O Brasil precisa escolher qual futuro energético deseja construir
Quem gera a energia mais barata e menos poluente está sendo penalizado. Os cortes de geração eólica e solar atingem níveis incompatíveis com um país que pretende ser líder da economia verde
O Brasil reúne condições únicas para liderar a transição energética global. Temos a matriz renovável mais competitiva do mundo, clima favorável e um Nordeste que se tornou referência internacional em geração limpa. Esse diferencial pode atrair novas indústrias, data centers e cadeias de hidrogênio verde, gerando empregos, renda e desenvolvimento regional. Mas nenhum potencial se realiza sem estabilidade regulatória, previsibilidade e justiça para quem investe.
Hoje, essa lógica está ameaçada. Quem gera a energia mais barata e menos poluente está sendo penalizado. Os cortes de geração eólica e solar atingem níveis incompatíveis com um país que pretende ser líder da economia verde. O investidor recebe autorização do ONS, constrói a usina, vende a energia, paga pelo uso da transmissão, e mesmo assim é impedido de entregar o produto por razões que não controla. Cada megawatt renovável cortado é substituído por geração fóssil mais cara, pressionando tarifas, reduzindo a competitividade da indústria e prejudicando o consumidor.
Tratar essa perda como “risco do negócio” é ignorar a realidade. Não é razoável responsabilizar quem cumpre todas as regras enquanto os gargalos são externos: atrasos de transmissão, limitações da rede ou falhas de coordenação institucional. A compensação pelos cortes não é privilégio, mas uma medida de justiça regulatória que protege empregos, garante segurança jurídica e mantém o sistema funcionando de forma coerente. Mesmo assim, a energia renovável continua sendo, de longe, a opção mais barata e estratégica para o país.
A recente MP 1304 torna esse debate ainda mais relevante. Apesar de abordar temas importantes, o texto incorporou dispositivos que transferem custos indevidos às fontes renováveis, incluindo custos com reserva de capacidade baseada em geração fóssil. Isso contraria o esforço global por energia limpa. Ainda assim, o setor produtivo permanece aberto ao diálogo para aperfeiçoar a medida, buscando soluções equilibradas que preservem o investidor, o consumidor e o interesse coletivo.
O Brasil tem diante de si uma decisão estratégica. Valorizar a geração renovável significa proteger empregos, especialmente no semiárido nordestino; garantir energia mais acessível e fortalecer o ambiente de negócios que sustenta o nosso desenvolvimento. Cada torre eólica e cada usina solar no sertão representam trabalho, renda e novas perspectivas para milhares de famílias brasileiras.
O futuro pertence às nações que integram energia limpa, indústria e sociedade em um mesmo projeto. O Brasil pode, e deve, ser esse líder. Para isso, é essencial não penalizar quem já entrega a energia mais limpa e mais barata para todos.