Empreender

Pequenos negócios movimentam a economia em 2021 no Ceará

Micro e pequenas empresas são parte importante do PIB cearense e vem mudando o olhar governamental sobre esse crucial segmento produtivo

Um segundo ano de pandemia trouxe inúmeros desafios para diversos segmentos. Para os micro e pequenos negócios eles foram ainda maiores. Mesmo sendo responsável por boa parte do PIB cearense e gerando cerca de 70% dos postos de trabalho, ainda precisam percorrer um longo caminho para alcançar o sucesso desejado.

O recrudescimento da pandemia no primeiro semestre, o desencadear do processo inflacionário, a elevação dos custos de produção com a elevação do dólar e, consequentemente, dos combustíveis e do gás de cozinha. No segundo semestre, todos esses fatores chegaram juntos com o desalento da economia, juntando-se a isso o crescimento negativo do PIB por dois trimestres seguidos, caracterizando o que os especialistas chamam de estagflação. Como consequência desses fatores macroeconômicos, as micro e pequenas empresas sofreram bastante, principalmente, com a redução dos serviços que só vieram a funcionar plenamente do terceiro para o quarto trimestre.

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Outro fator que influenciou negativamente o empreendedorismo foi o aumento da taxa de juros SELIC. Com ele, o aumento dos juros para empréstimos foram ficando mais caros, desestimulando o empreendedor. Diante desse cenário, o que pensa o Governo do Estado e o que tem feito para abraçar esse segmento que tem uma forte influência nos indicadores de Emprego? Que propostas e projetos tem para os setores que movimentam o PIB do Estado e seguem numa tendência de crescimento? Dois grandes nomes dessa política nos trazem essa perspectiva: o Secretário do Desenvolvimento Econômico, Maia Júnior, e Alci Porto, Diretor Técnico do Sebrae Ceará.


O POVO - Qual o balanço que você faz de 2021, do ponto de vista do empreendedorismo dos pequenos negócios no Estado e quais foram as principais dificuldades?

Maia Júnior - Em primeiro lugar, tem algumas preocupações que geram algumas dificuldades não só para o empreendedorismo, mas para economia de forma mais ampla. Primeiro, a subida da inflação está obrigando o Banco Central a subir os juros em busca de conter a inflação. A taxa de juros é uma dificuldade para o empreendedor, taxas elevadas, logicamente, dificultam e muito a questão do capital de giro e da remuneração dos investimentos. Outro ponto importante, eu ainda insisto, é a falta de previsibilidade das ações do Governo Federal. O empresário não tem uma clareza de para onde está indo o Governo Federal, através do Ministério da Economia e de outros ministérios que são correlatos e de igual importância. A falta de previsibilidade para o empreendedor dificulta a tomada de decisões de médio e longo prazos. Outra dificuldade que essa falta de previsibilidade traz é a falta de financiamento; não se faz desenvolvimento sem financiamento e acesso ao crédito.

OP - Quais são os possíveis cenários previstos para a economia em 2022?

MJ - Apesar de dois trimestres praticamente sem crescimento a nível nacional, o Ceará está se comportando de uma forma diferente do normal, por que a economia do Ceará sempre reage um pouco depois da nacional, mas a nacional não está reagindo e nós estamos, e isso é uma diferença importante. Dentro do cenário do ano, é previsto um crescimento em torno de 3,5% e 4% da economia brasileira. Só que esse crescimento, é um crescimento em cima de uma economia negativa, que foi o ano de 2020, o ano de maior impacto na economia por conta do Covid. Então essa base negativa não dá uma realce na retomada da economia como se desejaria, por que uma coisa é crescer 4% em cima de -4%, como é o caso, outra coisa é crescer 4% em cima de 4%, que é o desejado, em cima de bases mais fortes.


OP - E quais foram os fatores que levaram o Ceará a ficar fora da curva na crise econômica nacional?

MJ - Ele fica fora da curva, primeiro, por que nós não gerenciamos inflação, nem gerenciamos taxa de juros, isso é um problema de ordem da União, do Governo Federal. Hoje, o Ceará é um Estado, do ponto de vista econômico, muito previsível. Todas as políticas públicas do Ceará estão em avanço, avanços consideráveis ao longo do que agora se completa um ciclo de transformação que está acontecendo no Ceará desde 1987, com Tasso Jereissati. Nós estamos vivendo uma sequência de grandes e de bons governadores. E esses bons governadores trilharam o caminho da continuidade, do aperfeiçoamento, do aprimoramento dessas políticas públicas, isso está colocando o Ceará numa condição, na minha opinião, que nunca tivemos. A questão da gestão fiscal, por exemplo, possibilitou ao Ceará ser um Estado eficiente do ponto de vista de gestão pública. Permitiu ao Ceará não só manter o funcionamento da máquina, mas expandir essa máquina de ofertas e serviços ao longo desses 35 anos.


OP- Como a economia vem se estruturando ao longo desses anos para alcançar o cenário atual?

MJ - O Ceará, nessa reestruturação da economia, está preenchendo algumas lacunas no sentido de sair de uma economia de baixo nível de produtividade, de baixo valor agregado de salários, para uma economia de crescimento de alto valor agregado, de alto valor internacional. Então a gente está aí transitando numa retrofitagem da economia antiga do Ceará: estamos retrofitando a indústria de calçados, têxteis e confecções. Estamos retrofitando também uma economia antiga de milho e feijão, que era a grande produção agrícola do Ceará, uma agricultura de sobrevivência, para uma agricultura nova, que é essa economia do mar, com a inserção de empresas que estão liderando a produção de pescados, tornando o Ceará importante exportador de pescados – lagostas, camarão, atum e outros. Estamos expandindo e entrando num outra geração da pecuária leiteira. Estão surgindo ainda outras cadeias, que a gente vem profissionalizando, como o turismo. Já se espera que, do ponto de vista do mercado interno, a gente já retome próximo de 90% as atividades de turismo e estima-se que até julho do próximo ano, o Ceará possa recuperar também essa base do turismo internacional.

OP - Como o Governo vê hoje os micro e pequenos negócios na geração da riqueza no Estado ?

MJ - Tem um ponto importante, dentro dessa linha do empreendedorismo, que nós estamos invertendo no governo Camilo: o Ceará era um Estado que estimulava o desenvolvimento apenas dos grandes e médios negócios. A política de incentivos do Estado era toda voltada única e exclusivamente pra indústria, pras médias e grandes empresas, nunca o estado do Ceará teve políticas voltadas para esse segmentos. Logicamente que o Sebrae foi um instrumento importante para essa ausência do Estado, o Banco do Nordeste, com o Crediamigo, também foi muito importante para estimular os pequenos negócios. Até por causa do universo, nós temos 598 mil empresas no Ceará que ou são MEI’s ou são pequenos ou são micro negócios. a expectativa para o saldo de crescimento desses negócios é de 25% ao ano para 2022. 70% desse crescimento são de pequenos negócios, então quem sustenta a economia do Ceará é essa capilaridade.

OP - Na sua opinião, quais são os grandes desafios do Ceará para 2022 , incluindo-se aí uma solução para o problema do desemprego?


MJ - O mercado de trabalho ainda não está tão aquecido, mas já temos bons sinais na reta final do ano, que é a redução da taxa de desemprego no Ceará, que cai de mais de 15% e volta aos níveis de pré-pandemia, que era em torno de 12%. Se repetirmos 2021, será uma coisa extraordinária. Em 2021 nós geramos, no Ceará, mais emprego do que nos últimos 25 anos, do ponto de vista da política de empregos. Nós já estamos com quase 73% de empregos gerados. Os cenários de crescimento do PIB são melhores do que os do Brasil, a expectativa para esse último trimestre é de que os cenários da última pesquisa do IPECE possam se manter e os sinais são de que teremos no PIB um crescimento maior que o do Brasil. Crescimento do PIB, geração de emprego, saldo de empresas abertas, a movimentação portuária, o crescimento da balança comercial, tudo isso são termômetros de bons resultados. Eu acredito que nesses próximos dez anos, o Ceará possa ter uma taxa de crescimento melhor do que o que vinha tendo, eu vejo uma perspectiva de 30 anos bem mais virtuosos.


O CEARÁ TEM HOJE UM DOS MELHORES AMBIENTES PARA OS PEQUENOS NEGÓCIOS

"O Ceará tem hoje um dos melhores ambientes para os pequenos negócios"
"O Ceará tem hoje um dos melhores ambientes para os pequenos negócios" (Foto: Getty Images)

 

OP - Qual o balanço que você faz de 2021, pensando na perspectiva do empreendedorismo no Estado? Quais foram as principais dificuldades?

ALCI PORTO - O ano iniciou com grande perspectiva de retomada da Economia, principalmente das atividades mais impactadas pelas restrições. O crescimento do número de novos negócios, aliado ao grande papel destes como indutores dos empregos gerados em plena Pandemia trouxe a esperança de uma retomada econômica sem muitos atropelos. Entretanto, o retorno do processo inflacionário, fortemente impactado pelos preços dos combustíveis e energia elétrica, mudou o cenário previsto anteriormente, levando todos a passarem a ter maior cautela nos investimentos e endividamentos, até porque justamente nesse período teremos o vencimento de empréstimos bancários contraídos anteriormente.

OP - Qual a sua avaliação das políticas de incentivo ao empreendedorismo, trabalhadas pelo Governo do Estado e Prefeitura? O que o senhor acha das linhas de crédito e programas implantados?

AP – Certamente, os empreendedores cearenses teriam muito mais dificuldade se não fora a pronta parceria do Governo do Estado e Prefeituras com o Sebrae, que buscou minimizar o efeito danosos destes dias difíceis. Graças a isso, o Ceará tem, hoje, um dos melhores ambientes de impulsionamento de novos negócios. Chegamos ao fim do ano de 2020 com 40% a mais de novos negócios no âmbito das pequenas empresas, em relação a 2019. E este ano de 2021, não será diferente. A criação da Secretaria Executiva de Empreendedorismo, pelo Governo do Estado e a retomada do apoio a Programas e Projetos integrados às ações do Sebrae em todo o Estado, já atingem, por exemplo, a mais de 80 mil empreendedores cearenses. Além disso, este ano reforçamos ações em capacitação, crédito orientado, compras governamentais, inserção digital e empreendedorismo nas escolas e Universidades. As Prefeituras, por sua vez, em muito estão contribuindo, apoiando as Salas do Empreendedor que já são realidade em 94 municípios cearenses, com 134 Agentes de Desenvolvimentos plenamente capacitados e acompanhados pelo Sebrae em todas as Regiões.


OP - O Governo vai enfrentar nos próximos anos um grande desafio que é o desenvolvimento de TICS no Ceará, há uma forte escassez de mão de obra e são poucas as microempresas na área de Tecnologia da Informação. Como se pensar nessa perspectiva para o próximo ano?

AP – O Sebrae vem, há anos, investindo na formação de um empreendedor mais capacitado e preparado para desafios como são a Tecnologia da Informação e a Inovação. Estamos, também, investindo, através da Educação Empreendedora, no empreendedor do futuro, fazendo com que, crianças, estudantes do ensino fundamental, médio, técnico e superior, estejam preparados para atuarem a partir do desenvolvimento do estímulo à criatividade, ao pensamento crítico, à visão de mercado, à adoção de estratégias de economia digital e fortalecendo o ecossistema de inovação.
Além disso, até março de 2022 estaremos iniciando as atividades do CEARÁ HABITAT DE INOVAÇÃO, que funcionará no espaço do Centro de Negócios.

OP - Qual o grande desafio para o governo no tocante ao empreendedorismo em 2022?

AP – Primeiro, compreender que os Pequenos Negócios merecem ser olhados com maior atenção pelas políticas públicas. A migração do emprego formal para as atividades empreendedoras deve ser seguido por iniciativas de apoio à preparação destes empreendedores aos desafios do mercado. Não se trata de ficar criando Programas/Projetos mas, sim, de dar musculatura de atuação aos já existentes, possibilitando a instituições como o Sebrae, expandir sua atuação com os conhecimentos já existentes. O que nos falta é somar esforços, ter complementariedade, integrar ações e recursos em prol de uma estratégia única. Os empreendedores esperam mais maturidade de todos nós.

OP - Quais áreas serão mais promissoras para apostar para quem pensa em empreender?

AP – O problema não é tanta investir, mas em que investir. Para 2022, a dica é ficar atento a tendências já consolidadas como E-commerce, Delivery; o uso de Home Office; o Dropshipping, que abre espaço para quem não precisa ter produto, basta fazer a ponte entre o produtor e os clientes; Criação de conteúdo para ações de marketing Digital e Importação de produtos para comercialização, setores como beleza, economia criativa, e moda. Outra aposta para 2022 são os infoprodutos. Nesse tipo de negócio, o empreendedor passa a ser o criador de produtos digitais como cursos online e e-books, por exemplo, além da área de Alimentação fora do lar, que vem em notório crescimento. Além disso, é bom atentar para tendências inovadoras que podem surgir como grandes oportunidades.

OP - 2022 será um bom ano para empreender?

AP - Talvez nunca uma expressão como “Ano novo, Vida nova” vá ser usada com tanta propriedade quanto no final deste 2021e durante 2022. Depois de quase dois anos fazendo tudo diferente, tem muito empreendedor interessado em seguir inovando e bem longe do que antes era chamado prosaicamente de “Normal”. Afinal, o momento atual demanda formas diferentes e modelos repensados e adaptados, tanto de se ver o mundo como para manter vivo o conceito de empreendedorismo. Quanto a ser um ano bom ou não, é difícil dizer agora, com o que sabemos e com as informações disponíveis, um exercício de futurologia. Seria temerário. Mas, pode-se prever que mudar vai continuar sendo necessário. E se arriscar em novas ideias e modelos, também. Nesse cenário, considero que o Sebrae continua sendo uma boa bússula, um “norte”, um apoio que pode ser demandado para orientar, estimular e, quando necessário, corrigir rotas.

OP - Como o senhor enxerga o trabalho de iniciativas importantes para o empreendedorismo como o movimento empreender, da fundação Demócrito Rocha?


AP - É reconfortante sentir como o empreendedorismo está sendo internalizado e tem ajudado a mudar mentalidades, vidas, cenários e futuros. E a Fundação Demócrito Rocha tem sido uma instituição particularmente importante na disseminação de conteúdos que são importantes para educar, esclarecer, inspirar e influenciar. Esse trabalho, tão rico, acaba fazendo do Sebrae um parceiro de primeira hora dessa missão abraçada pela Fundação e que tem o nosso reconhecimento e aplauso.

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