita uma estimativa e vamos discutir com os moradores. A Prefeitura não faz nada de forma arbitrária".
 
Em relação aos baixos valores oferecidos aos moradores, o secretário afirmou que os valores de indenização são justos e a Prefeitura só trabalha com números referência de mercado. "As pessoas que estão sendo desapropriadas não estão com seus imóveis à venda, então existe uma expectativa diferente. É muito comum sempre que há um processo de desapropriação entender que o valor que está sendo pago é inferior".
 
Samuel Dias afirmou ainda que a Seinf nunca foi procurada pela população para discutir eventuais problemas dos moradores. "Estamos tomando conhecimento das reclamações por vias indiretas. Todo processo é feito a partir do interesse público", finalizou.
 
O Movimento Daqui Não Saio divulgou vídeo com depoimentos dos moradores. Assista:
 
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