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Intervenção reabre debate sobre demolição da Praça Portugal

Um dia após intervenção contrária à demolição da Praça e a favor da mobilidade consciente, O POVO Online percorreu o local e detectou os resquícios do ato: pincéis e balde de tinta na área, mas nenhum sinal de depredação

15:00 | 07/09/2015
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Prestes a ser demolida, a Praça Portugal foi lugar de uma intervenção de ocupação na tarde desse domingo, 6, com pintura e pichação do arco e calçadas, além da implantação de uma faixa de pedestres improvisada em ponto que dá acesso ao shopping Aldeota. Apesar da pequena movimentação por conta do feriado da Independência do Brasil, as cores chamavam atenção de quem passava pelo local, na manhã desta segunda-feira, 7.

Um comerciante da área, que preferiu não se identificar, disse ao O POVO Online que ele próprio chamou a Polícia Militar. Os agentes não chegaram a tempo de impedir o que ele chamou de “absurdo”. “Sou totalmente contra, sou nem bicho para concordar com um negócio desses. Você por acaso concordaria?”, indagou.

As fotos da pintura e pichação da Praça Portugal foram enviadas ao WhatsAPP do O POVO por volta das 22 horas de ontem e, inicialmente, a autoria do ato “Restauração Coletiva da Praça Portugal” não estava identificada. Horas depois, o coletivo Massa Crítica Fortaleza publicou nota sobre a intervenção, ressaltando a ressignificação do monumento. “Na praça, que a Prefeitura quer matar, brotou algo inesperado. Numa intervenção urbana, dezenas de pessoas a transformaram em algo mais vivo: uma gigantesca flor. Será ela esmagada pelos carros? Morrerá mais um símbolo de resistência?”, informou.

Veja fotos da intervenção contra à demolição da Praça Portugal

Além de ser contra a demolição, o grupo de cerca de 30 pessoas integrou na pauta do ato a questão da mobilidade consciente. Autor de algumas ciclofaixas improvisadas pela cidade – que foram apagadas pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) – , o coletivo pintou, com as cores do arco-íris, uma faixa de pedestres na área.

Durante o período em que esteve no local, O POVO Online não viu a faixa colorida sendo utilizada, mas os pedestres arriscavam opiniões sobre a estética da intervenção. “Olha, sinceramente? Não gostei muito, mas acho que a Praça deve ser tombada”, avaliou a funcionária pública Celeste Silva Viana, 75 anos, quando voltava do desfile cívico-militar com a neta de 10 anos. “É, não sei não, mas gosto das cores!”, disse a menina Daniele Suzane.

O estudante de Engenharia de Telecomunicações, Lucas Abdalah, contou ter visitado o local somente para conferir como ficou a intervenção. “Eu só não vim ontem porque estava participando de outro ato de mobilidade, o passeio ciclístico pelo Centro. Eu acho que ficou bonito, ficou bacana. E prefiro ela colorida do que demolida. Acho que isso vai efervescer o discurso sobre a Praça Portugal”, frisou.

Segundo a moradora de rua Maria Aldenir Martins, 46 anos, que estava no local durante o ato, não houve confusão nem depredação. Também contrária a intervenção, ela discordou da ação, principalmente, por conta da “beleza”. “Eu vou ser sincera, isso realmente não está bonito, está horrível. Fez foi sujar a praça. Escrevem que 'Lutar não é crime', mas tem que lutar de outra forma, porque essa pintura não ficou boa, não”, completou.

Único entrevistado que admitiu ser a favor da demolição da praça, o analista de sistemas Patrick Gilvan, 32 anos, achou a pintura “sem sentido”. “Para mim, [a demolição] é boa por conta da proposta de melhorar o trânsito. E também vai ter a construção de novos equipamentos de lazer, mais interessantes do que essa praça”.

Dono de uma das bancas do entorno, Raimundo Lima Cardoso não estava no dia da intervenção e ainda não havia notado a pintura. Convidado pela reportagem para ver as novas cores do monumento, ele disse estar satisfeito. “Ficou bonito, né? Bem colorido. Eu não quero que derrubem, mas é também por causa do meu ponto”, disse, avistando o local de longe.
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Caso será apurado, diz Prefeitura
Depois de receber as fotos do O POVO, a Secretaria da Regional II disse que vai apurar o caso, com todos os meios possíveis, a fim de tentar descobrir os "culpados". A utilização das imagens de câmeras de segurança do shopping, no entanto, não foi confirmada pela pasta. A Praça Portugal ainda não tem data para ser demolida, pois conforme a gestão, o recurso para as obras está sendo captado junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF).

As obras deveriam começar até setembro, de acordo com último prazo do prefeito Roberto Cláudio (Pros), dado em 17 de junho, mesmo dia em que o Conselho Estadual de Patrimônio Cultural (Coepa) decidiu não abrir processo para estudar o tombamento da praça.

Cenário
A reportagem não encontrou nenhum sinal de depredação na área. Em cima da escultura em formato de um quadrado, no centro da Praça, estavam abandonados dois pincéis e um balde de tinta. As plantas próximas ao arco, pintado e pichado com o símbolo da Anarquia, estavam sujas de tintas.

A inscrição “Puta”, que acompanhava o nome da presidente Dilma Rousseff (PT), foi apagada. Sobre isso, a Massa Crítica esclareceu que a frase não foi escrita por ninguém da intervenção. ''Não sabemos quem pintou, mas todo machismo deve ser reprovado. Devemos nos perguntar a quem interessa desqualificar o lindo protesto fazendo isso depois que todos se retiraram!'', disse a nota do coletivo.

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No último dia 29 de agosto, ativistas do coletivo fizeram uma intervenção nas ruas de Fortaleza, pintando frases de respeito aos ciclistas no cruzamento da 13 de Maio com Avenida da Universidade. No mesmo dia, também foi implantada uma ciclofaixa improvisada na 13 de Maio. Outras ciclofaixas foram pintadas no dia 8 de agosto e 1° de junho.

Embate AMC x Massa Crítica
No dia 21 de agosto, a AMC solicitou que a Polícia investigasse a pintura de ciclofaixas nas avenidas Domingos Olímpio e 13 de Maio. O órgão defendeu que a pintura das faixas é ''exclusiva do poder público e sua realização por terceiros pode colocar a vida de pessoas em risco''.

Um ofício foi entregue à Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (DADT) em 12 de agosto, quatro dias depois da pintura. A autarquia disse que uma implantação do tipo necessita de análises técnicas, ''do contrário, pode comprometer vidas''.

Alguns dias depois, a Associação dos Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida) emitiu uma nota de repúdio à AMC.  A associação explicou que as "faixas cidadãs''- como são denominadas por eles - servem para ampliar o debate sobre mobilidade por bicicleta em Fortaleza.

A Massa Crítica, por sua vez, informou que responderá a ''criminalização'' do movimento por parte da Prefeitura. "Vamos todos juntxs! De bike, a pé, de skate de patins, adultos, crianças e idosos, vamos todxs de forma auto-organizada. Seremos quinhentos, mil, milhares, até cair a noticia crime da AMC", escreveu, em nota.  

 

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