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Site com discurso de ódio contra alunas da UFC é denunciado por blogueira

Lola Aronovich, do blog feminista Escreva Lola Escreva, denuncia site que incita estupro e feminicídio
16:58 | Jan. 04, 2016
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Tipo Notícia

Atualizada às 18h50 

Incitação ao feminicídio, defesa da legalização do estupro de mulheres, discursos de cunho misógino, além de um texto, ensinando passo a passo, como enganar uma aluna do curso de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), levá-la a uma festa, drogá-la e praticar um estupro coletivo. O conteúdo preconceituoso e de ódio é do site Reis do Camarote. Posto no ar no final de dezembro, o site foi denunciado por Lola Aronovich, blogueira feminista e professora da UFC, em seu perfil na rede social Twitter.

Em entrevista ao O POVO Online, Lola afirma acompanhar o fórum de discussão anônima de um homem curitibano que lhe faz ameaças e a persegue por seu histórico de luta por direito das mulheres. “O site é mais um desses ataques. Ele chega a colocar foto e nome do meu marido Sílvio Cunha, como autor do site”, aponta.

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De acordo com Lola, o homem, apesar de não se identificar abertamente no fórum, posta no grupo - a que ela tem acesso por ele enviar e-mails com o endereço para que ela acompanhe as ameaças - fotos suas, de sua carteira de estudante, e fala do tempo em que esteve preso (entre 2012 e 2013). “Este não é primeiro site com esse conteúdo que ele coloca no ar. Em 2012, ele foi preso por um site assim. Ano passado, publicou o Tio Astolfo, em agosto, em que também defendia o estupro. Em outubro (de 2015), colocou no ar um site fake como se fosse em meu nome, que fazia um discurso de ódio aos homens”, relembra.

Além das postagens, que relatam supostos estupros e ensinam de forma machista como um homem deve tratar uma mulher, o autor dá o que ele chama de “aviso às autoridades”. “Este website é hospedado nos Estados Unidos da América (...) Pelas leis norte-americanas e malaias, o conteúdo é plenamente legal. Se os partidários da presidenta Dilma podem falar livremente em pegar em armas para instituir um golpe de estado, nós também podemos defender o estupro” (sic), afirma a página.

O site, nesta segunda-feira, 4, aparece com a capa substituída por um banner que seria da Justiça Federal, informando que a página teria o “servidor apreendido” e o número de processo “0003/2016-1-SR-DPF-CE”. O número não está registrado na Justiça Federal no Ceará. Ao clicar, o internauta é redirecionado para site de anunciantes. Conforme aponta Lola, esta é uma estratégia, explicada pelo autor no fórum, para demonstrar para possíveis investidores, o potencial de acesso da página. “Ele disse que ganhou R$ 400 de anunciantes somente nesses dias em que está no ar”, diz a professora.

Por isso, a blogueira pede que as pessoas não compartilhem nem ajudem a viralizar o site. Para denunciá-lo, ela propõe que internautas interpelem o perfil @HumanizaRedes no Twitter (sem linkar o site, para não gerar ainda mais acesso) ou usem o site www.humanizaredes.gov.br.

O Humaniza Redes - Pacto Nacional de Enfrentamento às Violações de Direitos Humanos na internet é uma iniciativa do Governo Federal para garantir mais segurança na rede e fazer o enfrentamento às violações de Direitos Humanos que acontecem online.

A Polícia Federal também disponibiliza em seu site um canal de denúncia, que alguns internautas têm relatado ter usado desde que o site começou a ser divulgado. O POVO Online entrou em contato com a PF, por meio da assessoria de imprensa, para entender o que acontece após as denúncias. Até a publicação desta matéria, não recebeu retorno.

Classificando o ambiente da Faculdade Direito como "conservador", a estudante do Direito da UFC, ativista pelos Direitos Humanos e integrante do Coletivo Feminista Lilas (que terá a identidade preservada), aponta que, apesar de "absurdo", o conteúdo exposto no site não está isolado no contexto acadêmico.

"O culto explícito ao estupro na forma de manual surpreende - afinal, normalmente essa apologia é mais velada -, mas a cultura do estupro, presente na nossa sociedade, obviamente também está não só na Faculdade de Direito como na Academia como um todo. Temos poucas professoras, e muitos professores - vários deles que ainda não veem problema nenhum em fazer piadas machistas em sala. Os trotes permanecem como tradição, e vários deles, como o famoso leilão de calouras e calouros, reproduzem a objetificação da mulher. Num ambiente em que essas práticas ainda são vigentes, e são naturalizadas, um crime como esse site apavora, mas é possível ver o caminho que leva até ele", opina.

Por meio de assessoria, a UFC lançou nota de repúdio. “A UFC repudia veementemente atitudes de criminosos que se utilizam da internet e de quaisquer outros espaços sociais para práticas delituosas, condenáveis sob todos os aspectos, e ainda façam ameaças e ofensas a estudantes e outros integrantes da comunidade universitária. A UFC espera que esse tipo de crime seja objeto de investigação e de punição na forma da lei aos que o praticam, em respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana e pelo combate rigoroso a qualquer tipo de violência, intolerância e discriminação na sociedade”.

Redação O POVO Online 

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