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Na véspera de completar um ano da morte do filho, subtenente fala ao O POVO sobre o caso

19:34 | Nov. 10, 2015
Autor Jéssika Sisnando
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Jéssika Sisnando Repórter
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Tipo Notícia

Atualizada às 20h41min

Na véspera de completar um ano da morte do filho Lewdo Ricardo, de 9 anos, o subtenente Francileudo Bezerra Severino conversou com O POVO sobre a vida após o 11 de novembro de 2014, dia que mudou a vida dele e de toda a família. 

 

Atualmente, Cristiane Renata Coelho, ex-esposa do subtenente do Exército Brasileiro (EB) e mãe de 'Lewdinho', está presa no Instituto Penal Desembargadora Auri Moura Costa, em Aquiraz. A mulher é acusada pela Polícia de ter envenado o ex-marido e o filho e foi denunciada pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) por homicídio e tentativa de homicídio triplamente qualificado.

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"Quando acordei (no hospital) não sabia de nada. Demorou certo tempo para que contassem a verdade. Primeiro me falaram que tive um problema de intoxicação alimentar, depois que meu filho tinha morrido, que até então eu não sabia. Depois foi que me falaram que fui autuado em flagrante quando estava em coma. A pessoa ser autuada já é ruim - e você não ser o culpado, meu mundo virou de cabeça pra baixo. E ainda mais na minha profissão: sou militar, sempre vivi só para a minha família", descreveu.

Francileudo conta que, em alguns momentos, chegou a imaginar que Cristiane não seria presa. "Eu era confiante, mas tinha a preocupação de que ela manobrasse algo". Outra preocupação do subtenente é a situação do outro filho do casal, Lucas, também autista, ter passado cinco meses morando com a mãe. "Me preocupava com o que ela iria dizer a ele", relata.


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Família 

O apoio da família foi fundamental para que o militar pudesse se recuperar, sair do hospital e contar sua versão.  


"Minha família esteve sempre do meu lado. A minha mãe, meu pai e minha irmã praticamente moraram na UTI comigo. Em nenhum momento tiveram dúvidas", comenta. Sobre a união dos amigos que fizeram uma campanha para apoiar Francileudo, ele diz que são pessoas que o conhecem desde criança. "Esse apoio deles ajudou a me fortalecer. Todos viram que eu era uma pessoa de boa índole", relata.

O subtenente disse que, quando obteve a guarda do segundo filho do casal, foi pessoalmente a Recife buscá-lo e encontrou alguns familiares de Cristiane. Ele relata que os avós maternos já entraram em contato e querem ver a criança. O pai comenta que no momento está tentando preservar o filho.  

"Ninguém disse a ele que o irmão morreu e a mãe está presa. Apenas que ele perdeu duas pessoas que viviam com ele", comentou Francileudo, que diz tentar levar uma vida normal "na medida do possível". "Se eu sentar em um restaurante, metade das pessoas reconhece e fica falando. A gente vê que tentam não importunar, mas que estão falando da gente. Tornei-me uma pessoa pública sem nunca ter feito nada para isso", disse.

 

Casamento

 

Segundo o militar, Cristiane era amiga da namorada de outro militar e por meio do colega eles se conheceram. Com seis meses noivaram e até então tinham um bom convívio. "Eu era um cara que não gostava de casamento, queria ser solteiro, mas a gente deu certo. Então, em um ano a gente estava casado, com três anos ela engravidou e foi uma criança programada, como o Lucas", relatou.

Ele relata que Cristiane nunca foi agressiva ou demonstrou que pudesse fazer algo contra o ex-marido ou os filhos. A depressão, conta, teria surgido há pelo menos dois anos, mas acredita que a doença seria "uma encenação".

Um dos momentos mais delicados foi quando quando viu uma foto do filho morto, em um inquérito na delegacia. "O rosto dele não aparentava sofrimento, parecia que estava dormindo", lembra. 

