Música para jogos: mercado em expansão no Ceará
Com poucos profissionais e alta demanda, a música para jogos surge como caminho promissor no Ceará. Profissionais locais exploram o potencial do setor
Em 2023, pela primeira vez, o setor de games ultrapassou a marca dos 3,3 bilhões de jogadores – quase metade da população mundial – com um faturamento de 188 bilhões de dólares. O Ceará tem perspectivas promissoras de se estabelecer no setor, com a música para jogos sendo uma das oportunidades de entrada neste segmento.
Das telas às trilhas
O músico Ednar Pinho descobriu cedo seu interesse por trilha sonora. “Quando criança, vi 'O Rei Leão' no cinema e não conseguia parar de falar sobre a trilha sonora do filme. Desde então percebi que queria trabalhar com isso”, lembra.
Ednar inspirava-se em nomes como John Williams (Jurassic Park) e Hans Zimmer (O Rei Leão). Na faculdade, já era fã de Nobuo Uematsu (Final Fantasy) e outros compositores de RPG. Durante a pandemia, conheceu a Game Audio Academy, do músico e compositor Thiago Adamo, e passou a enxergar novas possibilidades no universo do game audio, ou seja, tanto a trilha quanto os efeitos sonoros.
“Estudar a implementação através de MIDI e os softwares que fazem essa ligação entre o áudio e a programação do jogo me abriu muitas possibilidades. Percebi que o mercado de trabalho de game audio era mais acessível que o do cinema”, afirma.
Hoje, Ednar atua em estúdios de Fortaleza, como Deep One e Phantom Nebula, e também trabalha com empresas de fora do Brasil, como a londrina Galen Games. Para ele, o diferencial do áudio em jogos está na interatividade: “No cinema, a música é linear. Já no jogo, ela se adapta ao que o jogador faz. É o que a gente chama de áudio dinâmico. Eu acho isso genial”.
Identidade com potencial global
Segundo Daniel Goularte, CEO do Instituto Bojogá e presidente da IGDA, a música nos games vai além da trilha sonora: inclui efeitos sonoros, sons de interface, ambientes, temas de personagens e até mesmo a música de abertura do jogo.
“Há poucos profissionais na área de música para jogos, mas todos os jogos precisam desse profissional, pois se trata de uma mídia audiovisual. Então, quem desenvolve um ambiente sonoro diferente, que pode até envolver um pouco da cultura do Ceará, que vai do hip hop à música tradicional, do rock à música eletrônica, tem condição de mostrar esse portfólio para os desenvolvedores de jogos.”, avalia.
Hoje, muitos desenvolvedores recorrem a bancos de áudio prontos ou geram áudio através de inteligência artificial. Mas Goularte destaca o potencial de criação da cena cearense, que ganha força com o Progames CE, plano setorial pioneiro no Brasil e voltado para o desenvolvimento e a sustentabilidade da indústria de jogos do Ceará.
“Estamos construindo nossa própria identidade, nossa própria vitrine. Os games do Ceará têm condições de oferecer um material novo e diferente”, reforça e destaca também que a demanda é crescente, desde os jogos mais simples aos mais complexos, e com potencial para ganhar projeção mundial, como é o mercado da música hoje, que tem as plataformas e seus próprios marketplaces.
Oportunidades de formação
Apesar de não haver graduações específicas em música para jogos no Ceará, o setor se apoia em cursos profissionalizantes e oficinas. Tanto Ednar quanto Goularte destacam a importância de formações independentes, como a comunidade da IGDA (International Game Developer Association) no Discord e os debates e oficinas promovidos por ela juntamente com a Ascende (Associação Cearense de Desenvolvedores de Jogos) e o Instituto Bojogá.
Também há as jams, onde Ednar conta que conseguiu seus primeiros trabalhos. São eventos em que, a partir de um tema, várias pessoas se reúnem e fazem pequenos grupos criando jogos em uma semana, dois dias ou quinze dias, por exemplo.
Para quem deseja entrar na área, Ednar sugere: “Se você é produtor musical ou músico, pode migrar para trilha de jogos. Precisa entender como a música se conecta à programação, buscar cursos, workshops e, de preferência, falar inglês para ser possível trabalhar com empresas de fora”.
Perspectivas
Com uma demanda crescente e um espaço ainda pouco ocupado no Ceará, a música para jogos se apresenta como caminho possível tanto para jovens músicos quanto para profissionais experientes do audiovisual. Como resume Daniel Goularte:
“É um campo muito amplo, mas é um campo novo. Músicos que desejam entrar nesse mundo digital podem entrar em contato com a gente através das nossas redes sociais e construir contatos profissionais para que esse setor nos dê cada vez mais possibilidades de construir riqueza para o nosso estado”.
Links:
IGDA (comunidade)
https://discord.gg/2AENWwQ7VW
Ascende
https://ascendejogos.org
Instituto Bojogá
https://bojoga.com.br