Pescados do Ceará serão taxados em 50% pelo governo de Donald Trump
Sindfrio confirmou que setor vai ser taxado em 50% e empresas calculam estoques para enviar ante do novo prazo para a entrada em vigor dos percentuais
17:51 | Jul. 30, 2025
Principal preocupação do governador Elmano de Freitas (PT) entre os setores alvo do tarifaço dos Estados Unidos, os pescados ficaram de fora da lista de 694 exceções e vão enfrentar uma tarifa de 50% a partir do próximo dia 6 de agosto.
A confirmação foi dada ao O POVO por Paulo Gonçalves, diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio).
Ele contou que as empresas do setor, agora, estão calculando quanto ainda possuem de estoque para enviar as cargas antes da entrada em vigor dos novos percentuais.
"Infelizmente, nenhum produto nosso entrou na lista de exceção. Estamos vendo o que é possível fazer para trabalhar", lamentou.
Impacto na cadeia produtiva do Ceará
Gonçalves comentou que o impacto deve se ampliar para pescadores artesanais e armadores, uma vez que todas as empresas que atuam no setor pesqueiro cearense usam dos serviços destes dois profissionais.
Na Compex/Gondomar, na qual ele é sócio-diretor, pouco mais de 300 barcos tinham a pesca adquirida.
Outros 500 barcos tinham a compra de lagosta garantida enquanto mais 80 deles tinham os atuns comprados.
A prática assegurava os envios mensais de cargas para os Estados Unidos, somando cerca de 110 toneladas a 115 toneladas a cada embarque.
"Com meus fornecedores a gente está ajustando para eles suspender as entregas por pelo momento, quem pode segurar segura, porque tem muito barco que veio quando a gente disse que ia suspender a compra", acrescentou.
Já conforme Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), o Ceará possui cerca de 6 mil barcos trabalhando para o segmento, com uma média de três pessoas atuando em cada embarcação.
Concorrência e mais mercados
Perguntado sobre a possibilidade de abrir novos mercados, ele falou que a concorrência para os peixes costeiros, pescados ao longo da costa dos países, é bem característica de cada região.
Além do mais, a concorrência é acirrada, tendo pesca indo para os Estados Unidos de empresários localizados desde a Guiana Francesa até a Flórida.
O pescado da Compex/Gondomar, conta o sócio-diretor, encontra clientes em todo o território americano e, no que diz respeito à lagosta, 15% do faturamento da venda do crustáceo está nos Estados Unidos.
Socorro do Governo do Ceará e do Governo Federal
Para o pescado, vale lembrar que o Governo Federal estuda subsidiar a produção de micro e pequenos empreendedores a vender no Brasil os produtos que iriam aos Estados Unidos ou incentivar o consumo interno, segundo Márcio França, ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Cita o caso dos pescados do Ceará, que, segundo ele, poderiam ser adquiridos e redirecionados para a rede pública de ensino.
“Estamos pensando em soluções para os bens perecíveis. Imagina o peixe, por exemplo. No Ceará, mais de 50% das exportações do Ceará de peixe vão para os Estados Unidos. Porque são peixes sofisticados. São atuns, lagostas, camarões. Então, esse tipo de produto é difícil você reencaixá-lo”.
Da parte do governo estadual, uma medida ventilada e revelada pelo presidente do Sindfrio é absorver o estoque remanescente dos produtos perecíveis ao programa estadual Ceará Sem Fome.
A possibilidade foi aventada por Elmano em mesa de encontros com empresários sobre o tarifaço, sobretudo ao setor de pescados, que, segundo dados do Observatório da Indústria, da Fiec, de tudo que exporta, 85,1% vai para os Estados Unidos.