 

O dia do crime

 

"Naquela noite eu cheguei, deixei os meninos em casa, voltei com as compras, coloquei o carro para dentro e, passados alguns minutos, ela disse que queria ir para o hospital, que estava passando mal. Ela simulou um desmaio, hoje eu sei que foi uma simulação. Reanimei ela. Ela começou a dizer que eu tinha batido nela e falei que de manhã ela fosse ao hospital conversar com a psiquiatra. Ofereci para levá-la ao hospital, mas eu chamaria meus pais para ficar com as crianças e ela disse que não queria ninguém da minha família lá em casa", rememora.

 

Lewdinho

 

O pai, em prantos, disse que se pudesse conversar com o filho, pediria "desculpas" por se sentir "incompetente" de não ter notado que a esposa faria algo contra ele ou o filho.

"No dia em que ele nasceu, disse que iria protegê-lo para sempre. Quando descobrimos que ele era autista, vi que a proteção que eu iria dar a ele seria maior ainda e sinto que falhei. Sei que eu não poderia ter feito nada, mas talvez se eu tivesse visto alguma coisa, um ponto que deixou no ar, identificar que ela seria uma pessoa má, que poderia fazer com ele ou comigo, pediria desculpas por ter sido incompetente de não protegê-lo, e continuar dizendo que não foi à toa que coloquei o nome dele na minha perna (tatuagem)", disse, emocionado.

 

Cristiane continua realizando tratamento psiquiátrico 

Segundo o advogado de defesa de Cristiane Renata, Paulo Quezado, ela continua negando qualquer participação na morte do filho. "A tese é de negativo da autoria e a versão é que ele (subtenente) teria espancado e envenado a criança e ela", relatou. 

 

Conforme Paulo Quezado, foram ouvidas as testemunhas de acusação, e um perito técnico que questionou a perícia realizada. "Estamos aguardando as testemunhas de Recife, onde ela passou parte do tempo da vida dela", relatou.

Segundo a defesa, a juíza pronunciou Cristiane para o Tribunal de Júri e o advogado recorreu à Justiça. O caso deve ser julgado no começo do ano e foi solicitada a absolvição sumária, por ela não ter "culpabilidade" pelos eventos, relatou.

Sobre o estado de saúde de Cristiane Renata, Paulo Quezado relatou que ela continua ingerindo remédios que utilizava antes da prisão, do tratamento psiquiátrico. Graduada em Educação Física, Cristiane tem direito à prisão especial.  

 

Inquérito do caso tem mais de mil páginas; delegado comenta investigação  

Para Wilder Brito, titular do 16º DP (Dias Macedo), o caso chegou nas mãos da equipe do distrito policial "pronto", pois o subtenente já estava autuado em flagrante por ter espancado a mulher, envenado o filho e, por fim, tentado o suicídio. No entanto, o delegado disse que teve uma série de indagações sobre aquele caso, que acabaram gerando uma reviravolta na investigação.

"Pensei que poderia ser ela (Cristiane) ou uma terceira pessoa. Como vou acusar alguém que está indefeso, ele (Francileudo) foi autuado em flagrante e nem poderia se defender, pois estava em cima. Fomos juntando as peças. Tinha duas crianças e dois adultos, dois adultos poderiam ter feito o crime", explicou.

O delegado comenta que teve conhecimento do fato ao meio-dia do dia 11, que ligou para os peritos de local do crime e pediu para conversar com eles. Em seguida foi até a residência onde Lewdinho havia morrido. "Comecei a investigar a vida dela, perguntei sobre a família, pedi o aparelho celular dos dois", descreveu o titular.

Para o delegado, a primeira contradição do caso foi a mensagem postada no Facebook. "Por volta das 9 horas a mensagem foi modificada, com o Leudo em coma. No dia 12 a página saiu do ar. Toda minha desconfiança começou a aumentar". Cristiane dizia que não tinha a senha de Francileudo e que fechou o Facebook dele quando estava aberto, no entanto o delegado diz que só é possível apagar com a senha, relatou.

Para Wilder Brito, a cada momento que solucionava uma questão, novas indagações surgiam na investigação. O resultado disso é um inquérito com mais de mil páginas, 50 mil arquivos recuperados de aparelhos celulares e um relatório final de 119 páginas. 

 

Confira entrevista na íntegra

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