Entre a linha e a arte: o trabalho das rendeiras no Ceará
As rendas estão presentes no cotidiano e nas paisagens cearenses e representam a cultura e as tradições do Estado
Por entre almofadas, bilros e agulhas, as rendeiras cearenses transformam o cotidiano em arte e história. O saber, normalmente passado de geração em geração, preserva técnicas ancestrais e carrega a memória de um povo, unindo tradição e resistência.
Desde a renda de bilro no Aquiraz, do filé em Jaguaribe, até o labirinto de Aracati, por exemplo, a prática artesanal rodeia o Ceará, que carrega em si técnicas e saberes que, segundo a cronista do O POVO e jornalista especializada em patrimônio cultural, Izabel Rosa Gurgel, “nos antecedem em milênios”.
Essas práticas, para Izabel, “estão na paisagem que nos constitui, muito embora a gente não perceba” e são muito mais que um ofício manual. Elas partem do criar, e ocorrem a partir de “uma afirmação da prática cotidiana e da aplicação rigorosa ao que se faz em meio à desafios”.
Desse modo as peças representam, conforme a jornalista, costumes, histórias, desafios e conquistas das rendeiras. Embora sigam padrões, as peças ainda carregam a assinatura de quem a tece.
“É como uma caligrafia. O alfabeto é o mesmo, mas cada letra, cada ponto, tem a ‘assinatura’ de quem fez, ainda que nós, leigos no ofício, não possamos reconhecer”, explica.
Renda como fonte para as famílias cearenses
Essa produção, além de símbolo de identidade cultural, se tornou também uma fonte de sustento. Em casas, feiras e exposições, a venda dessas peças, produzidas por mulheres, atravessou gerações como apoio financeiro.
“Em Canoa Quebrada, no litoral de Aracati, as rendeiras são labirinteiras. Era o ofício das mulheres do lugar, que faziam o labirinto enquanto cuidavam da casa, das crianças, do alimento e da saúde de todos. Se havia seca no mar, período que a pesca não rendia, o labirinto seguia o ano inteiro”, destaca.
Hoje, organizadas em associações e com o apoio, por exemplo, da Central de Artesanato do Ceará (Ceart), da Secretaria de Proteção Social (SPS) e do projeto Renda Gera Renda, da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), mulheres e a renda ganham força no turismo e na economia do Estado, por meio de ações que impulsionam a venda das peças e a capacitação das profissionais.
Renda de bilro de Aquiraz conquista Indicação Geográfica
As rendas de bilro produzidas em Aquiraz receberam o registro de Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP).
O título, divulgado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) em setembro, “atua como um selo de autenticidade, reconhecendo a tradição secular do município e abrindo novas oportunidades de mercado”, de acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), autarquia federal responsável pela concessão Por entre almofadas, bilros e agulhas, as rendeiras cearenses transformam o cotidiano em arte e história. O saber, normalmente passado de geração em geração, preserva técnicas ancestrais e carrega a memória de um povo, unindo tradição e resistência.
Desde a renda de bilro no Aquiraz, do filé em Jaguaribe, até o labirinto de Aracati, por exemplo, a prática artesanal rodeia o Ceará, que carrega em si técnicas e saberes que, segundo a cronista do O POVO e jornalista especializada em patrimônio cultural, Izabel Rosa Gurgel, “nos antecedem em milênios”.
Essas práticas, para Izabel, “estão na paisagem que nos constitui, muito embora a gente não perceba” e são muito mais que um ofício manual. Elas partem do criar, e ocorrem a partir de “uma afirmação da prática cotidiana e da aplicação rigorosa ao que se faz em meio a desafios”.
Com a IG, serão ampliadas as oportunidades de geração de renda e a preservação do saber-fazer artesanal. Além disso, a cidade será projetada no cenário nacional e internacional como destino de relevância cultural e turística do Brasil.
A produção da renda de bilro em Aquiraz é uma tradição consolidada. A prática, conhecida localmente como “renda da terra”, é antiga no município. Ela é reconhecida a partir de espaços como o Centro das Rendeiras da Prainha e o Centro das Rendeiras de Iguape, e da exposição e participação em feiras de diversas cidades dentro e fora do País.
Sobre o projeto
O “Cultura em Movimento: Ceará que cria, celebra e contagia” é um projeto do Grupo de Comunicação O POVO com apoio do Governo do Ceará. A proposta é fortalecer o ecossistema cultural e estimular sentimento de pertença do povo cearense. Nesta edição, o projeto passeará, de forma multifacetada, por produções culturais em quatro linguagens artísticas, a saber: audiovisual, arte popular, artes plásticas e música.
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