Parecer técnico da UFC questiona EIA/Rima do projeto de Santa Quitéria

Parecer técnico da UFC questiona EIA/Rima do projeto de Santa Quitéria

A 1ª audiência do Projeto Santa Quitéria, que pretende explorar urânio e fosfato em Itataia, aconteceu nesta terça, 11; veja quais foram os riscos apontados no parecer

A primeira audiência pública sobre o Projeto Santa Quitéria ocorreu nesta terça-feira, 11 de março, no município de mesmo nome, no sertão cearense. O evento, promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), discutiu os impactos ambientais da exploração de urânio e fosfato na mina de Itataia.

Durante a audiência, um parecer técnico elaborado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) foi apresentado, destacando falhas e omissões no Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do empreendimento.

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O documento aponta problemas relacionados à emissão de contaminantes atmosféricos, inconsistências no diagnóstico da disponibilidade hídrica e omissões na avaliação dos impactos socioeconômicos na região.

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Parecer aponta riscos ambientais e sociais

De acordo com o parecer, elaborado por mais de 20 especialistas de diversas áreas, as lacunas nos estudos ambientais indicam um potencial de impactos de difícil controle, que podem violar a legislação ambiental brasileira. Entre os principais problemas identificados, destacam-se:

  • Falhas na análise da qualidade do ar e possíveis impactos na saúde da população;
  • Inconsistências no diagnóstico dos impactos sobre os recursos hídricos da região;
  • Omissões sobre os efeitos do empreendimento na fauna e flora local;
  • Falta de avaliação adequada dos impactos socioeconômicos para as comunidades afetadas.

O estudo foi coordenado pelas professoras Raquel Maria Rigotto e Maxmiria Holanda Batista, do Departamento de Saúde Comunitária da UFC, e pelos pesquisadores Rafael Dias de Melo e Lívia Alves Dias Ribeiro, do Núcleo Tramas Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.

Segundo a equipe, o parecer aprofunda temas críticos que já haviam sido questionados em tentativas anteriores do Consórcio Santa Quitéria para obter a licença prévia do empreendimento.

O documento foi solicitado por ministérios públicos e deve servir como subsídio para órgãos reguladores como Ibama, Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Ministério do Trabalho e Emprego e secretarias estaduais do Ceará.

Consórcio defende viabilidade do projeto

O POVO procurou o consórcio Santa Quitéria, formado pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a Galvani Fertilizantes, para se manifestar sobre o parecer. Em nota, foi informado que ainda não foi disponibilizado o acesso ao documento.

"De acordo com o rito do processo de Licenciamento Ambiental, o órgão ambiental ainda deverá analisar o parecer e encaminhar ao empreendedor para esclarecer os questionamentos ou detalhar informações, se julgar necessário. Tão tenhamos acesso aos estudos, também iremos nos manifestar", explicou.

Além disso, foi destacado o reconhecimento da importância deste momento para o processo de Licenciamento Ambiental e que, "o consórcio mantém constante comunicação com a comunidade por meio de uma equipe de relacionamento dedicada e dois escritórios locais (nos municípios de Itatira e Santa Quitéria)"

Durante a audiência, que se estendeu até o fim da noite, o gerente corporativo de Licenciamento, Meio Ambiente, Gestão Fundiária e Direitos Minerários do Consórcio Santa Quitéria, Christiano Brandão, defendeu a viabilidade do projeto. 

Ele explicou que o projeto não é comparável com outras iniciativas anteriores de mineração de urânio realizadas no País.

"Como esse projeto possui o urânio associado - o que o INB possui monopólio -, mas tem enorme porção de fosfato, foi necessário que a INB procurasse um parceiro especializado neste tipo de produto que é o fertilizante fosfatado. Então, foi feita uma concorrência pública e a Galvani por ter essa expertise nesta produção, de separar o fosfato de outros elementos, ganhamos essa concorrência e estamos preparando toda essa rota de separação para que tenhamos o fosfato limpo (para produção de fertilizantes) e o urânio limpo (para produção de energia nuclear limpa)", afirmou.

Segundo Brandão, o consórcio projeta o início das operações entre o fim de 2028 e o início de 2029, caso obtenha as licenças prévia e de instalação do Ibama. Ele destacou que a mineração pode gerar desenvolvimento econômico para a região e que o processo de aprovação junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear está em andamento.

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Próxima audiência será em Itatira

A segunda audiência pública sobre o Projeto Santa Quitéria está marcada para quinta-feira, 13 de março, às 14h, na Quadra de Eventos São Francisco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, no distrito de Lagoa do Mato, em Itatira. Além da audiência presencial, haverá um ponto de apoio e transmissão na Escola Municipal Coronel Artur Themoteo, na zona rural de Santa Quitéria.

O debate deve continuar com a participação de entidades públicas, sociedade civil e representantes do consórcio, refletindo os embates entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental no Ceará.

Histórico do Projeto Santa Quitéria

O Projeto Santa Quitéria é conduzido por um consórcio formado pela estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e pela empresa Galvani Fertilizantes. A mina de Itataia, localizada no município de Santa Quitéria, abriga a maior reserva não explorada de urânio do Brasil. A exploração da jazida está associada à produção de fosfato, utilizado na fabricação de fertilizantes.

Desde os anos 1970, tentativas de exploração foram barradas por critérios ambientais. A proposta atual do consórcio, reformulada desde 2020, prevê um investimento de R$ 3 bilhões ao longo de 20 anos, com a produção anual de mais de 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico para suplementação animal e 2,3 mil toneladas de concentrado de urânio (yellowcake).

Apesar do potencial econômico, o projeto enfrenta críticas, especialmente em relação ao consumo de água. A atividade exigiria cerca de 855 metros cúbicos de água por hora, o que tem gerado preocupação quanto ao impacto nos recursos hídricos locais.

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