Elas estão no jogo, mas ainda lutam para não ser invisíveis
esportedelas

Elas estão no jogo, mas ainda lutam para não ser invisíveis

Como o machismo e o racismo ainda afetam atletas, treinadoras, gestoras e jornalistas no esporte brasileiro

O que temos visto ao longo dos séculos, no mundo inteiro, seja nos esportes ou em qualquer outra área, é que as mulheres, mesmo em um contexto de misoginia e preconceito, alcançam feitos cada vez mais surpreendentes. Quando a roda gira e os incentivos aparecem, o resultado é um pódio completo, como aconteceu nas Olimpíadas de 2024, em Paris.


Os jogos elevaram o esporte feminino a outro nível no Brasil. Pela primeira vez na história do esporte brasileiro, a delegação era majoritariamente feminina. Dos 276 atletas, 153 eram mulheres, 55,43% do time. No pódio, nomes como Bia Souza, Rebeca Andrade, Rafaela Silva e Rayssa Leal revelaram outro dado importante para o país: o protagonismo de mulheres, negras e periféricas,nos esportes.

Gestão feminina


Então, o que falta para que esse jogo vire e as mulheres ocupem cada vez mais espaço? Mulheres em cargos de gestão. A representatividade continua sendo um dos principais aliados na tentativa de romper esses estigmas. No Brasil, o caso recente mais emblemático é o de Leila Pereira, presidente do Palmeiras, a primeira mulher a presidir um clube no país. Desde que assumiu, em 2021, Leila já foi à público diversas vezes denunciar casos de machismo e misoginia. “Eu me sinto muito sozinha, na CBF, na Federação Paulista...não tem mais mulher na Série A, B ou C. E isso não pode ser tratado como normal porque não é. Precisa ser muito mais equilibrado”, disse certa vez, em uma coletiva no clube.

Em 2020, a jornalista cearense Beatriz Carvalho escreveu um livro para dar visibilidade às mulheres em cargos de gestão no esporte brasileiro. Escrita em parceria com a jornalista Karoline Tavares, a obra “Passa a Boa para Elas” aborda a questão histórica, dados da época e a história de grandes nomes femininos no esporte. “São histórias de protagonismo, de determinação e inspirações que quero carregar para sempre. Sei que sou uma sementinha de tantas outras que lutaram por mais”, diz Beatriz, com orgulho.

O recorte racial

Beatriz também foi uma das primeiras mulheres negras no Ceará a trabalhar como comentarista esportiva na TV. Uma pressão que ela não esquece. “Muitas vezes se espera que eu erre ou que não tenha o mesmo conhecimento que meus colegas homens. Esse preconceito se manifesta de formas sutis e, em alguns casos, de maneira explícita. E vem de diferentes frentes”, lembra.


Quando recebeu o convite para entrar no jornalismo esportivo em 2017, Beatriz sabia o que ia enfrentar. Mas foi o convite para ser comentarista na TV que gerou o alerta. “Como tudo que a gente se propõe a fazer é rodeado de questões, eu sabia que colocariam uma lente de aumento no meu trabalho. Mas eu sempre evitei ler comentários nas redes sociais e busquei me blindar dos preconceitos disfarçados de críticas que costumam aparecer”.


Há poucos dias, os cearenses foram surpreendidos positivamente com outro exemplo de resistência e representatividade quando a Federação Cearense de Futebol anunciou que Maria Helena Sousa, funcionária da FCF desde 2010, era a única mulher do país a atuar como delegada na Série A do Campeonato Brasileiro 2025. “Ter uma instituição como a Federação Cearense de Futebol reconhecendo e dando oportunidade a uma mulher negra em um espaço predominantemente masculino é um privilégio muito grande,” disse Maria Helena que também é militante de causas sociais.

Fortaleza x Ceará


No Ceará, os clubes refletem disparidades históricas: o Ceará Sporting Club interrompeu as atividades de base feminina em 2025 devido à falta de calendário, enquanto o Fortaleza mantém equipes sub-17, sub-20 e profissional, com infraestrutura adequada, mas ainda sem alojamentos exclusivos para as atletas. O time profissional feminino do Ceará tem previsão orçamentária de cerca de R$714 mil para 2025, enquanto o Fortaleza não divulgou valores para as categorias de base e o time profissional. Apesar do avanço em estrutura e peneiras, ainda há muita desigualdade em relação ao futebol masculino.

Fora do campo


O desafio não se restringe ao futebol. No automobilismo, a presença feminina é historicamente limitada. O livro Corrida Invisível, da jornalista Juliete Costa, resgata trajetórias de pilotas pioneiras, apresenta dados inéditos sobre participação feminina e mostra caminhos para que meninas sonhem em se tornar pilotas. A obra denuncia a escassez de apoio e visibilidade, destacando que, embora a representatividade aumente gradualmente, ainda há muito a avançar.

 

Conteúdo de responsabilidade do anunciante
esportedelas
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar