Dólar avança 2,89% em dezembro, mas fecha o ano com desvalorização de 11%
Após dois pregões consecutivos de alta, em que se aproximou do nível de R$ 5,60, o dólar encerrou a sessão desta terça-feira, 30, em queda firme, abaixo da linha de R$ 5,50 pela primeira vez desde meados de dezembro. Questões técnicas típicas de fim de ano, como a disputa das tesourarias pela formação da taxa Ptax de fim de mês, e o ambiente externo favorável a divisas emergentes abriram espaço para recuperação do real.
Segundo operadores, em meio à liquidez bem reduzida, não houve demanda por moeda à vista como a observada nos últimos dias, quando foi identificado movimento de remessas de lucros e dividendos ao exterior. A avaliação é que as pressões sobre o real vindas da sazonalidade negativa do fluxo cambial ficaram para trás.
Com mínima de R$ 5,4840, à tarde, o dólar à vista terminou o dia em queda de 1,43%, cotado a R$ 5,4890 - menor valor de fechamento desde o último dia 16 (R$ 5,4630). A divisa fecha dezembro com valorização de 2,89%, atribuída ao fluxo negativo e ao aumento dos prêmios de risco após o anúncio, no início do mês, da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto.
"A liquidez hoje foi bem reduzida com a proximidade do feriado de fim de ano, o que sempre provoca distorções. Vimos uma movimentação maior de tesourarias 'vendidas' em dólar para tentar reduzir a taxa Ptax do mês, o que acabou levando a uma queda maior do câmbio", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni.
Após subir 27,34% em 2024, ano marcado pela maior intervenção histórica do Banco Central no mercado de câmbio, o dólar à vista encerra 2025 com desvalorização de 11,18%. A apreciação do real teria sido motivada pelo enfraquecimento global da moeda americana e pela atratividade das operações de carry trade, na esteira da elevação da taxa Selic, que atingiu 15% em junho. Com as perdas em dezembro, contudo, o real terminou o ano com desempenho inferior a de pares como os pesos mexicano e colombiano.
Velloni, da Frente Corretora, observa que dados da Pnad Contínua e do Caged referentes a novembro divulgados hoje mostram que o mercado de trabalho segue forte, o que aumenta as chances de que o Comitê de Política Monetária (Copom) opte por iniciar um ciclo de cortes da taxa Selic apenas em março e de maneira bem moderada.
"A perspectiva é de que vamos ter um diferencial de juros ainda muito atraente ao longo do primeiro semestre, o que pode trazer fluxo de curto prazo para o Brasil", afirma Velloni, ressaltando, contudo, que o quadro fiscal e as eleições tendem a jogar contra o real ao longo de 2026. "A questão fiscal ainda está indefinida, vamos terminar o ano com déficit primário e a perspectiva é sempre de aumento de gastos em ano eleitoral".
Pela manhã, o IBGE informou que a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua caiu de 5,4% no trimestre encerrado em outubro para 5,2% em novembro, mínima da série histórica, iniciada em 2012. À tarde, o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou que houve criação líquida de 85.864 vagas formais, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado ficou acima da mediana do Projeções Broadcast, de 79.120 novas vagas.
Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes - operou em leve alta ao longo do dia e subia cerca de 0,20% no fim da tarde, na casa dos 98,240 pontos, após mínima aos 97,939 pontos. Com recuo de mais de 1% em dezembro, o Dollar Index termina o ano com perdas ao redor de 9,50%. A política econômica errática da administração Donald Trump, com destaque para a guerra tarifária, teria sido responsável por drenar a força da divisa americana.
Divulgada à tarde, a ata do encontro de política monetária do Federal Reserve no início do mês, quando a taxa básica de juros americana foi reduzida em 25 pontos-base, em decisão dividida, jogou o DXY um pouco mais para cima. O documento revela que ainda há dúvidas entre integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) sobre a condução da política monetária, embora a maioria considere que um alívio adicional pode ser apropriado se a inflação desacelerar.
Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente