Ceará fica de fora do leilão de energia, mas deve ser beneficiado pelo RN, diz governo

A esperança é que o próximo leilão, em 2026, deva incluir três estruturas no Ceará, permitindo atender até 3 gigawatts (GW) de carga adicional

13:56 | Out. 31, 2025

Por: Beatriz Cavalcante
SETOR pleiteia melhoria do sistema de transmissão nacional para acabar com cortes de energia (foto: Beth Santos/Secretaria-Geral da PR)

O Ceará ficou de fora do leilão de energia realizado nesta sexta-feira, 31 de outubro. Porém, segundo o governo estadual, o Estado será beneficiado com a instalação de três compensadores síncronos no Rio Grande do Norte. Isso porque, apesar de estar apenas neste estado, os equipamentos vão ajudar a equilibrar a energia do Nordeste.

Como não foi contemplado no edital de Transmissão n.º4/2025, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelo Ministério de Minas e Energia (MME), na sede da B3, em São Paulo, a esperança do Executivo é que o próximo leilão, previsto para 2026, deva incluir mais cinco equipamentos do tipo.

O pleito do Poder Público é por ter três compensadores síncronos em território cearense, permitindo atender até 3 gigawatts (GW) de carga adicional, suprindo, por exemplo, a expansão de energia para novos investimentos.

As regiões de instalação previstas pelo governo estadual consistem em duas para Morada Nova e uma para Quixadá. 

Em relação a expectativas de o Ceará entrar em próximos leilões, a Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra) informa ao O POVO que ter as linhas de transmissão de fato, e não apenas os compensadores, depende do planejamento conduzido pelo MME, em conjunto com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

“As novas Linhas de Transmissão estão em fase de estudos, e o Governo do Ceará, por meio da Seinfra, mantém diálogo permanente com o Governo Federal. O governador Elmano de Freitas tem se reunido com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em busca da ampliação da rede de transmissão e da inclusão de novos projetos estratégicos para o Ceará”, frisou a Secretaria, em nota.

A ideia é ter aporte para expandir a vinda de novas empresas e evitar os famosos curtailments. Estes consistem nos cortes de energia que companhias de geração renovável são obrigadas a realizar, gerando prejuízos ao setor, sobretudo do Nordeste.

Porém, as interrupções são consideradas necessárias para evitar apagões no Brasil, como o que ocorreu em agosto de 2023, devido às cargas excessivas das renováveis geradas pelas empresas na região nordestina. 

No Brasil, o que se teve de resultado do leilão é que todos os sete lotes foram arrematados, e com descontos. A iniciativa atraiu R$ 5,53 bilhões em investimentos na infraestrutura de transmissão de energia elétrica nacional.

“Licitações como essa trazem previsibilidade e segurança para os investidores e busca de serviço adequado e de economia para os consumidores com os deságios alcançados”, disse o diretor da Aneel, Fernando Mosna.

O certame se destina à construção e manutenção de 1.081 quilômetros (km) em linhas de transmissão e seccionamentos e de 2.000 megawatts (MW) em capacidade de transformação, além de sete compensações síncronas.

Os empreendimentos se localizam em 12 estados: Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo.

O prazo para conclusão das obras varia de 42 a 60 meses, dependendo da complexidade da construção. A expectativa é de que sejam criados mais de13 mil empregos diretos e indiretos.

Entenda o que é o compensador síncrono

O compensador síncrono tem o papel de fazer regulações de tensão e de potência dentro de uma subestação.

Ou seja, a depender da demanda no momento, ele pode absorver ou fornecer potência reativa ao sistema.

Assim, estados que geram energia renovável, por exemplo, apresentando muita oscilação, o que pode prejudicar o Sistema Interligado Nacional (SIN), têm no compensador a vantagem de regular os níveis de tensão.

O material pode tanto absorver a energia advinda do SIN, quanto no horário de pico atuar de maneira a fornecer mais energia reativa, suprindo a necessidade do sistema. 

Especialista destaca necessidade de novas linhas de transmissão

A diretora da Energo Soluções em Energias, Marília Brilhante, avalia que a construção de novas linhas de transmissão é essencial para resolver as restrições atuais na geração e no transporte de energia.

Conforme ela, o alívio proporcionado pelos compensadores instalados no Rio Grande do Norte representa um avanço para o subsistema Nordeste, mas ainda é necessário ampliar a capacidade de escoamento.

Marília ressalta que o próximo leilão de linhas de transmissão, previsto para 2026, será determinante para garantir o atendimento à demanda futura.

“A capacidade de 3 GW não será suficiente para suprir as necessidades projetadas, considerando o crescimento de investimentos em hidrogênio verde, data centers e mineração de bitcoin até 2030”, afirmou.

Ela também pontuou a importância da aprovação da Medida Provisória (MP) 1.304, que prevê ressarcimento parcial em casos de cortes na geração de energia e concede isenção fiscal para sistemas de armazenamento, como baterias.

Para a especialista, essas medidas contribuem para amenizar as dificuldades enfrentadas pelo setor, mas a expansão da infraestrutura de transmissão continua sendo o principal desafio. (Mariah Salvatore/Especial para O POVO)

Cortes de energia ultrapassam R$ 5 bilhões 

Para se ter ideia, o desperdício de energia renovável no Brasil já ultrapassa R$ 5 bilhões, segundo o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Darlan Santos.

Os números mostram que o problema se concentra principalmente no Nordeste, responsável por mais de 70% das perdas registradas no País.

Dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), consolidados pela consultoria CarpeVie, parceira do Cerne, mostram que a Bahia lidera o ranking, com 35,14% dos cortes, seguida pelo Rio Grande do Norte (25,43%) e Minas Gerais (15,63%).

Outros estados nordestinos também aparecem entre os mais afetados: Piauí (9,42%), Ceará (7,58%), Pernambuco (3,03%), Paraíba (1,79%) e Maranhão (0,62%).

Conforme o estudo, os efeitos do curtailment se estendem para além da geração elétrica, atingindo também a indústria e o emprego.

“Por causa dos cortes, não se compram novos aerogeradores – o que afeta diretamente as fábricas desses equipamentos – nem se contratam financiamentos para novos projetos. No ano passado, uma das maiores fabricantes de aerogeradores do Ceará precisou demitir mais da metade do quadro de funcionários”, ressaltou Santos.

A interrupção de geração é para manter a estabilidade do SIN, por segurança sistêmica ou excesso de energia. O ONS ordena o desligamento ou redução das gerações renováveis, o que é conhecido por curtailment ou constreined-off, apenando sobretudo o segmento de eólicas e solar.

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