Empreendendo com diversão: quando a paixão se transforma em negócio
Em constante expansão, até 2025 a indústria dos jogos de tabuleiro valerá US$21,5 bilhões
A paixão de Pedro Parente, 34, por jogos de tabuleiro vem da infância. Nos aniversários, o presente predileto já era sabido de toda a família. Mas há cerca de três décadas não era em toda esquina que se encontrava outros amigos que dividissem o mesmo gosto. Sem companheiros que topassem a aventura, o menino Pedro então girou a roleta e seguiu adiante algumas casas no jogo da vida. Até que em 2012 um amigo, sim, um amigo lhe apresentou versões mais modernas dos board games (jogos de tabuleiro), que lhe saltaram aos olhos e resgataram a carência latente que há muito pedia para ser suprida.
O crush foi tão grande, que numa viagem aos Estados Unidos, Pedro adquiriu de uma única vez 25 jogos. O pai, em tom de brincadeira, chegou a comentar que o filho abriria uma loja com tudo aquilo. O comentário despertou algo no publicitário e futuro empreendedor: “ao brincar com isso, percebi como conseguir esses jogos era difícil e que realmente poderia ser um negócio maravilhoso e seria incrível introduzir pessoas nesse universo”, relembra. Foi em 2013, que ele decidiu transformar sua paixão em negócio, alugou um ponto próximo de uma grande escola, no bairro aldeota, e deu o ponta pé inicial a Balboas Hobby Games: “De início, o menor dos desafios foi ter um acervo, pois meus jogos pessoais seriam essa partida. Aprendi a ter o desapego em nome do negócio. O grande desafio foi introduzir as pessoas a esse mundo. Era muito comum encontrar a resistência das pessoas aos jogos mais novos, sempre preferiam os clássicos. Nada contra eles, mas por que se limitar, né?”, conta Pedro, com a mesma empolgação de menino ao ganhar novos jogos.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Como diz o ditado, quem vê close não vê corre, quem acompanha o Instagram da Balboas hoje e vê um Pedro desenrolado, que saca tudo desse universo e parece ter grande afinidade com as redes sociais, nem imagina o menino tímido que Pedro um dia foi. Mas essa também foi uma característica que ajudou o “empreendedor da diversão” no seu negócio: “eu sempre fui muito tímido e introspectivo, e esse ramo contempla muito um público como eu, que é mais caseiro”. E na pandemia, gente caseira foi o que não faltou para incrementar as vendas da luderia. “A pandemia foi um susto enorme, pois pensávamos que era o fim: a presença física é importante para os jogos e a pandemia nos tirou esse contato. Felizmente, o mercado de aluguéis de jogos aumentou muito também. Entendemos depois que o contato não deixa de existir, ele só mudou de lugar. Felizmente conseguimos nos adaptar rapidamente”. Hoje num espaço maior, a luderia conta com um acervo de mais de 800 jogos: “as vezes eu nem acredito que meu próprio acervo é desse tamanho. Sonho em chegar nos 1000. Aí eu paro (só que não)”, diz sorrindo.
Em luderias como a Balboas, os jogos de tabuleiro extrapolam para além dos simples clássicos. Quem adentra as portas desses empreendimentos, dificilmente não serão fisgados pelo gostinho de uma partida em família ou com amigos. Estes espaços dispõem de opções que agradam um público cada vez mais variado: “quando abri, eu pensei que só atrairia o público nerd e masculino, e eu, felizmente, estava redondamente enganado! Claro que o público nerd é uma parcela significativa, mas poucos ramos tem uma clientela tão variada quanto a nossa: homens, mulheres, pais e mães que gostam de se divertir com os filhos, até pessoas de 60+ não são raras procurando um passatempo bom indo além do carteado. Ter temas e jogos variados também contempla públicos variados. Raro mesmo é alguém vir jogar e não gostar de nada. Todos sempre saem apaixonados por algum jogo”, relata o dono da Balboas.
Sansão Oliveira, 39, faz parte desse público “jogante” e ao longo de 5 anos acumula um acervo de 160 jogos, um investimento de mais de R$15 mil reais, que segundo ele, vale cada centavo: “Há duas coisas fantásticas que os jogos proporcionam. Uma ficou mais evidente com a maturidade, que foi a capacidade de reunir família e amigos em torno de uma mesa e desfrutar momentos incríveis de entretenimento e interação social. E a outra, por conta das tecnologias que fazemos uso, principalmente para as crianças e adolescentes, é de nos desconectar dos celulares, TVs, tablets, etc”, defende. Para o servidor público e fã de carterinha dos board games, seja na infância ou na vida adulta cada jogo é um novo desafio e cada partida é uma nova maneira de superar esse desafio: “Essas partidas são apresentadas através de uma enorme variedade e estilos de jogos, são jogos estratégicos que exigem bastante planejamento a longo prazo, jogos táticos onde as ações têm resultados imediatos. Jogos de destreza que exigem habilidades com as mãos e às vezes até com o corpo todo. Além desses, podemos citar os jogos de blefe onde há bastante interação entre os jogadores, jogos abstratos tipo dama, mas com uma outra pegada. Tem até jogos cooperativos onde todos se unem para ganhar do jogo, que não é nada fácil”, explica como bom entendedor do assunto.
E pelo que estimam especialistas no seguimento, este é um setor em constante expansão. Segundo a empresa de pesquisas Grand View Research, a indústria de jogos de tabuleiro lança 5 mil títulos por ano, e seu valor deve chegar a US$21,5 bilhões em 2025. É uma potência – dentro e fora das caixas. Esse mercado é antigo na Alemanha, mas só a partir dos anos 2000 é que ele começou a ser forte nos Estados Unidos e em 2010 começou a se desenvolver também no Brasil: “o que permitiu isso foram as editoras que foram aparecendo e as luderias que também foram espalhando a palavra, digamos assim. Certamente há desafios com a pandemia e a crise, mas é inegável que há sim uma cultura de board games em pleno desenvolvimento no mundo. O board game moderno hoje é um habitante natural dos lares”, enfatiza Pedro, que ainda hoje tem o mesmo olhar apaixonado de menino pelo universo dos board games.