Tarifa de Trump sobre o aço: entenda como o Ceará pode ser impactado
Exportações cearenses tendem a ser fortemente impactadas pelo aumento das tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano
20:25 | Fev. 10, 2025
Após o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, decretar que vai colocar tarifas de 25% sobre o aço e o alumínio que entrarem no País, o Ceará pode enfrentar um cenário ameaçador e ser um dos locais mais afetados pela medida, considerando que os EUA são o principal destino das suas exportações (46,4%), com destaque para o aço.
Dados do sistema aberto Comex Stat, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) do Governo Federal, mostram que, em 2024, o Ceará exportou US$ FOB 441,2 milhões em ferro fundido, ferro e aço aos EUA, mas faltam informações sobre os meses de outubro e de dezembro do ano passado na plataforma.
Os dados mais recentes do Ceará em Comex, produzido pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em outubro, indicam exportações cearenses de US$ 591,4 milhões aos Estados Unidos. No geral, ferro e aço exportaram US$ FOB 536,2 milhões no acumulado do ano, mas não houve detalhamento de quanto era a fatia dos EUA.
O POVO demandou o Mdic, a Fiec e o Instituto Aço Brasil para obter mais dados e entrevistas, bem como informações de quanto é o valor da tarifa cobrada em produtos de aço e alumínio brasileiros que vão hoje aos EUA. O órgão governamental disse que não comentará a medida até haver um decreto oficial norte-americano. Os outros não se pronunciaram.
Impacto da tarifa sobre o aço
No primeiro mandato de Trump, havia uma discussão para taxar em 25% o aço e em 10% o alumínio vindos de fora dos EUA, algo que não se concretizou na prática para o Brasil e outros países, que conseguiram uma espécie de isenção por meio de cotas. Especialistas comentaram que a alíquota depende de cada produto atualmente.
O especialista em comércio internacional, Augusto Fernandes, explicou que a primeira vez que os EUA usaram essa estratégia não havia tanta preocupação para inflação e preços, diferentemente do contexto atual. Se houver impactos das tarifas, toda a cadeia será afetada na sua visão, pois tudo está interligado.
“Um produto não é produzido isoladamente, e os países que se relacionam nesse setor estão conectados. Não posso estrangular um elo da cadeia sem comprometer o restante do processo produtivo. Tanto as importações americanas podem ser comprometidas quanto as exportações brasileiras”, prevê o especialista.
O diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico no Estado do Ceará (Simec), Ricardo Petral, acredita que o presidente norte-americano quer pressionar maior produção interna de aço e alumínio para não depender do mercado internacional. Todavia, ressalta que a indústria dos EUA precisa do exterior para concretizar projetos.
“Os Estados Unidos dependem do mercado externo. Se simplesmente sobretaxarem e encerrarem a importação, o que vai acontecer? Haverá pressão da indústria americana, e os preços internos vão subir. Sobretaxar uma caneta ou um automóvel é uma coisa. Sobretaxar matéria-prima é outra. O impacto é muito maior”, avaliou Ricardo.
A estratégia do governo norte-americano é forçar países como o Brasil a baixarem suas tarifas para que eles também reduzam as suas, de acordo com o economista e doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, Igor Lucena. “Foi isso que Trump afirmou na última reunião: ele vai trabalhar em cima da reciprocidade.”
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Guerra comercial
O Brasil pode optar por aumentar tarifas e entrar em um momento de guerra comercial com Trump ou pode ceder e baixar as tarifas, esperando que os EUA também reduzam as suas, conforme Igor, que também enxergou uma alternativa na busca por outros mercados consumidores para as exportações brasileiras e cearenses do aço e do alumínio.
De toda forma, Igor estima que a taxação vai impactar muito o Brasil, principalmente o Ceará. “Diferentemente da maioria dos estados do Nordeste, onde o principal parceiro comercial é a China, o principal parceiro comercial do Ceará são os Estados Unidos. Então, isso para a gente é mais sensível do que para outros estados”, ressaltou.
Os eventuais desafios vêm em um momento de baixa anual de 28,6% nas exportações cearenses para os EUA, segundo o último Ceará em Comex. Algo que Ricardo Portal, do Simec, enxerga como reflexo de um cenário de certa estagnação no mundo, mas essa mudança política nos Estados Unidos deve reaquecer o setor. (Com Agências)