Moisés Loureiro: aprendizados, referências e mudanças no humor
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Moisés Loureiro: aprendizados, referências e mudanças no humor

Cearense conquistou reconhecimento nacional ao vencer quadro de humor no Domingão do Faustão

Desde sempre, Moisés Loureiro cultivou um olhar bem-humorado sobre o cotidiano, olhando para o mundo com humor. Com o tempo, o humor deixou de ser apenas uma perspectiva sobre a vida e passou a ocupar um lugar central em sua vida. Hoje, ele atua como ator, diretor, humorista, publicitário e roteirista de rádio, TV, cinema e teatro. Para ele, o humor é uma ferramenta crucial para a resistência política.

O cearense conquistou o reconhecimento nacional ao vencer o quadro de humor “Quem Chega Lá”, no Domingão do Faustão, em 2017. Em 2022, estreou como ator na teledramaturgia da TV Globo com o especial “200 Anos de Independência” e lançou seu primeiro especial de comédia nas plataformas digitais, intitulado Moisés Loureiro – Volume 1. Ele também assina o roteiro do show Isso Não é um Culto, de Whindersson Nunes, disponível na Netflix.

“Mas eu não escolhi o humor, o humor me sequestrou de uma forma muito natural e pouco planejada. Eu vinha do teatro e da comunicação, em algum momento percebi que o humor era a lente que eu mais usava pra olhar o mundo. Decidir trabalhar com isso foi quase uma consequência: eu já tava nesse caminho de achar graça em tudo, aí não teve mais volta”, conta.

As referências de Moisés são intensamente ligadas ao Nordeste. Ele cita Ariano Suassuna, Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante. “Mas também gente da minha geração e da cena atual, que mistura humor popular com inteligência e crítica social”, diz.

“Fora isso, eu me alimento muito da literatura, da música, das feiras, do povo. Acho que humorista bom é aquele que nunca perde a escuta. Resumindo: Chico Anysio é a bíblia, Suassuna é o evangelho, e o povo da rua é o café com Deus pai”, compara.

Análise

Moisés avalia que, nas últimas décadas, houve um deslocamento: o palco do teatro e dos programas de TV se abriu para as redes sociais. Segundo ele, a mudança democratizou o cenário, mas também “bagunçou o jogo”.

“Hoje, você pode nascer no Instagram e se tornar fenômeno sem nunca ter pisado num palco. Isso é bom porque abre portas, mas ao mesmo tempo pode tirar a profundidade. O desafio da minha geração é equilibrar isso: dialogar com o digital, mas sem perder a raiz da cena, da cultura popular, do improviso e da presença”, avalia.

Para o humorista, o humor é, principalmente, uma ferramenta de resistência política. Mas também é essencial para as relações políticas. “O humor revela a verdade, o humor entrega quem são os poderosos, deixa claro, deixa desnudo. É fundamental para que a gente entenda a política, viva a política, que a gente tenha humor de olho, colocando uma lente de aumento ali em tudo que acontece, sem pudor para lidar com poderosos”, reflete.

Limites

Tema alvo de discussões atualmente é o limite para o humor. Para ele, piadas com teor machista, racista e homofóbico, por exemplo, não têm espaço.

“Antigamente, se normalizava porque não tinha debate. Hoje, tem, e quem insiste nesse tipo de “piada” tá escolhendo ser violento. Humor não é passe livre pra desrespeitar ninguém. Dá pra ser engraçado sem precisar diminuir o outro. E mais: o humor tem um papel importante de questionar justamente esses preconceitos. Quem insiste nisso tá sendo preconceituoso ou preguiçoso”, defende.

Ele compartilha, inclusive, que já se arrependeu de piadas que contou. E que é importante aprender com as experiências. “A gente vai crescendo, vai estudando, vai lendo, vai entendendo o mundo e vai percebendo que muitos pensamentos que a gente tinha eram pensamentos retrógrados, preconceituosos, tortos, errados. E aí a gente vai se adequando, inclusive rindo da gente também, né? Rindo do preconceito que outrora tivemos. E é constante essa evolução.”

Cearense é mais exigente para rir

Na experiência de Moisés, o público cearense é um público mais exigente, porque “tem o humor no seu dia a dia, na sua cultura, na sua identidade, na sua forma de enxergar o mundo”. Por isso, na perspectiva dele, é mais difícil arrancar risadas.

“Eu fazendo o mesmo show em São Paulo, é muito impressionante a diferença. Assim, a sensação é que em São Paulo eles riem de qualquer coisa, qualquer mínima coisa eles estão morrendo de achar graça. E aqui não, aqui o público é mais criterioso. Aqui pro pessoal rir é um negócio”, exemplifica.

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