Dólar dispara e supera R$ 5,40 com Flávio Bolsonaro na corrida ao Planalto
O dólar disparou ao longo da tarde desta sexta-feira, 05, e fechou nos maiores níveis desde meados de outubro em meio à informação de que o senador Flávio Bolsonaro será o candidato do PL à presidência da República nas eleições de 2026. A avaliação preliminar de analistas ouvidos pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, é a de que a entrada de Flávio no pleito aumenta a possibilidade de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - o que reduz as chances de guinada na política fiscal a partir de 2027 e, por tabela, provoca realinhamento dos prêmio de risco.
Com máxima de R$ 5,4840, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 2,29%, maior valor de fechamento desde 16 de outubro (R$ 5,4431). A divisa termina a primeira semana de dezembro com ganhos de 1,82%, após recuo de 0,85% em novembro. No ano, as perdas da moeda americana em relação ao real, que superavam ontem 14%, agora são de 12,11%.
O economista Rafael Prado, da GO Associados, afirma que a disparada do dólar sugere um desmonte do chamado "trade Tarcísio", em referência à aposta de boa parte dos investidores de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, seria o nome da oposição na corrida presidencial.
"A percepção é que Flávio é um nome que puxa a oposição para um espectro mais à direita e não vai conseguir ter o respaldo do Centrão para as eleições, o que fortalece o atual presidente", afirma Prado. "Parece que temos um desmonte do 'trade Tarcísio', o que traz um choque temporário no câmbio. Devemos ver alguma reversão nos próximos dias. O ambiente externo ainda é favorável para divisas emergentes como o real".
O dólar já vinha em alta no fim da manhã, mas operava abaixo da linha de R$ 5,40, na esteira de relatos de saída de recursos do país, com as tradicionais remessas de lucros e dividendos ao exterior em fim de ano, e de ajustes técnicos após três pregões seguidos de baixa da moeda americana. Lá fora, as divisas emergentes latino-americanas, à exceção do peso mexicano, apresentavam leve recuo em relação à moeda americana.
A escalada do câmbio começou por volta das 13h com notícia do site "Metrópoles" dando conta de que o ex-presidente Jair Bolsonaro havia escolhido Flávio, apelidado de 01 por ser seu filho mais velho, como candidato ao Planalto. Novas ondas de valorização da moeda americana ocorreram à medida que informações confirmavam a notícia inicial. Caciques do PL vieram a público endossar o nome de Flávio. Em seguida, o próprio senador, em publicação na rede social X, afirmou ser a escolha de seu pai para o pleito presidencial.
Para o economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, a candidatura de um nome da família Bolsonaro, dado o desgaste da imagem do ex-presidente, preso por tentativa de golpe de Estado, diminui a possibilidade de vitória da direita na eleição presidencial de 2026.
"O nome de Tarcísio já vinha sendo ventilado com mais força na direta e parecia ter apoio de outros governadores de oposição. Seria o candidato com chances maiores de vencer Lula", afirma Galhardo. "A alta de mais de 2% do dólar talvez já seja o mercado precificando uma eventual reeleição do atual presidente".
O economista vê uma reação desproporcional dos investidores ao aumento de chances de continuidade do governo do PT, uma vez que o debate sobre uma reforma fiscal, com revisão de gastos previdenciários e ajuste mais forte pelo lado das despesas, vai se impor independentemente de quem ganhar as eleições.
"A reação dos mercados é justificada, mas há um exagero. Ainda que um nome como Tarcísio vença as eleições, a reforma fiscal não é tarefa fácil e exigirá uma força política que talvez os quadros políticos mais à direita não tenham", afirma Galhardo.
Lá fora, índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes - operava em ligeira alta no fim da tarde, no limiar dos 99,000 pontos. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) - medida de inflação preferida pelo Federal Reserve - subiu 0,3% em setembro, ligeiramente acima do previsto (0,2%). A leitura anual e a variação dos núcleos vieram em linha com as expectativas.
Último índice de inflação relevante divulgado antes do encontro de política monetária do Fed, na próxima quarta-feira, 10, o PCE não abalou as apostas em corte de 25 pontos-base na taxa básica americana, que superam 90%, segundo ferramenta do CME Group.